EUA apoiaram iniciativa nuclear do Irã e agora querem destruir, diz embaixador
Abdollah Ghadirli falou que, após Revolução de 1979, Washington 'não deixou mais' país usar urânio para produção de medicamentos
O embaixador do Irã no Brasil, Abdollah Nekounam Ghadirli, reforçou nesta quinta-feira (26/06) que o programa nuclear do seu país é “pacífico”, recordando que os Estados Unidos apoiavam a iniciativa nuclear iraniana e, agora, querem destruir o programa.
O programa nuclear iraniano foi lançado na década de 1950, com ajuda dos Estados Unidos, como parte do programa “Átomos para a Paz”. Após a Revolução Islâmica de 1979, episódio que derrubou a monarquia autocrática pró-Ocidente liderada por Xá Mohammad Reza Pahlevi, Washington “não deixou mais que o Irã usasse seu urânio para produção de medicamentos”.
Ghadirli realizou nesta manhã uma coletiva em Brasília na qual Opera Mundi acompanhou. O diplomata afirmou que o país concluiu de forma “honrosa” toda a conquista, “por conta própria”, da tecnologia de seu programa nuclear.
“O que devemos fazer, uma nação com 7 mil anos de civilização, nos afastar de todos os nossos direitos nucleares segundo a Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP)?”, questionou o embaixador iraniano.
Após Israel atacar o território do Irã, o governo de Donald Trump bombardeou três instalações de processamento de urânio: Fordow, Natanz e Isfahan. Desde então, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), responsável por fiscalizar o TNP, está impedida de realizar inspeções no país.
“Um dos motivos dessa suspensão é a violação de nossa integridade territorial e da segurança de nossos cientistas”, explicou Ghadirli. Ao menos 14 cientistas do programa nuclear iraniano foram mortos nos ataques de Israel contra o país.
Segundo ele, o enriquecimento de urânio no país tem objetivo medicamentoso. O processo de enriquecimento é corriqueiramente utilizado para geração de energia nuclear e, quando atinge grau superior a 90%, pode ser usado para a construção de bombas atômicas.

Embaixador do Irã no Brasil repudiou ataques de Israel e EUA
As inspeções da AIEA não chegaram a identificar indícios de um “programa sistemático” de produção de armas atômicas. Ainda assim, chegou a afirmar que o país persa não estava cooperando com as obrigações de não proliferação do TNP.
“Todos os armamentos que resultaram massacre e assassinato de muitas pessoas não fazem parte da doutrinada do nosso governo e da nossa ideologia”, argumentou. Isso por que, há uma lei religiosa no país que estabelece uma “visão de princípio” sobre o uso das armas nucleares
Para Ghardili, a resposta aos ataques de Israel e dos Estados Unidos é uma “lição” ao regime sionista, para que “se arrependa” e que haja “mais paz e estabilidade” na região. “Se ficamos em silêncio diante dessas violações, os resultados no futuro não serão bons”.
BRICS
Ghadirli agradeceu ao Brasil por condenar os ataques de Israel e Estados Unidos contra Teerã, apontando que o objetivo do BRICS é “melhorar” a ordem internacional.
“O BRICS faz parte dessa organização mundial para melhorar a ordem junto de questões e sistemas internacionais”, declarou o embaixador Ghadirli, acrescentando que o bloco não pode ser reduzido a um emissor de “declarações conjuntas” entre países-membros, mas que a união de agendas entre países pode contribuir para mudanças na ordem mundial.
Atualmente o bloco é composto por 11 países – Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Irã, Arábia Saudita, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos e a Indonésia.
Questionando sobre a participação do presidente do Irã, Masoud Pezeshkian, na Cúpula do BRICS no Rio de Janeiro entre os dias 6 e e 7 de julho, ele afirmou que a informação ainda não é certa, mas está sendo planejada.
O governo brasileiro se manifestou sobre os ataques contra o território iraniano 10 dias após o início do conflito. “Qualquer ataque armado a instalações nucleares representa flagrante transgressão da Carta das Nações Unidas e das normas da Agência Internacional de Energia Atômica”, disse o Itamaraty em nota.