Os combates na Síria começam a se encerrar também nas áreas onde envolviam diversos grupos. Isso porque na cidade de Manbij, quarta-feira (11/12), as Forças Democráticas Sírias (SDF) firmaram um cessar-fogo com os combatentes do Exército Nacional Sírio.
As Forças Democráticas Síria são lideradas pelas milicias curdas e apoiadas por Washington, enquanto o Exército está aliado a Turquia, que aglutina várias forças com o objetivo de expulsar o Estado Islâmico do país e impedir que os curdos unifiquem seus territórios.
“Nosso objetivo é chegar a um cessar-fogo na Síria toda e iniciar um processo político para o futuro do país”, disse o comandante das SDF, Mazloum Abdi.
Ele informou que os combatentes do SDF que integram o Conselho Militar de Manbij serão retirados o mais rápido possível.
O cessar-fogo foi mediado pelos Estados Unidos. Desde a queda de Bashar al-Assad, a Turquia vem bombardeando alvos curdos na Síria e os combatentes das forças estão perdendo terreno no país.
Na terça-feira (10/12), a coalizão que assumiu o governo do país, o Hayat Tahrir al-Sham (HTS), tomou dos turcos a cidade de Deir Ezzor, a sétima maior do país.
E, no início de dezembro, os combatentes pró-Turquia tomaram dos curdos o estratégico enclave de Tal Rifaat, no norte do país.
Aliados dos EUA recuam na Síria
Tal Rifaat e Manbij, de maioria árabe, eram duas das três áreas controladas pelos curdos no norte da Síria.
Para negociar o cessar-fogo, nos dias anteriores, o chefe do Comando Central dos EUA, general Michael Kurilla, visitou bases norte-americanas e parceiros da SDF na Síria.
O recuo dos aliados dos EUA no território sírio levanta dúvidas sobre como este país irá manter sua presença na Síria.
Segundo Charles Lister, diretor do programa da Síria no Instituto do Oriente Médio ouvido pelo The Guardian, “as tropas dos EUA só podem permanecer no terreno se seus parceiros da SDF forem viáveis”.
Autoridades norte-americanas vêm mantendo, inclusive, conversas extraoficiais com o HTS, que liderou a coalisão que tomou o poder na Síria.
Em princípio, Washington não poderia manter qualquer diálogo com o grupo porque a coalizão consta na lista internacional de terroristas.
Mas, EUA, Reino Unido e diversos países europeus já estudam tirar o HTS da lista.
No fim de semana, o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, escreveu em suas redes sociais que se opõe a qualquer envolvimento da Casa Branca na Síria.
“Os Estados Unidos não tem nada a ver com isso. Essa não é a nossa luta. Deixem acontecer, não se envolvam!”, escreveu ele.
Fim de prisões curdas pode libertar combatentes do EI
Mas o fim das prisões hoje administradas por curdos, onde estão detidos militantes do Estado Islâmico (EI), poderia representar um problema para Trump, caso isso trouxesse algum “ressurgimento do extremismo na Síria”.
Afinal, o Estado Islâmico já controlou 70% do território da Síria. Foram os combatentes das SDF, apoiados pelos Estados Unidos, que derrotaram o autodeclarado califado do EI, em 2019.
Os EUA mantém cerca de 900 soldados operando em parceria com as SDF no norte da Síria como uma das ações contra o EI.
No domingo (08/12), os EUA realizaram dezenas de ataques aéreos contra 75 alvos que seriam, segundo eles, do Estado Islâmico.
Em suas últimas semanas de mandato, o governo de Joe Biden tem dito genericamente que estaria disposto a reconhecer e apoiar um governo sírio “inclusivo”, que fosse representativo das várias forças e escolhido pelo povo sírio.
As bases russas na Síria
Outra dúvida se relaciona com o futuro das instalações militares russas, como a base aérea de Khmeimin, nas imediações de Latakia e a base naval de Tartus.
Até agora, nenhum deles foi atacado pelas forças que agora comandam o governo e a mídia estatal russa informou que eles haviam garantido a segurança de suas instalações.
Ao mesmo tempo, embora tenha dado asilo a Assad, Moscou se disse pronta a conversar com os novos líderes da Síria.
Representantes das nações do entorno e países do Golfo Árabe teriam se reunido com lideranças do HTS e era para os próximos dias que todos reconhecessem o governo de transição da Síria.
A expectativa é que o enviado especial da ONU para a Síria, Geir Pedersen, convoque em Genebra, no final desta semana, uma conferência internacional para discutir a situação do país.