O líder do Partido Fascista, Benito Mussolini, faz um discurso, em 3 de janeiro de 1925, no Parlamento em que assume o mando de assassinato do político de oposição, o socialista, Giacomo Matteotti. Mais tarde se aproveitaria da situação instável e do apoio do rei para instaurar concretamente um regime ditatorial fascista. Colocaria em vigor e as executaria duramente as leis fascistas que seriam votadas em 1926.
“Eu declaro perante a essa assembleia e perante a todo o povo italiano que assumo, eu sozinho, a responsabilidade política, moral e histórica de tudo o que aconteceu”, afirmou, durante o discurso. Foi uma declaração de cunho político, embora nunca tenham sido encontradas provas de envolvimento direto de Mussolini no assassinato.
Regime fascista
A imprensa seria amordaçada, as liberdades cívicas abolidas, os conselhos municipais suprimidos. O Partido Fascista viria a ser o partido único e a totalidade do poder se encontraria nas mãos do “Duce”. O rei Victorio Emanuelle III deteria apenas uma aparência de poder.
O ex-jornalista Benito Mussolini funda em Milão, em 23 de março de 1919, o movimento fascista “Fasci di Combattimento” (Esquadrões de Combate) – denominação dada por D'Annunzio, da qual derivou a palavra fascismo, criada pelo dramaturgo Sem Benelli e difundida pelo romancista Giuseppe Brunati. ‘Fascio’ em italiano traduz-se por feixe, feixes de varas carregadas pelos lictores, oficiais da antiga Roma que guardavam neles seus machados e que passou a ser o símbolo do movimento.
O grupo paramilitar, composto essencialmente por antigos combatentes da Primeira Guerra Mundial, pretendia reunir todos os descontentes contra o regime liberal e parlamentar italiano. Os “fasci di combattimento” contariam com 17 mil membros já no fim do ano e 700 mil no momento em que Mussolini assume o poder em 1922.
Depois de ter fundado o “Fasci”, Mussolini funda em novembro de 1921, num congresso realizado em Roma, o Partido Nacional Fascista, reunindo em seu seio todos os membros, setores e organizações afins. Nos dias que se seguiram à Primeira Guerra Mundial, a Itália era presa de uma desordem social e política particularmente favorável à expansão fascista.
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Adolf Hitler e Benito Mussolini
Os camisas negras de Mussolini iniciam em 28 de outubro de 1922 uma marcha espetacular em direção a Roma. Organizada desde o mês de agosto por Balbo, De Bono, Bianchi e De Vecchi, a manifestação aparece antes de tudo como um ato simbólico da subida ao poder do fascismo. O rei Victorio Emmanuelle III já tinha tomado a decisão de nomear Mussolini como chefe de governo antes mesmo da marcha ser anunciada.
Cerca de 20 mil camisas negras atingiram a capital, mas o soberano, em vez de proclamar o estado de sítio, despacharia um telegrama a Mussolini convidando-o a assumir o governo. O chefe do partido estava em Milão e pôde viajar a Roma em total segurança.
Em 29 de outubro de 1922, o rei pede oficialmente ao chefe do Partido Nacional Fascista que forme o novo governo. No dia seguinte Benito Mussolini torna-se o presidente do Conselho italiano. Num primeiro momento, mantém a forma de governo parlamentar e constituiria uma coalizão entre liberais, católicos e nacionalistas. Paulatinamente até 1926, o novo chefe de governo trataria de reforçar seu poder.
Uma votação da Câmara de Deputados confere em 25 de novembro de 1922 plenos poderes a Mussolini por um ano. O futuro “Duce” obteve esse voto graças a um discurso de intimidação, chamado de “bivaque” (acampamento provisório de tropas) e de violências de rua. Pôde assim abrir caminho para a instauração do Estado fascista totalitário. Proibiria definitivamente toda oposição quatro anos mais tarde.
Em eleições realizadas em 6 de abril de 1924, o Partido Fascista conquista 372 cadeiras no Parlamento contra 144 da oposição. No final desse mesmo ano Mussolini assumiria o poder absoluto e o partido instaurado como partido único em toda a Itália.
Em 10 de junho de 1924, Giacomo Matteotti é sequestrado e assassinado por um grupo de partidários fascistas. O corpo de Matteotti seria encontrado em agosto, perto da cidade de Riano, a 20 km de Roma, em 16 de agosto. Cinco homens, Amerigo Domini, membro da polícia secreta fascista, Giuseppe Viola, Albino Volpi, Augusto Malacria e Amileto Poveron, foram condenados pelo crime e, logo em seguida, anistiados por Victorio Emmanuelle III.
O homicídio suscitaria uma grande indignação na opinião pública, pondo em perigo o governo mussoliniano. Os deputados de oposição deixariam a Câmara ao mesmo tempo em que certos partidários do fascismo romperiam bruscamente com o partido. Diante da situação, o chefe de governo assume todas as responsabilidades pelo crime.
(*) Publicado originalmente em 03 de janeiro de 2011.