Israel alega ‘danos significativos’ na usina nuclear de Natanz; Irã aponta ‘perdas superficiais’
Organização de Energia Atômica de Teerã afirmou que poluição química e radioativa foi detectada dentro da unidade após ataque israelense, mas não houve vazamentos
As Forças de Defesa Israelenses (IDF, na sigla em inglês) avaliaram que seus ataques contra a usina nuclear de Natanz, na região central no Irã, nesta sexta-feira (13/06), deixaram “danos significativos” na instalação, segundo o jornal Times of Israel.
Em detalhe, os militares israelenses afirmaram que a ofensiva contra a instalação de enriquecimento de Urânio destruiu “a seção subterrânea do local, que abrigava um salão de enriquecimento de vários níveis, com centrífugas, salas elétricas e outras infraestruturas de apoio”.
As IDF ainda garantiram que o bombardeio destruiu a “infraestrutura crítica que permitia a operação contínua do local e o avanço do projeto de armas nucleares do regime iraniano”.
Por sua vez, Behrouz Kamalvandi, porta-voz da Organização de Energia Atômica do Irã (AEOI), declarou que os ataques militares do regime israelense causaram apenas “danos superficiais” à instalação nuclear de Natanz.
As observações da autoridade foram baseadas na visita do chefe da AEOI, Mohammad Eslami, à instalação nuclear que fica na província central de Isfahan.
“Incidentes ocorreram na superfície terrestre do local de Natanz”, acrescentou o porta-voz, observando que o ataque não causou vítimas no local subterrâneo, como alega Israel.
Kamalvandi ainda disse que poluição química e radioativa foi detectada dentro da unidade de Natanz após o ataque, mas não houve vazamento para fora da instalação. “Precisamos realizar a descontaminação dentro da unidade”, acrescentou.
O que aconteceu?
O Irã foi alvo de um bombardeio lançado pelas forças de Israel, que atingiu o bairro de Mahallati, na capital Teerã, conhecido como área residencial de oficiais militares. Segundo o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, o ataque foi feito porque o Irã estaria próximo de conseguir uma arma nuclear.
Após o ataque, as forças israelenses relataram que diversos oficiais da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC, por sua sigla em inglês), foram mortos.
Entre as vítimas do ataque, o governo iraniano confirmou a morte de dois líderes militares: o chefe da Guarda Revolucionária, general Hossein Salami, e o chefe do Estado-Maior do Exército, general Mohammad Bagheri. Além deles, dois cientistas nucleares também morreram nos ataques: Fereydoun Abbasi e Mohammad Mehd.
Mais cedo Opera Mundi chegou a noticiar que mídias norte-americanas informaram que o governo Netanyahu estava “totalmente preparado” para atacar instalações nucleares do Irã.
Após o ataque, Netanyahu transmitiu uma declaração na qual afirmou que o ataque teve como objetivo a destruição do programa nuclear, os mísseis balísticos e as capacidades militares do Irã. “Esta operação continuará enquanto for necessário, até concluirmos a missão”, advertiu o mandatário israelense.
A retaliação iraniana foi autorizada logo depois pelo líder supremo Ali Khamenei, que rechaçou os ataques israelenses e deu total liberdade de ação às Forças Armadas de seu país para uma resposta.

Observações do porta-voz da Organização de Energia Atômica do Irã (AEOI) foram baseadas na visita do chefe da organização à usina
Tasnim
Khamenei ainda afirmou que os ataques das forças israelenses foram um “crime” e que Tel Aviv enfrentará um “destino amargo e terrível”. A agressão israelense foi classificada pelo Irã como uma “declaração de guerra”.
Sobre a justificativa nuclear, o argumento de Israel é refutado pelo Irã. O país afirma que o urânio enriquecido é utilizado para abastecer usinas nucleares que fornecem energia elétrica à população.
Novos ataques israelenses e retaliação do Irã
Após o bombardeio do dia anterior, o governo de Israel realizou novos ataques nesta sexta-feira (13/06), que atingiram um aeroporto militar em Tabriz, no noroeste do Irã, bem como na usina nuclear de Natanz, na região central, de acordo com a agência de notícias Tasnim.
Os ataques israelenses atingiram cerca de 100 alvos no Irã, incluindo outras instalações nucleares e militares, além de bairros residenciais localizados na capital Teerã.
Após a nova ofensiva, Israel matou novas autoridades iranianas: o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas iranianas, major-general Mohammad Hossein Baqeri; o comandante do quartel-general central de Khatam al-Anbia do Irã, major-general Gholam Ali Rashid; e pelo menos mais quatro cientistas nucleares iranianos, segundo Tasnim. 95 pessoas também foram feridas entre os dois ataques de Tel Aviv.
Em represália, o governo iraniano lançou mais de 100 drones contra Israel. De acordo com as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês), todos os dispositivos iranianos teriam sido interceptados, mas destacou que a nação se encontra em estado de emergência diante da possibilidade de novos ataques.
Acordo nuclear com os EUA
O ataque de Israel aconteceu dois dias antes de uma nova rodada de negociações entre Teerã e Washington no âmbito de um acordo em relação ao programa nuclear iraniano. Contudo, as autoridades iranianas “já haviam alertado que qualquer ação militar errada atrairia uma resposta firme e definitiva do Irã”, informou a Tasnim.
Na semana passada, Ali Khamenei rechaçou de forma dura os termos apresentados pelos Estados Unidos, que exige o fim do enriquecimento de urânio.
Já o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nas suas redes sociais que instruiu todo o seu governo a agir diante do ocorrido para buscar uma solução diplomática com o Irã. O republicano ainda afirmou que o Irã deve fechar um acordo “antes que seja tarde demais”, caso contrário haverá mais “morte e destruição”.
O presidente norte-americano afirmou, no entanto, que os EUA não tiveram participação no ataque contra o Irã.
Apesar do envolvimento dos Estados Unidos não estar confirmado, a Irna recordou que o governo Trump emitiu ordens de evacuação de funcionários não essenciais da embaixada no Irã, afirmando que a inteligência norte-americana havia indicado que Israel planejava o ataque.
Além disso, minutos após iniciados os ataques, o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, deu uma declaração dizendo que a Casa Branca foi informada por Israel sobre a operação que estava sendo planejada, mas enfatizando que “nosso governo não está envolvido em ataques contra o Irã”.
(*) Com Brasil de Fato, Irna, Sputnik, Tasnim, informações de Al Jazeera, The Guardian e Times of Israel