O líder supremo do Irã, Ali Khamenei, disse nesta quarta-feira (11/12) que a queda do presidente Bashar al-Assad na Síria faz parte de um plano conjunto urdido entre os Estados Unidos e Israel.
Em seu primeiro pronunciamento após a queda do regime sírio, a máxima autoridade política e religiosa do Irã garantiu ter “provas dessa conspiração”.
Khamenei afirmou ainda que “um país vizinho da Síria jogou um papel evidente” nesses acontecimentos, em aparente referência à Turquia, que apoia parte das milícias envolvidas na ofensiva vitoriosa.
É de se observar que os novos líderes da Síria não fizeram nenhum comentário sobre a destruição de sua infraestrutura de defesa, nos últimos dias, por Israel e EUA.
O jornalista português José Goulão, especializado em Oriente Médio, acredita que a mudança de regime na Síria faz parte dos planos da OTAN para expandir o controle militar e econômico sionista na região, garantindo o saque de matérias primas.
Há anos, a Hayat Tahrir al-Sham (HTS), que nasceu de movimentos islâmicos como a Al Qaeda e o Estado Islâmico, e seus principais líderes vêm procurando moderar sua imagem internacional, o que alguns analistas, entretanto, enxergam com desconfiança.
Há quem creia que essa moderação poderia indicar um comprometimento maior que o esperado com os interesses dos Estados Unidos e aliados.
Israel diz ter destruído 80% da capacidade militar da Síria
O Exército de Israel afirma ter destruído mais de 80% da capacidade de defesa militar da Síria com 480 ataques aéreos realizados nas últimas 48 horas.
Segundo comunicado das Forças de Defesa do regime sionista, os bombardeios destruíram 15 navios de guerra nos portos de Al-Bayda e Latakia, helicópteros e hangares de bases militares.
Além disso, baterias antiaéreas, depósitos e fábricas de armamentos em ao menos cinco cidades e centros de pesquisa do programa de armas químicas também foram alvos dos bombardeios.
As tropas israelenses permanecem desde o final de semana na chamada zona-tampão do território sírio fronteiriço, desmilitarizada e controlada pelas forças da Organização das Nações Unidas (ONU) desde o fim da guerra árabe-israelense de 1973.
Israel admite ainda haver ocupado “alguns pontos adicionais” do território sírio, embora neguem as informações de que tenham se aproximado de Damasco ou que pretendam fazê-lo.
“Zona de defesa estéril”
A despeito da veemente condenação que a ocupação do território sírio recebeu da ONU e de países como Argélia, Emirados Árabes, Qatar e Irã, o ministro da Defesa de Tel Aviv, Israel Katz, afirmou que seu país pretende criar ali uma “zona de defesa estéril”, sem dar detalhes sobre o que caracterizaria essa área.
Mesmo com todas essas ingerências militares no país vizinho, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu garante que Israel não pretende interferir nos assuntos internos da Síria.
Segundo ele, a “zona de defesa estéril” não terá presença militar israelense permanente.
“Queremos relações com o novo regime da Síria”, disse Netanyahu, ressalvando, entretanto, que responderiam com força e cobrando um alto preço caso armas iranianas fossem transferidas através do país para o Hezbollah ou caso Israel fosse atacado.
Israel recebeu bem a queda de al-Assad, aliado do Irã, seu inimigo, mas ainda vê com cautela o grupo extremista que liderou a insurreição, a HTS.
Vida começa a voltar a normalidade
As forças que assumiram o poder buscam acalmar os temores internacionais. O líder do HTS, Abu Mohammed al-Jolani, também conhecido como Ahmed al-Sharaa, disse em entrevista à Sky News nessa terça-feira (10/12) que o país estava “exausto” da guerra e não voltaria a uma.
“A Síria será reconstruída. O país está caminhando em direção ao desenvolvimento e à reconstrução. Está caminhando para a estabilidade”, disse al-Jolani.
Na mesma linha, foram as declarações feitas pelo novo primeiro-ministro sírio, Mohammad al-Bashir, à agência Al-Jazeera: “agora é hora de este povo desfrutar de estabilidade e calma”.
Após dois dias de toque de recolher e paralisação dos serviços públicos, a vida em Damasco começou a voltar ao normal com a abertura de bancos e lojas, incluindo o histórico e tradicional mercado Al-Hamidiyeh, que esteve com seus 600 metros quadrados bem movimentados.
Reportagem da Al-Jazeera retrata que, a população que vivia nas áreas do país sob controle do HTS, estava satisfeita com a administração feita pelo grupo, concretamente em Idlib, que estava sob comando precisamente do novo primeiro-ministro al-Bashir.