Após os grupos extremistas avançarem sobre a capital da Síria, Damasco, e o governo do presidente Bashar al-Assad cair, o primeiro-ministro sírio, Mohammed Ghazi Al-Jalali, disse estar disposto a “estender a mão” à oposição e colaborar com a “liderança que será eleita pelo povo”.
Como autoridade política síria ainda em Damasco, juntamente com outros 18 ministros, o primeiro-ministro está interagindo com a liderança do grupo extremista, Hayat Tahrir al-Sham, líder das ofensivas em 27 de novembro que levaram à queda de Assad. Segundo ele, os militantes prometeram que não haverá repressão.
“Uma nova era está começando na história da Síria. Esperamos que uma era de pluralismo esteja chegando”, disse o primeiro-ministro em um telefonema para a emissora Al Arabiya.
Al-Jalali declarou que está pronto para cooperar com qualquer liderança que apoie o povo e pediu aos grupos extremistas que sejam preservadas as instituições estatais “destinadas a todos”.
Atendendo ao pedido do primeiro-ministro, o chefe do grupo, Abu Mohammed al-Jolani, ordenou às suas forças que não se aproximassem das instituições públicas em Damasco, “que permanecerão sob a supervisão do antigo premiê até à sua entrega oficial”.
Contudo, não se sabe se o Ministério da Defesa da Síria, responsável pelas forças governamentais, ainda está funcionando.
Transição de poder na Síria
A Coalizão Nacional das Forças Revolucionárias e de Oposição Sírias declarou neste domingo que estava trabalhando na transferência de poder na Síria para um “órgão governamental de transição”.
“A Coalizão Nacional confirma à comunidade internacional que continua trabalhando para concluir a transferência de poder para um órgão governamental de transição com plenos poderes executivos, a fim de criar uma Síria livre, democrática e pluralista”, disse a coalizão em um comunicado à imprensa.
No entanto, não está claro se os líderes ou representantes da coalizão estão atualmente na Síria.
Por sua vez, o ministro da Justiça da Síria, Ahmad Sayyed, disse esperar que a transição de poder no país ocorra sem problemas.
“O processo de transição política será tranquilo”, disse ele ao canal de televisão Al Arabiya, citado pela TASS, acrescentando que “não haverá guerra civil no país”.
Sayyed admitiu, no entanto, que nem ele nem outros membros do gabinete sírio tinham previsto desenvolvimentos tão rápidos na Síria. Falando sobre o futuro de Bashar Assad, ele disse: “Ninguém sabe para onde ele está indo ou o que aconteceu com ele”.
Segundo a agência russa de notícias TASS, Al-Jalali conversou com Assad na noite do último sábado (07/12) e “o informou sobre a situação” no país.
Apesar dos detalhes não serem conhecidos, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia informou neste domingo (08/12) Assad, negociou com os grupos extremistas que deixaria a Presidência e sairia do país.
Queda de Assad após 24 anos no poder
Grupos extremistas armados da oposição síria lançaram uma ofensiva em larga escala contra tropas do governo nas províncias de Aleppo e Idlib em 27 de novembro. Em 7 de dezembro, os oponentes do presidente sírio Bashar Assad tomaram várias cidades grandes, incluindo Aleppo, Hama, Deir ez-Zor, Daraa e Homs. Na manhã deste domingo, eles entraram em Damasco e as tropas do governo se retiraram da cidade.
Após entrar em Damasco, inclusive interrompendo os aeroportos internacionais da capital e Aleppo e seus voos até 18 de dezembro, as forças extremistas dirigiram-se para o centro da cidade e assumiram o controle da estação pública de rádio e televisão.
Os rebeldes também “libertaram” a prisão militar vizinha de Sednaya, permitindo a saída de detidos que foram presos pelas forças de segurança durante o governo Assad.
Segundo o jornal al-Watan, de Doha, no Catar, os extremistas declararam a imposição de um toque de recolher em Damasco, das 16h no horário local (22h no horário de Brasília), até as 5h (11h no horário de Brasília). Os grupos não especificaram quando a medida seria suspensa.
A escalada fez com que milhares de cidadãos sírios começassem a cruzar a fronteira com o Líbano por meio de postos de controle ilegais, segundo o governador da província libanesa de Baalbek-Hermel, Bashir Khader, à Sputnik.
“Milhares de pessoas cruzaram a fronteira [com o Líbano] por meio de postos de controle ilegais no distrito de Hermel, fugindo dos avanços da oposição armada na Síria”, disse Khader.
A maioria dos cidadãos sírios são apoiadores do presidente Bashar Al-Assad e pertencem ao ramo xiita do islamismo, acrescentou o governador.
(*) Com Ansa, Sputnik, Sputnik Brasil e TASS