Segunda-feira, 12 de maio de 2025
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O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu aprovou plano para duplicar o número de israelenses assentados nas Colinas de Golã, território sírio ocupado por Israel desde 1967, em ação considerada ilegal pela ONU e pelo direito internacional.

O anúncio ocorreu domingo (15/12) após uma noite de bombardeios a dezenas de alvos por toda a Síria, a despeito de Abu Mohammed al-Jolani, líder do grupo que assumiu o poder no país, Hayat Tahrir al-Sham (HTS), ter reafirmado que seu governo não quer confrontos com Israel.

61 mísseis em cinco horas

O Observatório Sírio para os Direitos Humanos registrou mais de 450 bombardeios de Israel à Síria desde que a queda de Bashar al Assad, em 8 de dezembro. Só em cinco horas da noite de sábado foram 61 mísseis disparados contra instalações militares sírias.

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Segundo reportagem do Guardian, os bombardeios desse final de semana destruíram quartéis-generais militares, posições do exército sírio, radares, depósitos de armas e ativos do Centro de Estudos e Pesquisas Científicas da Síria, que desenvolve armamento. Nos ataques anteriores, Israel destruiu mais de 70% da infraestrutura e das aeronaves da força aérea síria.

“Não há desculpas para qualquer intervenção estrangeira na Síria agora, depois que os iranianos partiram. Não estamos no processo de nos envolver em um conflito com Israel”, disse Jolani, acrescentado que seu país estava concentrado na reconstrução e que soluções diplomáticas eram a única forma de chegar à estabilidade.

Há uma semana, as tropas sionistas ocuparam a chamada faixa neutra das Colinas do Golã, área do território sírio desmilitarizada, patrulhada pela ONU. Pouco depois, o ministro da defesa de Israel, Israel Katz, anunciou que seu exército permaneceria lá ao menos até o final do inverno.

Condenações à ocupação de área sob controle da ONU

O secretário geral da ONU, António Guterres, assim como França, Alemanha, Espanha e Brasil condenaram a ocupação da área desmilitarizada e apelaram para que Israel se retirasse da zona-tampão. Guterres frisou que a ocupação viola o acordo de 1974 que criou a zona de amortecimento. Mas Israel alega que o acordo “entrou em colapso” com a queda de Assad.

Jan Helebrant/ Wikimedia commons
Tropas israelenses nas colinas do Golã

Os planos de duplicar o número de colonos israelenses nas colinas de Gaza confirma as intenções expansionistas de Israel no entorno de uma região que o direito internacional já considera ilegalmente ocupada.

EUA discutem com a região o futuro da Síria

Os ataques de Israel à Síria desse final de semana coincidiram com o encerramento das conversas entre o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, com a Jordânia, a Turquia e o Iraque sobre o futuro da Síria. Blinken confirmou que também vem mantendo contatos diretos com o HTS sobre o que os EUA esperavam da conduta do grupo no governo da Síria.

Os bombardeios contínuos preocupam diplomatas e autoridades internacionais que temem mais uma ocupação israelense por prazo indeterminado do território sírio.

Atualmente, existem mais de 30 assentamentos israelenses nas Colinas de Golã, que abrigam cerca de 20 mil pessoas. Ao lado desses colonos vivem (ou viviam até a recente chegada das tropas de Israel) cerca de 20 sírios, a maioria deles árabes drusos.

Arábia Saudita, os Emirados Árabes e o Iraque condenaram o plano de Israel para as Colinas de Golã.

Por que o Golã é estratégico

As colinas do Golã são estratégicas por diversas razões. Chegando a 2.800 metros de altura, a região oferece visão de todo o sul da Síria até a capital, Damasco, que fica há 60 quilômetros. Sua topografia também a torna uma barreira natural contra eventuais ataques sírios a Israel.

Mas além dessa importância militar, as colinas são importante fonte de água numa região muito árida. Suas águas, que desembocam no rio Jordão, são responsáveis por um terço do consumo de Israel. Além disso seu solo vulcânico é fértil, adequado a cultivos e pastagens. De quebra, abriga a única estação de esqui de Israel.

Por essas razões, embora no passado Israel tenha admitido a possibilidade de devolver a maior parte do Golã à Síria, a opinião pública israelense, de forma geral, não é muito favorável a uma medida que exigiria também desmantelar os assentamentos israelenses na região.