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História

Hoje na História: 1961 - Patrice Lumumba é assassinado no Congo

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Lumumba defendia firmemente a unidade dos povos africanos contra o colonialismo, acima das diferenças étnicas e tribais, e foi capaz de incorporar o anseio por liberdade de todos os povos oprimidos do continente

Max Altman

São Paulo (Brasil)
2020-01-17T13:00:00.000Z

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Em 17 de janeiro de 1961, o ex-primeiro ministro congolês Patrice Emery Lumumba foi morto, em condições então consideradas misteriosas, no sul do país. Como líder do Movimento Nacional Congolês (MNC), Lumumba havia conduzido o então Congo Belga (mais tarde Zaire e, atualmente, República Democrática do Congo) no processo de independência, efetivado em junho de 1960. 

Quando morreu, ele estava afastado do governo e já tinha se livrado do líder separatista de Katanga, Moïse Tshombé, desde o início da guerra civil, em setembro de 1960. Partidário de um Congo independente e unitário, foi considerado próximo demais da União Soviética, à qual pedira ajuda. A decisão de eliminá-lo foi atribuída à CIA e ao governo belga (antiga metrópole do país). Sua execução faria de Lumumba o símbolo da luta anticolonialista africana. 

Lumumba defendia firmemente a unidade dos povos africanos contra o colonialismo, acima das diferenças étnicas e tribais, e foi capaz de incorporar o anseio por liberdade de todos os povos oprimidos do continente. Por sua ação, tornou-se o grande líder da libertação dos povos africanos e dos ideais de liberdade e integração pan-africana. 

Lumumba nasceu em 2 de julho de 1925, em Onalua, e cursou escolas missionárias, única forma possível para que os congoleses tivessem acesso à educação. Em 1958, fundou o MNC, depois de ter sido eleito presidente do Sindicato Independente dos Trabalhadores Congoleses. 

Em dezembro daquele ano, ao discursar na Conferência dos Povos Africanos, foi saudado pela clareza com que defendeu as idéias pan-africanas de unidade contra o colonialismo. “A despeito das fronteiras que nos separam, a despeito de nossas diferenças étnicas, para fazer do continente africano livre e feliz, resgatado da insegurança, do medo e do jugo colonial”. Ao lado de Lumumba, estiveram outros proeminentes líderes africanos: Sekou Touré, da Guiné, Julius Nyerere, da Tanzânia, Tom Mboia, do Quênia, e Kwame Nkruma, da recém-libertada Gana - país anfitrião do encontro. 

Desde o começo, o dirigente congolês centrou sua ação política na unidade da nação, acima das veleidades e vaidades dos chefes tribais. Esta postura valeu a ele o ódio dos colonialistas que queriam derrubá-lo, instigando a rivalidade entre as etnias, mediante suborno, promessas e intimidações. 

Nas negociações em Bruxelas pela independência do então Congo Belga, a delegação congolesa exigiu a presença de Lumumba, que havia virado uma grande referência. Mas o sindicalista estava preso na época, acusado de incitar “a desobediência civil” durante as manifestações pela independência, em outubro de 1959. O governo belga teve de tirá-lo da cadeia diretamente para o avião. Na fase final das negociações, já com a presença de Lumumba, foram assinados os protocolos que detalhavam a transição do poder para um governo congolês. 

Wikimedia Commons
Lumumba defendia firmemente a unidade dos povos africanos contra o colonialismo

Em seu discurso no dia da independência, em 30 de junho de 1960, já como primeiro-ministro, aos 35 anos, alertou os povos africanos para os obstáculos que teriam de suplantar: “A República do Congo foi proclamada e agora se encontra nas mãos de seus próprios filhos. Juntos vamos começar uma nova luta, uma luta sublime… Vamos mostrar ao mundo o que o homem negro é capaz de fazer quando trabalha em liberdade... E para tanto, estejam certos de que contaremos não apenas com nossa imensa força e imensas riquezas, mas com a assistência de inúmeros países cuja colaboração aceitaremos, se ofertada livremente e sem a tentativa de imposição de uma cultura alienígena, não importa qual seja sua natureza. Conclamo-os a esquecer suas disputas tribais. Elas nos exaurem. Elas trazem o risco de sermos humilhados no exterior”. 

