Em 3 de fevereiro de 1468 morre na cidade alemã de Mainz Johannes Gensfleisch, mais conhecido como Johannes Gutenberg. Ele é considerado o inventor da imprensa, mas, na realidade, a reinventou. Os princípios que a definem – gravura reproduzível sobre cobre ou sobre madeira – já haviam sido descobertos pelos coreanos e chineses havia vários séculos. A novidade estava em desembocar o processo em uma escala industrial. Dessa forma, revolucionou a maneira de fabricar livros, reduzindo preços consideravelmente e colocando a leitura ao alcance de todos.
Com Gutenberg, os homens descobrem a utilidade de mecanizar o trabalho manual. No começo da Idade Média, os livros eram fabricados artesanalmente, dentro de mosteiros especializados como os do filme O Nome da Rosa, versão cinematográfica de Jean-Jacques Annaud para a obra do escritor italiano Umberto Eco.
A partir dos anos 1200, os mosteiros abandonam esta atividade em favor das oficinas laicas, geralmente instaladas ao lado das universidades. Copistas recopiavam textos com base em um original utilizando pena de ganso sobre folhas de pergaminho ou papel. Por sua vez, ilustradores adornavam as páginas com delicadas miniaturas vivamente coloridas. Era assim que as oficinas abasteciam, a preço de ouro, os clérigos e burgueses mais ricos com seus manuscritos – nome dado aos livros escritos a mão.
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Na época de Gutenberg, contudo, a cópia de manuscritos não era mais capaz de satisfazer as necessidades de leitura e de aprendizagem de um número crescente de estudantes e de eruditos. A Europa estava à espera de uma revolução.
A imprensa era derivada da gravura sobre cobre ou sobre madeira, uma técnica conhecida há muito tempo na Europa e no Extremo Oriente, porém somente utilizada para reproduzir imagens. Gravava-se a imagem numa superfície, cobria-se de tinta a parte em relevo e pressionava-se sobre ela uma folha de papel ou pergaminho de modo a nela fixar a imagem.
Gutenberg, gravador em madeira, teve a ideia simples e genial de aplicar esse procedimento aos caracteres móveis de chumbo. Cada caráter representava uma letra do alfabeto em relevo.
A montagem de diferentes caracteres, linha por linha, permitia compor uma página de texto. Assim, com um custo marginal, era possível imprimir tantos exemplares idênticos da página quanto se desejasse.
Impresso um número suficiente de páginas, desmontava-se o suporte para que uma nova fosse composta. Dessa maneira, no tempo necessário para produzir um único manuscrito, era possível obter uma boa tiragem de um volume.
Com seu sócio Johann Fust, Gutenberg funda em Mainz uma oficina de tipografia. Depois de enormes esforços, conclui em 1455 a Bíblia Sagrada com “quarenta e duas linhas” por página, mais conhecida como a Bíblia de Gutenberg. Este primeiro livro impresso, com algumas dezenas de exemplares, alcança um sucesso imediato. A ele se seguiriam inúmeras outras obras.
O processo de tipografia difunde-se com grande velocidade em toda a Europa. Em uma analogia, pode-se comparar este sucesso com o da internet contemporânea. Estima-se que de 15 a 20 milhões de exemplares de um total de mais de 30 mil edições já haviam sido impressos antes de 1500. 77% desses livros eram escritos em latim e cerca de metade possuía teor religioso. Os livros dessa época levavam o nome de incunábulos, do latim “incunabulum”, que significa momento inicial, origem, berço.
Muitos incunábulos eram impressos em Veneza, então em plena glória. No século seguinte, Paris, Lyon e Antuérpia tornaram-se os mais importantes centros de impressão.
Os desdobramentos da imprensa são imensos. A princípio, altera-se a maneira de ler e escrever: os gráficos aliviavam os textos separando mais as palavras e a pontuação. Dessa maneira, instituíam também a ortografia.
A instrução e, mais ainda, o espírito crítico se expandem velozmente à medida que mais e mais pessoas passam a ter acesso direto aos textos bíblicos e antigos, sem que, para isso, sejam obrigadas recorrer aos comentários orais de um punhado de eruditos e clérigos.
Meio século após a invenção da imprensa, haveria a primeira grande fratura intelectual no cristianismo com a Reforma de Martinho Lutero e a emergência do protestantismo.
Também nesse dia:
1794 – Assembleia Nacional da França abole a escravidão em suas colônias
1962 – EUA impõem embargo a Cuba
1950 – Klaus Fuchs é preso por passar informações sobre a bomba atômica aos soviéticos
1954 – Tem início o cerco de Dien Bien Phu pelas tropas do general Vo Nguyen Giap
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Revolução tecnológica do tipógrafo alemão é comparável à internet contemporânea