Irã e Israel trocam novos ataques após bombardeio dos EUA a instalações nucleares
Parlamento iraniano acena a possibilidade de fechar o estreito de Ormuz, por onde transita cerca de 20% do comércio global de petróleo
Nas primeiras horas desta segunda-feira (23/06), Irã e Israel trocaram mais rodada de ataques. Explosões foram registradas nas cidades iranianas de Karaj e Parchin, ambas na região metropolitana de Teerã.
Em Isfahan, um drone israelense atingiu uma ambulância, provocando a morte de três pessoas — o motorista, um paciente e um acompanhante —, segundo informou o governador local, Hamidreza Mohammadi Fesharaki. Também houve ataques contra a usina nuclear subterrânea de Fordo, no sul de Teerã, informou a agência de notícias Tasnim.
Em Israel, sirenes de alerta soaram por volta das 3h da manhã (horário local), após o lançamento de 20 ondas de ataques com mísseis, pelo Irã. A Guarda Revolucionária do Irã afirmou ter mudado de tática, mirando pontos de norte a sul, incluindo Tel Aviv e Haifa. A mídia israelense relatou interrupções no fornecimento de energia no sul do país, após danos em uma instalação de infraestrutura estratégica.
A nova escalada ocorre após os Estados Unidos lançarem na madrugada de domingo (horário local), uma ofensiva contra três instalações nucleares iranianas, na operação chamada Midnight Hammer. Sete bombardeiros B-2 lançaram 14 mísseis GBU-57, projetados para destruir bunkers subterrâneos, atingindo os complexos de Natanz, Fordow e Isfahan.
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) informou que, apesar dos ataques, não houve aumento nos níveis de radiação fora das instalações, descartando, por enquanto, risco de vazamento nuclear.
O chefe do Estado-Maior Conjunto dos EUA, general Dan Caine, declarou que os ataques causaram “grandes danos”, mas não confirmou se o programa nuclear iraniano foi totalmente desativado. Segundo Teerã, parte do urânio enriquecido foi transferido antes dos bombardeios.

Reprodução/ Tasnim New Agency
Resposta iraniana
O ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araqchi, chegou a Moscou na manhã desta segunda-feira para reuniões com autoridades russas, incluindo o presidente Vladimir Putin. O objetivo é “coordenar posições” e discutir uma resposta conjunta à ofensiva americana. “O Irã e a Rússia compartilham preocupações comuns e também têm inimigos em comum. Nossas consultas são agora mais importantes do que nunca”, afirmou Araqchi.
A primeira reação da República Islâmica aos ataques dos EUA veio através de um comunicado divulgado pela Organização de Energia Atômica do Irã, no qual o país afirmou que acusou os dois países de cometerem “uma clara violação do direito internacional e uma provocação imprudente que não ficará sem resposta”.
No domingo, durante a reunião emergencial do Conselho de Segurança, principal instância da Organização das Nações Unidas (ONU), o representante do Irã no organismo, Amir Saeid Iravani, destacou que “mais uma vez, os Estados Unidos escolheram, de forma imprudente, sacrificar sua própria segurança apenas para proteger Netanyahu. Mais uma vez, o mundo testemunhou a corrupção flagrante do sistema político americano e de seus líderes”.
Nesta segunda-feira, o comandante do Exército iraniano, major-general Amir Hatami, alertou que os Estados Unidos “receberão uma resposta dura e decisiva” pelos ataques. Segundo Hatami, as forças armadas iranianas “se reservam o direito de recorrer às próprias opções” tanto contra os EUA quanto contra Israel.
O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, também se manifestou. Em publicação na rede social X, ele afirmou que “o inimigo sionista cometeu um erro grave, cometeu um grande crime; ele deve ser punido e está sendo punido; está sendo punido agora mesmo.”
Ormuz
O presidente do Parlamento iraniano, Mohammad Baqer Qalibaf, anunciou que está em análise um projeto de lei para suspender a cooperação com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Qalibaf acusou a agência da ONU de omissão e de atuar de forma “não profissional e politicamente motivada”. Ele reforçou que o programa nuclear do Irã tem fins pacíficos, respaldado por decreto religioso do líder supremo.
O Parlamento iraniano também aprovou uma resolução que permite ao governo fechar o estreito de Ormuz, rota por onde transita cerca um quinto do comércio global de petróleo. A decisão final cabe ao líder supremo e ao governo central. Especialistas ouvidos por The Guardian alertam que a medida teria impacto imediato na economia global.
Além de elevar os preços da energia, a medida poderia gerar tensões adicionais com países da região, como Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Kuwait, que também dependem dessa rota marítima.
EUA
O presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou que os ataques no final de semana miraram exclusivamente o programa nuclear iraniano e que não se trata de uma operação para mudança de regime. Contudo, em uma publicação nas redes sociais, ele sugeriu essa possibilidade. “Se o atual regime iraniano não for capaz de tornar o Irã grande novamente, por que não haver uma mudança de regime? MIGA”, escreveu.
Enquanto isso, o Departamento de Estado dos Estados Unidos emitiu uma “advertência global” para seus cidadãos, alertando sobre riscos de manifestações, hostilidade e interrupções de voos no Oriente Médio. No sábado, o governo norte-americano iniciou voos de evacuação para cidadãos e residentes permanentes que estão em Israel e na Cisjordânia, além de ordenar a retirada de diplomatas de suas missões no Iraque e no Líbano.