Sua aproximação com a União Soviética enfureceu Washington. Os EUA determinaram aos agentes da CIA que planejassem um golpe para derrubá-lo, prendê-lo e assassiná-lo.

Apoiando-se em Moïse Tshombé, que se proclamara líder da região de Katanga, uma das mais ricas do Congo, ocupada imediatamente por tropas belgas, e contando com a colaboração do general Joseph Mobutu, membro do governo Lumumba, o plano foi levado adiante. 

A participação da CIA no assassinato de Lumumba foi comprovada durante as audiências da Comissão Church, presidida pelo senador Frank Church. Como descreveu o relatório do inquérito: “Dulles (então chefe da CIA), telegrafou ao funcionário da base da CIA em Leopoldville, Congo, que ‘nos altos escalões’ a ‘remoção’ de Lumumba era ‘um objetivo urgente e prioritário’. 

Morto sob tortura, à noite, Lumumba deixara com sua mulher Pauline Opangu uma carta-testamento: “Minha fé se manterá inquebrantável. Eu sei e eu sinto no fundo de mim mesmo que cedo ou tarde meu país se libertará de todos os seus inimigos internos e externos, que ele se levantará, como um só homem para dizer não ao vergonhoso e degradante colonialismo e reassumir sua dignidade sob um sol puro”.


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SUB40

SUB40 - Humberto Matos: A esquerda precisa juntar seus cacos

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Em entrevista a Breno Altman, youtuber e historiador ressaltou a importância da organização coletiva no combate a Bolsonaro

Camila Alvarenga

Madri (Espanha)
2021-03-05T12:25:00.000Z

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Na edição do programa SUB40 desta quinta-feira (05/03), o fundador de Opera Mundi, Breno Altman, entrevistou o historiador e youtuber marxista Humberto Matos sobre sua trajetória como militante e a atual conjuntura brasileira. 

Para ele, a esquerda precisa “juntar seus cacos”, pois vem sendo atacada com muita violência, principalmente após o golpe de 2016. Sem pensar, no entanto, apenas em eleições. Pensando, isso sim, em criar novos horizontes políticos, firmar novas lideranças, ocupar espaços de discussão. 

“Cada líder de esquerda precisa ocupar o seu espaço. Isso significa entender a dimensão que cada um tem dentro da militância. O Lula, por exemplo, é a maior liderança do PT, que ocupe esse espaço. Não significa exigir dele um perfil revolucionário, porque isso nunca teve, mas exigir que ele se faça presente nos espaços que sempre teve junto aos sindicatos, ao MST, à classe trabalhadora”, defendeu.

O youtuber também se posicionou contrário a uma frente ampla para vencer Jair Bolsonaro em 2022 “a qualquer custo", porque "já vimos que tem um custo perigoso”. Ele acredita que uma frente de alianças é importante, mas que seja construída a partir de orientações políticas semelhantes, “não só juntando nomes para somar votos”.

Essa estratégia se faz especialmente necessária considerando que Bolsonaro ainda conta com uma forte base de apoio. Matos explica esse fator como sendo resultado da rede de disseminação de informações do presidente. “O exército de bots, as fake news, os canais de Youtube, são todos muito eficientes. Furar essa bolha é muito difícil. Estamos conseguindo, também por conta do genocídio diários que estamos vivendo, mas justamente diante dessa realidade, era para ele estar muito mais desconstituído do que está”, avaliou.

