Em 25 de fevereiro de 1830 se desenrola em Paris a mais famosa batalha jamais desencadeada por escritores e artistas. Ficou conhecida na história sob o nome de “Batalha de Hernani”, do nome de uma peça de Victor Hugo que estava sendo representada naquela noite pela primeira vez.

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Victor Hugo, então com 27 anos, já era um escritor de sucesso. Fazia parte do Cenáculo Romântico, animado por Charles Nodier e o poeta Sainte-Beuve, teórico do movimento.

[Victor Hugo]

O Cenáculo Romântico fazia suas reuniões na casa de Hugo em Paris, rua Notre-Dame-des-Champs, na “câmara do lírio dourado” – derivado do nome da flor levada por Hugo aos 19 anos aos Jogos Florais de Toulouse. Lá podiam ser encontrados personagens como Balzac, Vigny, Musset, Dumas, o pintor Delacroix, entre outros.

A reunião de 30 de setembro de 1829 foi dedicada à leitura de “Hernani”. E ela prenunciou a batalha seguinte.

Houve um grande entusiasmo por esta peça teatral visto que quebrava os cânones da dramaturgia clássica, notadamente em suas três unidades: tempo, lugar e ação, enunciadas pelo crítico e poeta Nicolas Boileau-Despréaux, mais conhecido apenas por Boileau, sob o longínquo reinado de Luis XIV. A peça conta a história do desafortunado amor de um proscrito, Hernani, por uma jovem infanta, doña Sol.

Chega o dia da estreia na Comédie-Française. Todavia, o espetáculo transcorre no saguão de entrada antes que sobre o palco. E não é a heroína, papel desempenhado pela Mademoiselle Mars, que exclamava o celebérrimo verso: “Você é o meu leão, soberbo e generoso”.

Reunidos em bloco, inflamados pelas longas discussões preliminares, os “Jovem-França” românticos da plateia, entre os quais se podia notar Gérard de Nerval e Théophile Gautier, vestidos com jaqueta vermelha brilhante, insultam copiosamente os “cabeleiras postiças” dos camarotes e balcões nobres que permaneciam fieis às regras clássicas.  Chegaram a partir para as vias de fato.

Os dias seguintes foram ainda mais agitados. Em julho do mesmo ano, a capital expulsa o rei Charles X em virtude da revolução romântica dos “Três Gloriosos” – Revolução de Julho de 1830, também conhecida em francês por Les Trois Glorieuses, designação dada aos acontecimentos dos dias 27, 28 e 29 de Julho de 1830, durante os quais o povo de Paris e as sociedades secretas republicanas, liderados pela burguesia liberal, fizeram uma série de levantes contra Carlos X da França, que culminaram na sua abdicação e no fim do período conhecido como Restauração Francesa.

Victor Hugo apresta-se a publicar um romance que viria a ter um estrondoso sucesso:  “O Corcunda de Notre-Dame”. Totalmente voltado ao trabalho, não percebe que as visitas de Sainte-Beuve a seu domicílio não mais eram motivadas por batalhas poéticas.

Tinha o poeta 30 anos quando ocorreu o envolvimento amoroso de Adele Hugo, sua mulher, com Sainte-Beuve. Hugo rompe com o amigo de longa data. O Cenáculo se dispersa, porém a fabulosa criatividade literária dos românticos estava apenas em seu começo. E ela se expandiria sob o tranquilo reinado de Luis Felipe I.