Israel intensifica ataques e acusa Teerã de romper cessar-fogo; Irã nega
Conselho de Segurança Nacional iraniano desmente versão israelense e afirma interrupção dos combates após anúncio de trégua por Trump
O cessar-fogo anunciado na noite desta segunda-feira (23/06) pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com o objetivo de pôr fim a 12 dias de guerra entre Israel e Irã, foi rompido poucas horas após sua entrada em vigor. Novos ataques e bombardeios se intensificaram durante a madrugada e a manhã, com acusações mútuas sobre quem quebrou o acordo.
As Forças de Defesa de Israel (IDF) afirmaram que interceptaram dois mísseis disparados pelo Irã, cerca de duas horas e meia após o anúncio da trégua feito por Trump. Teerã nega categoricamente. Na manhã de terça-feira (24/06), o Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã e o Estado-Maior das Forças Armadas Iranianas desmentiu os relatos da mídia israelense sobre um novo ataque iraniano após o início da trégua.
“O inimigo israelense foi forçado a concordar com uma cessação unilateral da guerra contra o Irã”, declarou o Conselho, acrescentando que “as Forças Armadas estão totalmente preparadas, com o dedo no gatilho, para dar uma resposta esmagadora a qualquer ato hostil”.

Ataques se intensificaram com acusações mútuas sobre quem quebrou o acordo
Reprodução / Tasnim News Agency
O Irã reforçou que os ataques anteriores, ocorridos antes da declaração de cessar-fogo, faziam parte da “Operação Verdadeira Promessa III”, que incluiu 21 ondas de mísseis de retaliação contra alvos em Israel, infligindo, segundo Teerã, “pesadas perdas em cidades nos territórios ocupados”.
Para os iranianos, quem quebrou a trégua foi Israel, que teria continuado a realizar bombardeios após o anúncio, inclusive contra áreas residenciais de Teerã. A TV estatal iraniana informou anteriormente que um cessar-fogo ocorreria no Irã a partir das 7h30, horário local, na terça-feira.
O porta-voz do quartel-general militar central iraniano, Khatam al-Anbiya, disse que Israel atacou o Irã em três etapas até as 9h. Segundo o Irã, “o regime israelense violou o cessar-fogo por três vezes, com ataques contra vários locais do país”.
Trump
Após o fracasso do cessar-fogo, Trump afirmou, nesta terça-feira, que tanto Israel quanto o Irã violaram a trégua e que não estava satisfeito com nenhum dos dois países, especialmente com Israel. Em declarações a repórteres, antes de partir para a cúpula da OTAN em Haia, ele afirmou que Israel “descarregou” logo após concordar com o acordo.
Disse também que as capacidades nucleares do Irã acabaram e que o país nunca reconstruiria seu programa nuclear. “Não estou satisfeito com Israel. Sabe, quando digo ‘ok, agora você tem 12 horas’, você não sai na primeira hora e simplesmente despeja tudo o que tem, então não estou satisfeito com eles. Também não estou satisfeito com o Irã, afirmou.
Na sequência, Trump postou nas redes sociais que o cessar-fogo entre Israel e o Irã permanece “em vigor”. Em sua Truth Social, escreveu: “ISRAEL não vai atacar o Irã. Todos os aviões darão meia-volta e voltarão para casa, enquanto fazem um amigável “Aceno de Avião” para o Irã. Ninguém se machucará, o cessar-fogo está em vigor!”
De acordo com a apuração do site norte-americano Axios, Trump teria ligado para o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, pedindo que não atacasse o Irã. Segundo o veículo, na conversa telefônica, o premiê rebateu o magnata afirmando que não podia cancelar a ofensiva completamente, ao insistir que foi Teerã quem violou o cessar-fogo. Entretanto, o Corpo da Guarda Revolucionária (IRGC, na sigla em inglês) destacou que a última onda de mísseis lançados contra o regime sionista foi realizada minutos antes do acordo anunciado pelos EUA entrar em vigor.
Na sequência, o gabinete do primeiro-ministro israelense divulgou um comunicado afirmando que “após a conversa do presidente Trump com o primeiro-ministro Netanyahu, Israel se absteve de novos ataques”.
Ataques
O ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, ordenou uma ofensiva ainda mais massiva contra a capital iraniana. “Instruí as Forças de Defesa de Israel (IDF) a responderem energicamente à violação do cessar-fogo pelo Irã com ataques poderosos contra alvos do regime no coração de Teerã”, declarou.
Na noite desta segunda-feira, antes do cessar-fogo, o Irã lançou um ataque contra a base americana de Al Udeid, no Catar, como retaliação aos bombardeios norte-americanos realizados no fim de semana contra três instalações nucleares iranianas — Isfahan, Natanz e Fordow — na operação denominada “Martelo da Meia-Noite”.
O Irã informou que avisou antecipadamente o governo do Catar sobre o ataque, e o Ministério das Relações Exteriores catariano confirmou que seus sistemas de defesa interceptaram os mísseis, sem deixar vítimas. Trump agradeceu ao Irã pelo aviso e celebrou o cessar-fogo: “Foi plenamente acordado entre Israel e o Irã que haverá um cessar-fogo completo e total”, declarou.
O primeiro-ministro do Catar, Xeique Mohammed, disse que o país, a pedido dos EUA, entrou em contato com o Irã para ajudar a mediar o cessar-fogo entre Israel e o Irã. “As violações do cessar-fogo testemunhadas esta manhã são inaceitáveis e esperamos que o cessar-fogo se mantenha e que a diplomacia prevaleça”, afirmou.
As forças de inteligência do Corpo de Guardas da Revolução Islâmica (IRGC) anunciaram, nesta terça-feira, a prisão de seis pessoas acusadas de espionagem a serviço de Israel na província de Hamedan, no oeste do Irã. Nesta manhã, mísseis iranianos atingiram a cidade israelense de Bersheba, matando pelo menos quatro pessoas.
O cessar-fogo de Trump
Na noite de ontem, Trump anunciou em uma publicação nas redes sociais que o Irã e Israel haviam concordado com um cessar-fogo ‘completo e total’. “Partindo do princípio de que tudo funcionará como deveria, e funcionará, gostaria de parabenizar ambos os países, Israel e Irã, por terem a Resistência, a Coragem e a Inteligência para pôr fim ao que deveria ser chamado de ‘A GUERRA DOS 12 DIAS”, escreveu Trump em sua plataforma Truth Social.
Pouco depois das 5h GMT, Trump postou nas redes sociais que um cessar-fogo estava em vigor, acrescentando “POR FAVOR, NÃO O VIOLE!”.