O governo libanês decidiu manter na terça-feira (18/02) a suspensão de voos provenientes do Irã com destino ao país. A medida atende a uma demanda israelense. Segundo Tel Aviv, que transmitiu sua posição ao Líbano por intermédio de funcionários do governo dos Estados Unidos, Teerã utiliza-se de civis para enviar, por estes voos, fundos ao grupo de resistência libanês Hezbollah.
A suspensão dos voos foi decidida na quinta-feira passada (13/02). Nesse dia, o governo libanês impediu a aterrissagem de um avião civil que partira do Irã no único aeroporto comercial do país, o Aeroporto de Beirute Rafic Hariri, em Beirute. A medida foi tomada diante da ameaça de que o aeroporto poderia ser alvo de um ataque de Israel caso o avião pousasse.
A suspensão se repetiu na sexta-feira (14/02), gerando uma onda de protestos por dois dias consecutivos na capital libanesa. Os manifestantes, em sua maioria apoiadores do partido e grupo armado xiita Hezbollah, se reuniram nos arredores do aeroporto de Beirute para expressar sua insatisfação e denunciar “a flagrante interferência de Israel nos assuntos libaneses e a violação da soberania nacional”.
Ainda no protesto de sexta-feira, um comboio da Força Interina da Organização das Nações Unidas foi atacado, deixando dois capacetes azuis feridos.
Polícia dispersou manifestantes com violência
A reportagem de Opera Mundi acompanhou parte dos protestos, a partir das 17 horas (hora local de Beirute, 11hs em São Paulo), do sábado (15/02). A Old Airport Road (Tariq al-Matar al-Qadima, em árabe), avenida que dá acesso ao aeroporto de Beirute, havia sido bloqueada por manifestantes, muitos dos quais empunhavam a bandeira do grupo armado xiita Hezbollah. Alguns portavam, ainda, a bandeira iraniana.
Os militares responderam à presença dos manifestantes com truculência, marchando em grandes grupos contra a multidão para dispersá-la, fazendo uso de bastonetes, escudo anti-motim e gás lacrimogêneo.
A repressão gerou pânico e correria entre os manifestantes, que em sua maioria optou por se dispersar rapidamente. Foram poucos os que responderam à ofensiva do exército, recorrendo ao uso de explosivos caseiros para resistir ao avanço dos militares.

Libaneses protestam contra cancelamento de voos vindos do Irã para Beirute, no sábado (15/02)
Em comunicado, o Hezbollah afirmou que o uso de gás lacrimogêneo contra manifestantes foi “um ato repreensível que constitui uma agressão injustificada contra cidadãos pacíficos”.
O Exército libanês, por sua vez, publicou em sua conta X que uma coordenação prévia havia sido realizada com os organizadores do protesto para que não houvesse bloqueio da avenida que leva ao aeroporto.
Funerais de líderes do Hezbollah devem ser multitudinários
“No entanto, um número de manifestantes bloqueou a via e atacou as unidades militares encarregadas da segurança e seus veículos, resultando em diversos ferimentos em 23 soldados, incluindo três oficiais, o que obrigou essas unidades a intervir para impedir o ataque contra seu pessoal e reabrir a estrada”, informou o exército.
Em um discurso na noite do domingo (16/02), o secretário-geral do Hezbollah, Naïm Kasse, adotou um tom mais moderado, ainda que tenha insistido para que o governo libanês revogue a decisão sobre o cancelamento dos voos provenientes do Irã.
A postura conciliatória parece coincidir com a iminência do funeral do ex-secretário-geral do grupo, Hassan Nasrallah, morto num ataque israelense em setembro de 2024, e do até então número 2 do grupo, Hachem Safieddine, morto no início de outubro de 2024. O evento deve ter dimensões gigantescas e está previsto para o próximo domingo (23), em Beirute.
Havia uma previsão de que os voos ficariam suspensos até terça-feira, com a implantação efetiva de um acordo de cessar-fogo entre Israel e o Hezbollah, mas o governo do Líbano prorrogou o bloqueio aéreo. Israel também manteve cinco posições no sul do país, o que não estava previsto inicialmente no acordo de cessar-fogo.
O funeral de Nasrallah, segundo o L’Orient Le Jour, fez também as companhias aéreas Air France e Emirates suspenderem os voos para Beirute no próximo dia 23. Segundo um proprietário de uma agência de viagens ouvido pela publicação, “a decisão das companhias aéreas está ligada à situação política e de segurança, e às recentes manifestações organizadas nas proximidades do aeroporto devem ter sido consideradas”.