René Laennec morre aos 45 anos em 3 de agosto de 1826, em decorrência de tuberculose pulmonar, fato particularmente irônico para um homem que dedicou grande parte de sua vida a estudar as doenças pulmonares. Foi inventor da pectoriloquia – o famoso “diga 33” do médico – folhas de papel enroladas em forma de cilindro que, apoiadas no tórax do paciente, permitia ouvir bem a batida do coração. Aperfeiçoada, a invenção levou o nome de estetoscópio.
Laennec, conhecido como o pai da moderna ciência das doenças pulmonares, é considerado por muitos como um dos maiores clínicos de todos os tempos. Trouxe uma grande contribuição à ciência médica ao introduzir um método de diagnóstico chamado de auscultação: envolve escutar e identificar os vários sons feitos pelos diferentes órgãos. A especialidade de Laennec era ‘doenças do peito’. Inicialmente, seu método diagnóstico consistia em colocar o ouvido diretamente no peito do paciente.
Embora tenha se tornado famoso pela invenção do que ele próprio chamava de “examinador do peito”, foi a primeira pessoa a descrever um raro tipo de tuberculose, a tuberculosis verrucosa cutis, tuberculose da pele, e deu o nome à cirrose, do grego kirrhos, significando cor amarelo-tostada. O termo ‘cirrose de Laennec’ é ainda usado para descrever a cirrose hepática alcoólica.
Laennec nasceu em Bretanha, na França. Excelente estudante, começou a estudar Medicina com seu tio. Em 1800, aos 19 anos, ingressou na Universidade de Paris, ganhando em seu primeiro ano prêmios tanto em Medicina quanto em cirurgia.
Teve como orientador o médico pessoal de Napoleão, Jean Corvisart, que se valia da percussão – pequenas batidas com e sobre os dedos – a fim de diagnosticar distúrbios orgânicos. Laennec melhorou o método, colocando o seu ouvido diretamente no peito do paciente para identificar e diferençar sons saudáveis e anormais do coração e do sistema respiratório.
Foi pioneiro ao realizar autópsias, identificando as causas precisas dos sons anormais, o que lhe permitia melhorar o diagnóstico. Relacionou dezenas de distintos sons, cunhando termos como ‘estertor’ usado para definir sons anormais no peito e ‘ronco’ para descrever uma crepitação ruidosa e grave durante a exalação, termos até hoje usados pelos médicos.
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Retrato ilustrado de René Laennec, feito durante o século XIX
Em 1819, Laennec escreveu seu famoso tratado Da Auscultação Mediata, no qual descreveu, com detalhes sem precedentes, os sons das doenças torácicas e como chegou a inventar o ‘examinador de peito’.
“Em 1816, fui consultado por uma mulher jovem com sintomas de doença cardíaca, e, no caso, a percussão era de pouca serventia, em virtude do seu grande grau de adiposidade. A escuta direta, inadmissível, dado o constrangimento de colocar o ouvido no seio de uma mulher.”
A ideia do estetoscópio ocorreu quando Laennec notou algumas crianças brincando, apondo seus ouvidos na ponta de uma comprida ripa de madeira para ouvir o som das batidas feitas com um peça de ferro na outra extremidade. Lembrando-se da brincadeira, Laennec enrolou diversas folhas de papel em forma de cilindro, colocando uma ponta no peito da paciente e outra em seu ouvido. “Foi com enorme surpresa e satisfação que descobri que podia ouvir a pulsação do coração de um modo muito mais nítido e diferente”, escreveu.
Experimentando materiais de diferentes tipos, densidades, comprimentos e espessuras, centrou-se num “cilindro de madeira de 3,8 centímetros de diâmetro e 30,5 de comprimento, perfurado longitudinalmente por um calibre de 5 milímetros, terminando com uma peça oca em forma de funil.
Em 1822, Laennec sucedeu a Corvisart na cátedra de medicina do Collège de France. Quatro anos mais tarde, enquanto estudava tuberculose, cujas propriedades de contágio ainda não eram conhecidas, contraiu a doença e morreu pouco depois.
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(*) A série Hoje na História foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.