O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou neste domingo (08/12) que a queda do presidente Bashar Al-Assad na Síria após o avanço dos grupos extremistas em Damasco “foi o resultado direto” dos ataques de Tel Aviv contra seus aliados, Irã e grupo libanês Hezbollah.
Classificando a data como um “dia histórico na história do Oriente Médio”, Netanyahu afirmou que o governo de Assad na Síria era um “alvo-chave no eixo do mal do Irã”.
This is a historic day for the Middle East. The collapse of the Assad regime, the tyranny in Damascus, offers great opportunity but also is fraught with significant dangers.
We send a hand of peace to all those beyond our border in Syria: to the Druze, to the Kurds, to the… pic.twitter.com/yJZE3AZZJn
— Benjamin Netanyahu – בנימין נתניהו (@netanyahu) December 8, 2024
O primeiro-ministro finalizou seus comentários diretamente das Colinas de Golã, na fronteira entre Israel e a Síria, dizendo que a queda de Assad “abre novas e muito importantes oportunidades para o Estado de Israel”.
Apesar de comemorar a queda de Assad pelas forças extremistas, as Forças de Defesa Israelenses (FDI, como são chamadas as Forças Armadas do país) confirmaram o destacamento de forças na zona tampão na fronteira com a Síria “para sua defesa, para garantir a segurança das comunidades nas Colinas de Golã e dos cidadãos de Israel”, devido a ameaça dos grupos.
Segundo Netanyahu, a ação objetiva “antes de tudo, proteger a fronteira” de Israel. “Esta área tem sido controlada por quase 50 anos por uma zona-tampão acordada em 1974, o Acordo de Separação de Forças. Este acordo entrou em colapso, os soldados sírios abandonaram suas posições”, declarou o primeiro-ministro, citado pelo Times of Israel.
Assim, o coronel Avichay Adraee, porta-voz das FDI em árabe, emitiu um “aviso urgente” aos moradores das aldeias naquelas localidades, como Ofaniya, Quneitra, al-Hamidiyah, Samdaniya al-Gharbiyya e al-Qahtaniyah, para que os civis não deixem suas casas “até novo aviso”.
#عاجل ‼️ تحذير عاجل الى السكان في جنوب سوريا في القرى والبلدات التالية:
🔴أوفانية
🔴القنيطرة
🔴الحميدية
🔴الصمدانية الغربية
🔴القحطانيةالقتال داخل منطقتكم يجبر جيش الدفاع على التحرك ولا ننوي المساس بكم.
من أجل سلامتكم عليكم البقاء في منازلكم وعدم الخروج حتى إشعار آخر pic.twitter.com/nvY95182j5
— افيخاي ادرعي (@AvichayAdraee) December 8, 2024
Com os avanços na região, o lado sírio do Monte Hermon, que fica na zona tampão das Colinas de Golã, foi dominado pelas FDI “sem nenhuma resistência”.
Ao mesmo tempo, a Força Aérea Israelense atacou depósitos de armas no sul da Síria e em Damasco, segundo a emissora israelense Kan, citando uma fonte não identificada das forças de segurança israelenses.
Segundo relatos, Israel tomou essa medida devido a preocupações de que as armas pudessem ser apreendidas pelos grupos extremistas.
Apesar das forças israelenses declararem que não estavam intervindo nos assuntos internos da Síria, a imprensa síria e árabe relatou ataques aéreos israelenses na capital do país.
Segundo a emissora catari Al Jazeera, houve explosões na base aérea de Mezzeh, no subúrbio de Kafr Sousa, em Damasco, e em uma praça central na capital, que abriga sedes de inteligência e alfândega.
Queda de Assad após 24 anos no poder
Grupos extremistas armados da oposição síria lançaram uma ofensiva em larga escala contra tropas do governo nas províncias de Aleppo e Idlib em 27 de novembro. Em 7 de dezembro, os oponentes do presidente sírio Bashar Assad tomaram várias cidades grandes, incluindo Aleppo, Hama, Deir ez-Zor, Daraa e Homs. Na manhã deste domingo, eles entraram em Damasco e as tropas do governo se retiraram da cidade.
Após entrar em Damasco, inclusive interrompendo os aeroportos internacionais da capital e Aleppo e seus voos até 18 de dezembro, as forças extremistas dirigiram-se para o centro da cidade e assumiram o controle da estação pública de rádio e televisão.
Os rebeldes também “libertaram” a prisão militar vizinha de Sednaya, permitindo a saída de detidos que foram presos pelas forças de segurança durante o governo Assad.
Segundo o jornal al-Watan, de Doha, no Catar, os extremistas declararam a imposição de um toque de recolher em Damasco, das 16h no horário local (22h no horário de Brasília), até as 5h (11h no horário de Brasília). Os grupos não especificaram quando a medida seria suspensa.
A escalada fez com que milhares de cidadãos sírios começassem a cruzar a fronteira com o Líbano por meio de postos de controle ilegais, segundo o governador da província libanesa de Baalbek-Hermel, Bashir Khader, à Sputnik.
Transição de poder na Síria
Após os grupos extremistas avançarem sobre a capital da Síria, Damasco, e o governo do presidente Bashar al-Assad cair, o primeiro-ministro sírio, Mohammed Ghazi Al-Jalali, disse estar disposto a “estender a mão” à oposição e colaborar com a “liderança que será eleita pelo povo”.
Como autoridade política síria ainda em Damasco, juntamente com outros 18 ministros, o primeiro-ministro está interagindo com a liderança do grupo extremista, Hayat Tahrir al-Sham, líder das ofensivas em 27 de novembro que levaram à queda de Assad.
A Coalizão Nacional das Forças Revolucionárias e de Oposição Sírias declarou estar trabalhando na transferência de poder na Síria para um “órgão governamental de transição”.
“A Coalizão Nacional confirma à comunidade internacional que continua trabalhando para concluir a transferência de poder para um órgão governamental de transição com plenos poderes executivos, a fim de criar uma Síria livre, democrática e pluralista”, disse a coalizão em um comunicado à imprensa.
(*) Com Ansa, Sputnik, Sputnik Brasil e TASS