O governo norte-americano anunciou ter atacado neste domingo (08/12) 75 alvos na Síria que seriam redutos do Estado Islâmico, enquanto Israel anunciou ter bombardeado objetivos militares desse país que supostamente armazenariam armas químicas e mísseis de longo alcance.
Ambos alegaram que os ataques visam evitar que “forças hostis” se fortaleçam com o vazio de poder criado no país após a fuga do presidente Bashar al-Assad para a Rússia.
O ataque norte-americano foi feito com aviões de B-52, F-15 e A-10.
“Os grupos rebeldes que derrubaram o autocrata têm seu próprio histórico sombrio de terrorismo. Eles estão dizendo as coisas certas agora, mas à medida que assumem maiores responsabilidades, avaliaremos não apenas suas palavras, mas também suas ações”, disse o presidente dos EUA, Joe Biden.
Segundo ele, sua administração trabalha para garantir a estabilidade na Síria, uma vez que muitas forças, dentro e fora do país, procuram se aproveitar da situação.
O ministro das Relações Exteriores de Israel, Gideon Saar, disse que “o único objetivo que temos é a segurança de Israel e seus cidadãos”.
Ofensiva relâmpago
Em uma ofensiva relâmpago iniciada dia 27 de novembro, uma coalizão de grupos islamistas e pró-turcos tomou diversas cidades estratégicas do país até chegar, domingo, à capital Damasco, obrigando Assad a fugir para a Rússia, onde obteve asilo político.
A surpreendente reviravolta pôs fim, em 12 dias, à décadas de governo da família Al-Assad e a uma guerra civil que já durava 13 anos.
Os extremistas agora enfrentam a tarefa de unificar o país e descobrir como governá-lo.
Israel já deslocou suas tropas no domingo e estas seguem avançando para ocupar uma zona tampão das Colinas Golã e controlar as áreas da sua fronteira com a Síria.
No nordeste da Síria, as forças apoiadas pela Turquia lutam com as Forças Democráticas Sírias lideradas pelos curdos e apoiadas pelos EUA.
A administração Biden alega que mantém conversas com a Turquia para a resolução do conflito.
HTS pode deixar de ser terrorista para os EUA
O governo norte-americano diz estar em contato com todos os grupos que combatem na Síria, incluindo o maior grupo da coalizão que derrubou Assad, o Hayat Tahrir al-Sham (HTS), que já foi filiado à Al-Qaeda.
O HTS está na lista dos grupos considerados terroristas pelos EUA, mas o governo considera a possibilidade de retirar o grupo da lista para possibilitar contatos e cooperação mais estreita com aquele que é o principal grupo da coalização que assumiu o poder na Síria.
Para isso, Washington estaria avaliando quão independente o HTS é da Turquia e das posições turcas sobre os curdos sírios.
Biden está enviando funcionários do governo para os países do entorno da Síria, como Jordânia, Líbano e Iraque,
Os EUA já contavam com 900 soldados na Síria em “ações de contraterrorismo”.
Trump quer que EUA recuem na Síria
No sábado (07/12), o presidente eleito Donald Trump pediu que os EUA recuassem na Síria, afirmando que seu país não tem interesse direto no conflito.
Mas seu vice, J.D. Vance, manifestou preocupação com o fato de que muitos dos extremistas são uma ramificação do Estado Islâmico e que a queda de Assad pode abrir espaço para o ressurgimento do EI.
Na mesma direção, o general reformado Frank McKenzie, que liderou o Comando Central dos EUA durante a primeira administração Trump, disse que é preciso analisar bem os riscos de que a Síria possa se tornar ponto de apoio para extremistas que possam atacar os EUA e seus aliados.
“O EI lançou um ataque bem-sucedido contra a Rússia há apenas alguns meses”, lembrou McKenzie. Atualmente os EUA mantêm 900 soldados na Síria em “ações de contraterrorismo”.
O Ministério das Relações Exteriores da China pediu a restauração da estabilidade e a busca de uma “solução política”.
Já o porta-voz do governo japonês, Yoshimasa Hayashi, disse que Tóquio está acompanhando de perto a situação do país.
Exilados retornam
O conselho de Segurança das Nações Unidas deve se reunir mais tarde nesta segunda-feira (09/12), a pedido da Rússia, para discutir os acontecimentos na Síria.
A despeito das incertezas, correspondentes estrangeiros presentes na fronteira da Jordânia com a Síria relatam teres visto inúmeros ônibus cheios de sírios que retornam ao seu país depois da queda de Assad e muitos que atravessam a fronteira a pé.