A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, acusou nesta quarta-feira (04/12) o envolvimento da Ucrânia na escalada de violência na guerra da Síria, provocada por grupos extremistas.
Um “traço ucraniano” é claramente evidente na escalada na Síria, e a Rússia condena fortemente este ataque, declarou a representante.
“Condenamos veementemente este ataque, realizado por indivíduos reconhecidos como terroristas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas. Enfatizamos a presença de um claro traço ucraniano nas fileiras de militantes estrangeiros”, afirmou.
A diplomata destacou relatos sugerindo que os serviços de segurança de Kiev estão colaborando com os grupos extremistas atuantes na Síria, fornecendo drones e compartilhando expertise.
Ela afirmou ainda que esta não é a primeira nem a última região onde o regime de Kiev empregou sua “experiência criminosa”. “Países africanos foram alvos antes; agora, diz respeito à Síria”, acrescentou Zakharova.
“Não há dúvida de que os terroristas não teriam empreendido um movimento tão ousado sem incitação e apoio abrangente de forças externas visando provocar uma nova rodada de conflito armado na Síria. Ao aumentar a violência, os radicais claramente buscam minar anos de esforços para estabelecer uma paz sustentável no país, representando uma ameaça significativa à segurança dos civis”, concluiu a porta-voz.
Extremistas usam “mesmas táticas” que ucranianos
A denúncia de Zakharova está alinhada com a declaração de um membro de uma empresa militar russa após analisar a ação dos drones na Síria à Sputnik.
“Posso dizer com 100% de certeza que os militantes são treinados por especialistas e instrutores estrangeiros. Eu já estive na operação militar especial [como o governo russo chama a Guerra na Ucrânia] e vi como lá operam os drones. Tendo chegado aqui, vejo que os militantes usam as mesmas táticas que os ucranianos. Posso deduzir disso que os serviços secretos da Ucrânia estão presentes na zona de desescalada de Idlib”, disse o interlocutor da agência.
Segundo ele, os grupos extremistas estão usando drones kamikaze durante a noite. Isso significa que eles estão equipados com câmeras noturnas ou sistemas de sensores térmicos, tática típica dos soldados ucranianos, segundo sua explicação.
“O que é mais interessante é que em cada amostra há inscrições em inglês, o que não é típico dos combatentes de origem árabe”, acrescentou o membro da empresa militar.
Anteriormente, fontes relataram à Sputnik que especialistas ucranianos foram vistos junto de militantes extremistas da Tahrir al-Sham (anteriormente chamada de Frente al-Nusra, uma organização terrorista banida na Rússia e em outros países), em um centro científico na província de Aleppo.
Quanto à situação militar na Síria, segundo a agência de notícias do país, SANA, o exército está combatendo os grupos extremistas no eixo da montanha Zain Al-Abidin, a nordeste da cidade de Hama, e ao noroeste também, causando cerca de 300 baixas.
Segundo o canal de TV Al-Ikhbaria, o exército sírio tomou controle dos arredores da cidade de Hama, no oeste do país, após fazer os extremistas recuarem pelo menos 20 quilômetros.
De acordo com a emissora, não há militantes restantes na área e a segurança está totalmente garantida pelas forças sírias.
O canal de TV acrescentou que as forças do governo também retomaram o assentamento de Tuba, na parte noroeste da província de Hama.
Já em Aleppo, a segunda maior cidade da Síria, e que foi anteriormente tomada pelos grupos, o Comando Geral do Exército e das Forças Armadas do país informou que os oficiais e cadetes da academia militar síria que leva o nome de Hafez Assad, que estavam cercados, conseguiram libertar-se.
Após a evacuação, o exército informou que os cadetes partiram do local e chegaram em segurança à cidade de Homs, onde estão recebendo os cuidados médicos necessários e tratamento para os feridos.
O comando disse em um comunicado que a libertação ocorreu “graças à coordenação militar e política conjunta sírio-russa”.
A ajuda russa ao exército sírio no combate aos grupos extremistas também permitiu a eliminação de mais de 1.600 militantes por meio de ataques apoiados pelas Forças Aeroespaciais de Moscou, segundo a Organização Geral de Rádio e TV do país.
Segundo a organização, esses militantes eram “terroristas do [grupo extremista] Jabhat al-Nusra [banido na Rússia] e outros grupos”.
Contexto
Aleppo, a segunda maior cidade da Síria, é alvo de ataques de grupos armados que, segundo organização de direitos humanos que atua no país, tomaram totalmente o controle do local. O conflito, que escalou desde a última sexta-feira (29/11), marca uma nova etapa de uma guerra civil em andamento desde 2011.
As milícias que atacaram a cidade são contrárias ao governo do presidente Bashar al-Assad. Os grupos tinham sido expulsos de Aleppo entre 2016 e 2017 pelas forças governistas, que contam com apoio do Irã e da Rússia.
Segundo a organização Observatório Sírio para os Direitos Humanos (SOHR, na sigla em inglês), citada pela agência de notícias AFP, o ataque foi realizado pelo grupo Hayat Tahrir al Sham, vinculado à Al-Qaeda, com apoio de outras facções rebeldes aliadas.
O SOHR contabiliza mais de 320 mortes desde o início da ofensiva, sendo ao menos 104 civis, incluindo 27 crianças e nove mulheres. Esta é a primeira vez que Aleppo saiu do controle do regime sírio, segundo a organização.
Entre os locais tomados pelos rebeldes estão o aeroporto da cidade e o consulado do Irã. Em comunicados divulgados por seus dirigentes, os rebeldes confirmam a ofensiva. Um dos grupos envolvidos afirma que a ação foi facilitada devido a baixas militares das forças apoiadas pelo Irã em meio a conflitos com Israel.
A Rússia respondeu aos ataques rebeldes com o primeiro bombardeio realizado em território Sírio desde 2016. O Kremlin informou que os caças atingiram integrantes dos grupos armados e arsenais.
A guerra civil na Síria não registrava confrontos nesse nível desde 2020, quando foi assinado um cessar-fogo com anuência da Rússia e da Turquia (que apoia parte dos grupos rebeldes). O governo turco pediu, agora, que os ataques sejam interrompidos.
Os episódios tiveram reações, também, de países do Ocidente (opositores de Al-Assad), como a França, que pediu uma trégua; e os Estados Unidos, que afirmaram que a perda do controle de Aleppo aconteceu devido à “dependência” síria da Rússia e do Irã.
(*) Com Brasil de Fato, SANA, Sputnik e TASS