Acionistas da Scania alemã pedem investigação sobre colaboração da empresa com ditadura brasileira
Exigência será reforçada no próximo dia 14 de maio durante a assembleia dos acionistas da empresa na Alemanha
Em moção publicada no site da Traton SE (Grupo Traton), subsidiária da Volkswagen, acionistas da Scania alemã exigem uma investigação sobre a colaboração da empresa com a ditadura militar do Brasil.
A exigência será reforçada no próximo dia 14 de maio, quando acontecerá a reunião de acionistas do grupo.
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Sem os devidos esclarecimentos, eles afirmam que não poderão aprovar as ações do Conselho de Supervisão da Traton SE, relativos ao ano fiscal de 2024.
Os acionistas pertencem à Associação de Acionistas Críticos da Alemanha e alegam que o Conselho de Supervisão da Traton SE não cumpriu sua responsabilidade de reconhecer totalmente as violações de direitos humanos na história da empresa.
O pedido é semelhante ao realizado décadas atrás por acionistas da Volkswagen, que levou à investigação da colaboração da empresa com a ditadura militar brasileira.
Com a ação e as descobertas da Comissão Nacional da Verdade (CNV), o Ministério Público de São Paulo conseguiu processar a Volkswagen do Brasil por sua colaboração com a ditadura, o que resultou em um termo de ajustamento de conduta da empresa.
A Volkswagen pagou uma indenização aos perseguidos políticos e criou um fundo para reparações históricas.

Divulgação Scania
Confira a íntegra da moção:
O Conselho de Supervisão da Traton SE não cumpriu sua responsabilidade de reconhecer totalmente as violações de direitos humanos na história da empresa.
No ano passado, a Associação de Acionistas Críticos da Alemanha pediu à TRATON SE que finalmente assumisse sua responsabilidade histórica e investigasse a colaboração de sua atual subsidiária Scania Brasil com a ditadura militar brasileira.
Para esse fim, a Associação se referiu a várias evidências históricas, apresentadas em sua contribuição verbal durante a AGM HV 2024, durante a qual solicitou à TRATON SE que tomasse providências.
Em sua resposta, o Presidente do Conselho de Supervisão da TRATON SE, Hans Dieter Pötsch, concordou em realizar uma investigação histórica. A Associação de Acionistas Críticos da Alemanha espera que os resultados dessa investigação sejam apresentados na AGM 2025 deste ano.
Em 2020, após anos de persistentes apelos por parte da Associação de Acionistas Críticos da Alemanha, entre outros, a Volkswagen do Brasil concordou em pagar uma combinação de reparação individual e coletiva para as vítimas da colaboração entre a VW do Brasil e a ditadura militar brasileira.
A mesma ação deve ser tomada pela Scania.
As provas apresentadas pela Associação de Acionistas Críticos da Alemanha mostram como os funcionários foram espionados e confirmam a demissão ilegal de funcionários dissidentes, a preparação e a distribuição das chamadas listas “sujas”, com base nas quais os trabalhadores em questão foram demitidos e, como seus nomes apareciam nessas listas, não conseguiram encontrar emprego em outras empresas.
A acusação mais grave diz respeito ao papel histórico do diretor-presidente de longa data da Scania Brasil, João Baptista Leopoldo Figueiredo, que, de acordo com uma reportagem do jornal conservador O GLOBO, esteve pessoalmente envolvido na arrecadação de fundos para o centro de tortura OBAN (mais tarde conhecido pelo nome DOI-CODI) e que supostamente ajudou a organizar essas campanhas de arrecadação de fundos no Clube Paulistano.
Investigações realizadas por historiadores renomados indicam que 66 pessoas foram assassinadas na OBAN/DOI-CODI, 39 das quais morreram em decorrência das terríveis torturas.
A última notícia que se teve de outras 19 pessoas foi que estavam sendo presas e levadas para o DOI-CODI. Desde que foram sequestradas à força, elas continuam desaparecidas.
Há muito tempo a TRATON SE deveria assumir total responsabilidade histórica por esse assunto e não se permitir mais uma vez invocar erroneamente o argumento de um perpetrador individual, como no caso da Volkswagen do Brasil (essa postura também foi criticada pelo Prof. Christopher Kopper).
Em vez disso, é uma questão de reconhecer a participação sistêmica da Scania na repressão e sua colaboração explícita nos crimes contra a humanidade cometidos pela ditadura militar brasileira.
www.kritischeaktionaere.de
Colônia, 29 de abril de 2025.
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