A primeira-ministra indiana Indira Gandhi é assassinada em 31 de outubro de 1984 por dois extremistas sikhs de sua guarda pessoal. Com esse gesto, os Sikhs queriam vingar seu povo fortemente reprimido pelo exército indiano por ocasião da “revolta dos sikhs” em 1983 contra a sangrenta invasão, ordenada por Indira em junho, do Templo Dourado de Amritsar, quando morreram 800 sikhs, inclusive seu líder máximo, Singh Bhindranwale e 100 soldados.
Imediatamente após a morte de Indira Gandhi, seu filho Rajiv Gandhi é nomeado sucessor provisório. Os assassinos foram mortos por outros agentes. Após o anúncio do atentado, os sikhs foram caçados nas ruas das principais cidades do país por multidões que incendiaram lojas e restaurantes.
Como Mahatma Gandhi, em 1948, Indira foi assassinada num jardim. Ela saia de casa para dar uma entrevista ao ator inglês Peter Ustinov, que estava na Índia rodando um seriado sobre líderes políticos. “Ela tropeçou e caiu”, relatou Sharda Prasad, seu secretário de imprensa. O segundo guarda descarregou então sua submetralhadora contra a primeira-ministra. Outro extremista disfarçado foi preso no local. Mais tarde um telefonema anônimo assumia o atentado como “vingança da seita sikh contra a invasão de seu Templo Dourado em Amritsar por tropas governamentais”.
Indira foi morta por um de seus guarda-costas de maior confiança, o inspetor Beant Singh, que exercia o cargo havia dez anos. Singh e o capitão Sawant Saingh, guarda-costas nomeado recentemente, dispararam contra Indira às 9h18. Ustinov estava do lado de fora da casa num gramado onde seria feita a entrevista. “Tudo estava pronto, e ela caminhava em nossa direção, quando ouvimos três disparos”, contou Ustinov à televisão francesa, acrescentando: “Por um momento pensamos que fossem fogos de artifício, mas logo após um dos guardas disparou a metralhadora contra ela”.
Sangrando em profusão, Indira foi levada ao Instituto de Ciências Médicas onde chegou às 9h32 dentro de um veículo militar. Apesar de chegar sem respiração, pulso, e com as pupilas dilatadas, os médicos ainda lutaram para salvar sua vida. Ela foi ligada a um coração e um pulmão artificiais enquanto uma equipe de 12 médicos tentava restabelecer seus sinais vitais e extrair 15 balas de seu tórax. Às 13h15, a agência indiana de notícias PTI anunciava oficialmente a morte da mulher que governara a Índia durante quinze dos últimos dezoito anos.
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Ainda pela manhã, cem mil pessoas se juntaram torno do hospital, a maioria gente simples das favelas. Os semblantes eram de preocupação e foram se tornando desesperados até se transformaram em cenas de revolta que não eram presenciadas na Índia desde o assassinato do líder nacional Mahatma Gandhi. Na véspera de sua morte, Indira parecia ter uma premonição, ao discursar num ato político: “Mesmo que eu morra a serviço da Nação, me orgulharei disto. Cada gota de meu sangue contribuirá para o crescimento da Índia”.
O corpo de Indira Gandhi ficou exposto à visitação pública quando foi cremado, numa praça da capital, segundo a tradição hindu. O atentado causou comoção no país e eclodiram conflitos violentos entre a maioria hindu e membros da minoria sikh.
Os sikhs são membros de uma seita religiosa que defende a fundação de um país independente no Estado do Punjab. Desde a infância os membros dessa comunidade recebem formação religiosa e militar. Muitos deles fazem carreira, ocupando postos de importância no Exército e nos serviços de segurança indianos.
Na tarde do dia do assassinato, o filho de Indira, Rajiv Gandhi, 40 anos, secretário-geral do Partido do Congresso, prestou juramento como novo premiê. Ele tomou posse em reunião de emergência do gabinete, logo depois que a notícia do assassinato foi divulgada em todo o país. E pediu à população que evitasse manifestações violentas.