Em 22 de agosto de 1972 foram fuzilados, na base aeronaval argentina Almirante Zar – uma dependência da Marinha argentina, próxima da cidade de Trelew, província de Chubut, na Patagônia austral – 19 militantes de distintas organizações guerrilheiras que haviam se rendido a forças da Marinha com a condição que suas vidas fossem respeitadas.
Às 03h30, porém, os 19 presos foram obrigados a sair de suas celas, parar em fila no corredor, onde foram metralhados a queima-roupa. Sete sobreviventes foram levados à enfermaria, porém nenhuma assistência médica lhes foi prestada, ocasionando a morte de quatro deles. Os outros três foram transferidos no dia seguinte a Puerto Belgrano, onde foram operados.
Ao amanhecer da terça-feira, 22 de agosto, a Marinha fez circular a versão de que as mortes tinham sido o resultado de uma nova tentativa de fuga. Somente três deles sobreviveram. Anos mais tarde, estes foram mortos, sequestrados ou desaparecidos, durante a seguinte ditadura militar. O episódio ficou conhecido como o Massacre de Trelew.
No dia 15 de agosto, durante o governo ditatorial do general Alejandro Lanusse (1971-1973), 25 presos políticos pertencentes ao ERP (Exército Revolucionário do Povo), às FAR (Forças Armadas Revolucionárias) e aos Montoneros, fugiram da penitenciária de Rawson, na provínciade Chubut. Seis deles conseguiram chegar ao Chile de Salvador Allende, os outros 19 se entregaram.
O chefe da operação era Mario Roberto Santucho, líder do Partido Revolucionário dos Trabalhadores. Junto com Enrique Gorriarán Merlo, Marcos Osatinsky, Fernando Vaca Narvaja, Roberto Quieto e Domingo Menna integravam o comitê de fuga. Foram os únicos que puderam fugir rapidamente em um automóvel Ford Falcon que os esperava para irem até o aeroporto de Trelew, onde subiriam em um avião comercial da empresa Austral, sequestrado por um comando guerrilheiro de apoio.
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Antigo aeroporto de Trelew, atual Centro Cultural da Memória
Os demais veículos que deveriam esperar o restante dos fugitivos não apareceram devido a uma confusa interpretação dos sinais combinados. Apesar disso, os 19 fugitivos conseguiram chegar em três táxis ao aeroporto.
Ao ver frustradas suas possibilidades de fugir de avião rumo ao Chile e após oferecer uma entrevista coletiva à imprensa, depuseram armas aos efetivos militares que cercavam a área, solicitando e recebendo garantias públicas de que suas vidas seriam preservadas.
Uma patrulha militar sob as ordens do capitão de corveta Luis Sosa conduziu-os então à base militar. Diante do insistente pedido de serem reconduzidos à prisão de Rawson, o capitão Sosa afirmou que o novo local de reclusão era transitório, uma vez que dentro da prisão estava ocorrendo um motim e não havia condições de segurança. Testemunhas dos detidos que os acompanhavam até a prisão não puderam ingressar com eles e foram obrigados a se retirar.
A espetacular tentativa de fuga e o êxito parcial dos seis chefes guerrilheiros, que mais tarde conseguiram um salvo-conduto e viajaram a Cuba, mantiveram o governo militar e a opinião pública em suspense durante dias. O sentimento geral era que os militares levariam a cabo represálias se não conseguissem a repatriação dos seis. Enquanto o governo Lanusse pressionava o presidente Allende para deportar os fugitivos, toda a zona de Trelew e Rawson era ocupada pelo exército, que a patrulhava rigorosamente.
Em clima de grande tensão, na noite de 21 de agosto os membros da Junta Militar e ministros permaneciam reunidos. A versão oficial do episódio indicava que se havia produzido uma nova tentativa de fuga, com 16 mortos e três feridos entre os prisioneiros, sem baixa entre as tropas da Marinha.
Na noite do dia 22, o governo sancionou a lei que proibia toda a difusão de informações sobre as organizações guerrilheiras. Nos dias seguintes, houve manifestações nas principais cidades da Argentina em protesto pela matança.