Israel bombardeou em larga escala esta madrugada (10/12) diversas áreas da Síria, inclusive a capital Damasco, três grandes aeroportos e diversas infraestruturas militares estratégicas.
Ao mesmo tempo, o Exército israelense, que domingo (08/12) já havia ocupado a zona-tampão das Colinas de Golã, ampliou sua invasão ao território sírio chegando a cerca de 25 quilômetros de Damasco, segundo informaram fontes de segurança sírias à Reuters nesta terça-feira.
As tropas sionistas chegaram a Qatana, a 10 quilômetros em território sírio, a leste de uma zona desmilitarizada. Os bombardeios destruíram boa parte dos ativos do Exército sírio.
Ocupando área controlada pela ONU
No fim de semana, o Exército israelense já havia tomado a zona-tampão das Colinas de Golã. Esta é uma área desmilitarizada e patrulhada pela ONU do território sírio, que separa a parcela do país ocupada por Israel desde 1967 (a maior parte das Colinas) da Síria soberana.
A área ocupada foi formalmente anexada por Israel em 1981, sem o reconhecimento da ONU.
“As Colinas de Golã farão parte do Estado de Israel por toda a eternidade”, afirmou o primeiro ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, alimentando os temores de diversos países sobre as ambições expansionistas do Estado sionista.
Segundo ele, o controle das terras altas é essencial para garantir a segurança e soberania de Israel.
Leia também
Direto de Damasco: sírios vivem euforia pelo fim da guerra e do regime de Bashar Al-Assad
A ONU se pronunciou dizendo que a ocupação viola o acordo de 1974 que estabeleceu que não deveria haver forças ou atividades militares na área desmilitarizada de separação.
Egito, Catar e Arábia Saudita condenaram a invasão.
Protestos internacionais
Mesmo a Jordânia, que faz fronteira com o Golã e é parceira importante de Israel, condenou a ocupação da área tampão, classificando-a como uma “violação do direito internacional“.
Os Estados Unidos disseram esperar que seja uma ocupação temporária.
A Arábia Saudita foi mais violenta na crítica e classificou a ocupação de ato de “sabotagem“: “a tomada da zona-tampão nas Colinas de Golã (…) confirma a violação contínua de Israel das regras do direito internacional e sua determinação em sabotar as chances da síria restaurar sua segurança, estabilidade e integridade territorial“.
Fontes do Exército sírio disseram à Reuters que os ataques israelenses contra instalações militares e bases aéreas continuaram durante a noite em toda a Síria, destruindo dezenas de helicópteros e jatos, assim como instalações da Guarda Republicada em Damasco e imediações.
De acordo com o relato, não sobrou nada dos ativos do Exército sírio.
Israel promete continuar os ataques
Sediado no Reino Unido, o Observatório Sírio para os Direitos Humanos informou que, na noite anterior (do dia 08/12), a aviação sionista bombardeou também diversos pontos da costa e do sul da Síria.
Israel admitiu que seus ataques aéreos continuariam por dias, mas afirmou ao Conselho de Segurança da ONU que tratava-se de “medidas limitadas e temporárias“ para “sua segurança“ garantindo que “ estava intervindo no conflito da Síria“.
O objetivo, segundo o governo sionista, é impedir que armas caíssem nas mãos de grupos “que querem prejudicar Israel e seus cidadãos“.
“Atacamos sistemas de armas estratégicas, como as armas químicas restantes, mísseis e foguetes de longo alcance para impedir que caiam nas mãos de extremistas“, disse o ministro das Relações Exteriores de Israel Gideon Saar.
Conselho de Segurança da ONU paralisado
O Conselho de Segurança das Nações Unidas reuniu-se a portas fechadas na noite desta segunda-feira (09/12).
Seus membros que conversaram com a imprensa na saída disseram que todos foram pegos de surpresas pela queda repentina de Bashar al-Assad após 13 anos de guerra civil e que será preciso esperar para avaliar.
Estas foram as palavras do embaixador russo na ONU, Vassily Nebenzia, aos repórteres.
“Todos fomos pegos de surpresa, incluindo os membros do conselho. Então temos que esperar e ver e observar…e avaliar como a situação vai se desenvolver“.
Com Assad exilado na Rússia e Damasco ainda em clima festivo, o primeiro-ministro da Síria, Mohammed Jalali, concordou em passar o poder ao Governo da Salvação liderado pelos rebeldes e sediado em território controlado por eles no noroeste da Síria.
Organizando a transição
Os detalhes da transição foram discutidos em reunião entre Jalali, o vice-presidente sírio e o principal comandante rebelde Ahmed al-Sharaa, mais conhecido como Abu Mohammed al-Golani.
Segundo a emissora catari Al Jazeera, a autoridade de transição será chefiada por Mohammed al-Bashir, que liderou o Governo de Salvação.
A aliança rebelde ainda não informou sobre seus planos para o futuro da Síria nem sobre o modelo para a transição.
Apesar disso e dos bombardeios israelenses, milhares de exilados já estão empreendendo o caminho de volta para a Síria, congestionando dezenas de quilômetros de estradas, enquanto milhares de países europeus já suspenderam a concessão ou cancelaram as autorizações de residência para refugiados sírios.
Veja também | Para além de Aleppo: entenda a divisão de forças na Síria
Desde que começou, em 2011, a guerra civil na Síria matou centenas de milhares de pessoas e provocou uma das maiores crises de refugiados da atualidade, deixando o campo daquele despovoado, cidades reduzidas a escombros e uma economia devastada pela destruição e pelas sanções impostas por outros países.
Outras agressões à Síria
Além de Israel, outros países também estão aproveitando o vazio de poder na Síria para defender seus interesses na região.
Na fronteira norte com a Turquia, rebeldes apoiados por esse país lançaram uma ofensiva contra forças lideradas pelos curdos que recebem suporte dos EUA.
Ao mesmo tempo, os EUA fizeram dezenas de bombardeios por todo o deserto sírio, alegando estarem atacando alvos do Estado Islâmico. apoiadas pelos EUA na fronteira norte com a Turquia, e os EUA realizaram dezenas de ataques aéreos contra alvos do Estado Islâmico no deserto sírio.