O youtuber lamentou o papel da grande mídia de massa, que poderia estar contribuindo para desmoralizar Bolsonaro, “mas não o faz porque não é interessante". "A mídia não tem um problema com o Bolsonaro, tem um problema com não estar participando do poder. Eles não querem uma mudança, querem um representante seu mais legítimo”. afirmou.

Falando sobre o atual presidente, Matos disse que ele é fruto de uma crise de estrutura prolongada do capitalismo e isso faz dele um fascista. 

“Bolsonaro não é algo aleatório, ele surgiu quando foi necessário aumentar a transferência da nossa riqueza para a centralidade global, porque o Brasil estava se associando a um outro eixo durante os governos do Partido dos Trabalhadores. Não era um governo revolucionário, mas que colocava restrições ao que o capital queria por ter uma raiz popular, apoio da classe trabalhadora, aliança com os BRICS. Então tudo foi subvertido para tirar o PT do poder. O produto dessa campanha violenta e perigosa foi o fascismo”, explicou.

Economia e marxismo

Seguindo essa linha de argumentação, Matos afirmou que o capitalismo nos condena a viver cada vez pior e que a pandemia escancarou os limites do sistema, vendido como muito eficiente. 

“O capitalismo não é eficiente, ele produz formas de atingir o lucro e a pandemia está mostrando isso. Não estamos mobilizando recursos para superar a pandemia por causa dos entraves do capitalismo. Quando olhamos a experiência em países de transição socialista como Vietnã e Cuba, vemos que estão produzindo resultados muito mais satisfatórios”, argumentou.

Nesse sentido, ele é taxativo: “quanto mais liberal, pior”, pois o liberalismo, e o neoliberalismo, estaria a serviço do capitalismo. Matos citou o colonialismo e o militarismo como outras ferramentas de manutenção do sistema

“O neoliberalismo é o estágio superior do imperialismo, a nova forma de colonialismo. Escraviza países do ponto de vista econômico, impedindo-os de se desenvolver plenamente. No caso dos militares, eu como marxista entendo que o Estado é um instrumento da classe dominante, uma classe capitalista. Os militares são o braço armado do Estado. Portanto, defende a classe dominante. Claro, não de maneira direta”, afirmou.

‘Quando cheguei no YouTube, era tudo mato’

A trajetória de Humberto Matos na política começou quando ele era pequeno, mas não da maneira como se espera de um militante da esquerda radical. Ele contou que sua mãe, professora do Magistério, tendia à direita - posição que ela rejeitou ao longo dos anos, identificando-se mais com a esquerda, atualmente. “Minha mãe era arenista e teve até uma época malufista”, contou o youtuber.

Seu primeiro contato real com a política foi quando entrou na faculdade de História e ouviu falar por primeira vez em Karl Marx. “Eu achava mais contundentes as respostas que o marxismo dava para a história”, recordou. 

Foi durante essa época que procurou um partido para se filiar e se engajar em movimentos sociais, “mas foi só quando me tornei professor que senti uma necessidade maior de ir além da educação. Era ingênuo pensando que só a minha atividade pedagógica transformaria o mundo”.

Matos relatou um pouco da sua experiência como professor e como logo no início da carreira teve de confrontar realidades muito opostas: “Dava aula numa escola das comunidades mais pobres, que as crianças iam para comer. Faltava tudo. Ao mesmo tempo, dava aula num dos colégios particulares mais caros. Tinha alunos que iam de camaro para a aula sem nem ter 18 anos”.

“Eu tinha realidades muito opostas escancaradas no meu dia a dia e via a brutalidade da disparidade de oportunidades que a desigualdade produzia na vida daquelas crianças. Aquilo não era razoável e atuar só fazendo pequenas coisas, precisava ir além e transformar a realidade com mais intensidade”, disse.

Assim, Matos criou seu canal no YouTube, em 2015, para tentar levar a consciência de classe para mais pessoas. “Quando eu cheguei era tudo mato, se dizer marxista era um sacrilégio, as pessoas não viam os vídeos”, confessou. 

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