Terça-feira, 10 de junho de 2025
APOIE
Menu

Acionistas da Scania alemã concordam em analisar informações que surgirem a respeito da colaboração da empresa com a ditadura militar no Brasil (1964-1985). A informação foi dada na manhã desta quarta-feira (14/05) durante assembleia da Traton SE (Grupo Traton, subsidiária da Volkswagen, na Alemanha) quando foram apresentados novos dados divulgados em reportagens publicadas pelo portal Opera Mundi.

Com cerca de três horas de duração, o encontro contou com a presença física de integrantes do Conselho Administrativo da montadora após um pedido de esclarecimentos de seus acionistas sobre a colaboração da Scania durante o regime militar.

Uma série de evidências neste sentido envolvem a participação da Scania, de origem sueca e atualmente pertencente à Traton SE. Entre elas, a participação de seu presidente à época, João Batista de Leopoldo Figueiredo, na arrecadação de fundos para a criação da Operação Bandeirantes (Oban).

Receba em primeira mão as notícias e análises de Opera Mundi no seu WhatsApp!
Inscreva-se

No dia 2 de maio, os acionistas da empresa na Alemanha publicaram uma moção no site da Traton SE, exigindo esclarecimentos. Eles alegaram que não poderiam aprovar as ações do Conselho de Supervisão do Grupo Traton, relativos ao ano fiscal de 2024, sem uma resposta sobre a colaboração da Scania com a ditadura brasileira.

Durante assembleia de acionistas nesta quarta, o diretor-geral da Traton SE, Christian Levin, respondeu aos questionamentos de Christian Russau, diretor dos Acionistas Críticos da Alemanha.

Russau reiterou o pedido de esclarecimentos feitos no ano passado, descreveu a suposta participação de Leopoldo Figueiredo no financiamento do DOI-Codi e citou os estudos e as três reportagens de Eduardo Reina e Maria Angélica Ferrasoli publicadas em Opera Mundi:

Parte 1 – Em apoio à ditadura, Scania agiu na Suécia para impedir que bispo brasileiro recebesse Nobel da Paz

Parte 2 – Scania incluiu trabalhadores de greve liderada por Lula na ‘lista suja’ e colocou espião em assembleias

Parte 3 – Scania: bilhete encontrado em armário violado desencadeou perseguição a metalúrgico

Por sua vez, o Grupo Traton e a Scania responderam que “levam a sério” tais alegações e que um processo de revisão interno foi iniciado. No entanto, afirmaram que não encontraram “provas” de envolvimento da montadora sueca com o governo militar brasileiro, declaração que vai na contramão dos documentos encontrados e publicados nas reportagens especiais.

Questionada se a empresa vai encomendar uma investigação histórica independente e entrar em contato com as pessoas afetadas, historiadores e grupos de direitos humanos, Levin reiterou que foi realizada uma investigação  exaustiva e que a empresa concorda em analisar informações adicionais se elas surgirem.

“Estas informações poderão incluir testemunhos das pessoas afetadas. Se essas novas informações surgirem, consideraremos os próximos passos adequados”, afirmou.

Confira a resposta da empresa:

A TRATON e a Scania levam muito a sério as alegações de violações históricas dos direitos humanos. Iniciamos um processo de revisão interna através de um grupo de trabalho especial para investigar as alegações contra a Scania no Brasil e possíveis ligações aos acontecimentos durante o período da ditadura militar de 1964 a 1985.

Com base nesta avaliação, a força-tarefa não encontrou provas de que a Scania, enquanto empresa, estivesse envolvida na vigilância ilegal dos seus funcionários ou que cooperasse diretamente com as forças de segurança brasileiras. O nosso objetivo era investigar exaustivamente as alegações de forma sistemática e estruturada.

De acordo com a política da nossa empresa, o nosso primeiro passo foi realizar uma revisão interna completa para recolher e avaliar todas as informações internas disponíveis da Scania no Brasil durante este período.

O objetivo desta análise interna era estabelecer uma base factual a partir dos nossos registros. A investigação interna não pôde confirmar que a Scania, enquanto empresa, tenha se envolvido em vigilância ilegal, cooperado diretamente com as forças de segurança ou financiado centros de repressão.

No entanto, comprometemo-nos a investigar informações adicionais ou novas que possam ligar as ações da Scania, enquanto empresa, a violações dos direitos humanos. Defendemos os valores democráticos, a transparência e a responsabilidade e continuamos empenhados num diálogo construtivo com a sociedade civil e todas as partes interessadas sobre esta importante questão.