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Jean-Henri Dunant, homem de negócios, filantropo, ativista em favor da causa humanitária, cuja trajetória foi reconhecida internacionalmente com o primeiro Prêmio Nobel da Paz, ao lado de Frederic Passy, em 1901, morre em 30 de outubro de 1910 em Heiden, Suiça, aos 82 anos. Em seu testamento, doou fundos para assegurar uma “cama libre” em sua residencia sempre disponível para algum cidadão pobre e legou algum dinheiro a amigos e organizações de caridade da Suíça e da Noruega.
Dunant nasceu em Genebra em 8 de maio de 1828. Sua familia era devota do calvinismo e gozava de influência na sociedade genebrina. Seus país enfatizavam o valor do trabalho social. Uma visita a Toulon, onde viu o sofrimento dos presidiários, influenciou a formação do jovem Dunant.
Ele cresceu no período do despertar religioso conhecido como o “Réveil” e, aos 18 anos filiou-se à Sociedade Genebrina das Almas. No ano seguinte, junto a alguns amigos, fundou a “Associação das Quintas-Feiras” que se dedicava a estudar a bíblia e ajudar os pobres. Em 1855 fundou na Suíça a YMCA (Associação Cristã de Moços).
Em 1853, visitou a Argélia, Tunísia e Sicília a cargo de uma companhia que explorava negócios nas “colônias de Sétif”. Inspirado na viagem escreveu seu primeiro libro, Relato da Regência em Túnis, publicado em 1858.
Em 1856 criou uma empresa, Moinhos de Mons-Djemila, para atuar nas colônias estrangeiras. Começou na Argélia ocupada pelos franceses, cultivando e comercializando trigo. Como suas terras e a água foram embargadas pelas autoridades coloniais, Dunant apelou diretamente ao imperador Napoleão III que estava com seu exército na Lombardia lutando contra a Áustria, que ocupava grande parte da Itália. Os quartéis estavam localizados em Solférino.
Dunant chegou a Solférino na tarde de 24 de junho de 1859, quando se travava uma batalha entre os exércitos austríacos e franco-piemontês: 38 mil mortos ou feridos agonizantes jaziam no campo de batalha sem qualquer ajuda. Impressionado, tomou a iniciativa de organizar a população civil, em especial mulheres, a fim de proporcionar alguma assistência aos feridos. Organizou a compra do que se necessitava e levantou hospitais de campanha. Sob o lema “Tutti Fratelli” (Somos todos irmãos), cunhado pelas mulheres, atenderam aos feridos sem olhar para que bando pertenciam.
Ao regressar a Genebra, Dunant descreveu no livro “Un Souvenir de Solférino” (1862) todo o quadro e suas experiências. Nele desenvolveu também a ideia de que, no futuro, uma organização neutra deveria ser criada para proporcionar cuidados aos soldados feridos.
Começou a viajar pela Europa promovendo suas ideias. Seu livro foi bem recebido pelo jurista Gustave Moynier, presidente da Sociedade para o Bem-Estar Público de Genebra, que organizou uma reunião para tratar do tema m 9 de fevereiro de 1863. Dela resultou a formação de um comitê de cinco pessoas: Dunant, Moynier, o general Henri Dufour, e os médicos Louis Appia e Theodore Maunoir. Sua primeira reunião, em 17 de fevereiro de 1863, é considerada o dia da fundação do Comitê Internacional da Cruz Vermelha.
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Apesar das visões discrepantes e da disputa entre Dunant e Moynier, 14 Estados participaram em outubro de 1863 de uma reunião em Genebra para discutir a melhora dos cuidados aos soldados feridos. Um ano depois, uma conferência diplomática organizada pelo Parlamento suíço formalizou a Primeira Convenção de Genebra.
Em setembro de 1895, Georg Baumberger, editor-chefe do jornal Die Ostschweiz, escreveu um artigo sobre Dunant, o Fundador da Cruz Vermelha, publicado na revista alemã Über Land und Meer. O artigo foi citado pelo papa Leão XIII e recebeu o apoio da czarina Maria Romanova, que doou recursos financeiros ao comitê.
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Sede do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, em Genebra, na Suíça
Em 1901, Dunant recebeu o Prêmio Nobel da Paz por seu papel de fundador do Movimento Internacional da Cruz Vermelha, conjuntamente com o pacifista francês Fréderic Passy, fundador da Liga da Paz.
Se bem que Dunant fosse apoiado por um amplo espectro no proceso de seleção, era um candidato controvertido. Alguns argumentaram que a Cruz Vermelha e a Convenção de Genebra tornaram a guerra mais atrativa ao eliminar alguns de seus sofrimentos. Ao se dividir o prêmio entre um pacifista estrito como Passy e o humanitário Dunant, o Comitê Nobel estabeleceu um precedente que teria significativas consequências nos anos posteriores. Muitos ganhadores do Nobel da Paz podem entender-se enquadrados em uma das categorías estabelecidas em linhas gerais pela decisão do Comitê Nobel em 1901: pacifismo e/ou humanitarismo.
A parte em dinheiro de Dunant – 104 mil francos suíços – foi depositada em banco norueguês longe do alcance dos seus credores. Dunant nunca tocou nesse dinheiro em toda a sua vida.
Em seus últimos anos sofreu depressão e paranoia devido ao sentimento de perseguição dos credores e da disputa com Moynier. Houve días em que exigiu que o cozinheiro provasse antes a comida, temendo envenenamento. Se bem que continuasse profesando crenças cristãs, no fim da vida atacou o calvinismo e a religião organizada em geral.
O dia de seu aniversario, 8 de maio, é celebrado como o Dia Mundial da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho. Sua residência em Heiden abriga hoje o “Museu Henri Dunant”. Em Genebra e outras localidades existem numerosas ruas, praças e escolas que recebem seu nome.
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