Há 30 dias está em vigor o acordo de cessar-fogo assinado entre Israel e Líbano, mas a tensão está longe de ter se dissipado: calcula-se que, desde 26 de novembro, o regime sionista tenha violado a trégua entre as partes mais de 800 vezes, com incursões militares por terra e ar.
Como em tantas outras oportunidades nas últimas semanas, na última quinta-feira (26/12), o governo libanês voltou a denunciar agressões israelenses em diversos pontos ao sul do país. O jornal libanês L’orient Le Jour confirmou que dezenas de soldados e veículos blindados penetraram na reserva de Wadi al-Hujair.
Esse local ganhou notoriedade, em 2006, por sediar um duro confronto entre o Hezbollah e tropas israelenses, com a milícia xiita impedindo o avanço de modernos tanques Merkava e frustrando a tentativa de seus inimigos em ocupar a região.
Nikolas Kosmatopoulos, professor de antropologia e política da Universidade Americana de Beirute (AUB), relatou a Opera Mundi que essa conduta de Israel não é inédita. “Israel violou o cessar-fogo várias vezes”, disse. “Mas é isso que Israel faz, e o que fez também em 2006. Tentam alcançar, sob a proteção do cessar-fogo, o que não conseguiram alcançar através da guerra aberta. Avançam ao sul para tentar roubar mais território.”

Nos termos do acordo em vigor, as tropas israelenses deveriam gradualmente se retirar do Líbano, nos 60 dias seguintes à assinatura do pacto com Beirute, enquanto o Hezbollah deveria se deslocar para o norte do rio Litani, abrindo uma faixa de segurança, desse rio até a fronteira com Israel, que deveria ser controlada pelo Exército libanês.
Para Kosmatopoulos, no entanto, os termos do acordo não são factíveis. “O Exército libanês, infelizmente, não tem condições de defender o Líbano porque foi subfinanciado e sabotado”, afirmou. “Muito se fala sobre a influência iraniana no país, mas quase nada sobre o fato de que grande parte de seu financiamento militar vem dos Estados Unidos, afetando sua soberania e estabilidade.”

O professor explicou à reportagem de Opera Mundi que é também virtualmente impossível uma retirada completa do Hezbollah pelos laços do grupo com a população daquela região. “O Hezbollah é parte do povo do sul, o povo do sul é o Hezbollah”, explica.
Além dos avanços na zona meridional, as forças israelenses voltaram a realizar, no último dia 25, ataques aéreos contra o Vale do Beca, situado a apenas 30 quilômetros de Beirute, que também vive sob frequentes sobrevoos de drones.
Questionado sobre o futuro do cessar-fogo, Kosmatopoulos se mostrou cético. “Não estou nada otimista”, declarou a Opera Mundi. “Essa guerra confirmou a descrição de Israel feita pelos movimentos de resistência: um Estado que não respeita o direito internacional e ataca organizações humanitárias. A única maneira da região se libertar, encontrar a paz e ter desenvolvimento é se livrando do sionismo.”
