Aos 23 anos, o Marquês Donatien Alphonse François de Sade é levado preso, em 29 de outubro de 1763, por ordem real, à torre de Vincennes. Esta prisão seria a primeira de uma longa série. Seria acusado de “corrupção escandalosa” por diversas vezes e suas libertinagens lhe valeriam 30 anos de prisão ao longo da vida.
Marquês de Sade é o mais infame escritor de baixa qualidade na história da literatura francesa. Foi por vezes saudado como “o espírito mais livre que jamais existiu”. Os escritos eróticos de Sade deram origem ao termo sadismo – prazer da crueldade – que entrou pela primeira vez no dicionário em 1834. Seus textos são vistos como exploração da liberdade sexual e política.
Sade nasceu em Paris em junho de 1740 numa família aristocrática, que entrou para a nobreza no século XII e permaneceu como a mais poderosa da região sul da Provence. Aos quatro anos, foi enviado a Avignon aos cuidados do tio, Abade de Sade, cuja vida sexual era notoriamente irregular. Posteriormente, ingressou no colégio jesuíta Louis Le Grand. Dos 14 aos 26, prestou serviço militar ativo, participando da Guerra dos Sete Anos. Casou-se em 1763 com Renée de Montreuil, filha de uma família da alta burguesia, mas também iniciou um caso com uma atriz e convidava prostitutas para sua casa.
Em 1768 manteve uma prostituta em cárcere privado, dela abusando. Foi considerado culpado de todos os tipos de crimes sexuais, inclusive seduzindo a irmã mais nova de sua mulher.
Em Aix em 1772 Sade foi condenado à pena de morte por crime hediondo e envenenamento, mas conseguiu fugir para a Itália. De 1773 a 1777, de volta à França, organizou orgias e contratou um harém de mocinhas como escravas sexuais. Após contínuos escândalos, foi preso passando 27 anos em diversas prisões.
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Escritos eróticos de Sade deram origem ao termo sadismo: prazer da crueldade
Livros
Sade foi transferido em 1784 para a Bastilha, onde gozou de enorme cela. Cercado de prisioneiros perigosos, escreveu Os 120 Dias de Sodoma, um clássico ‘underground’. Foi transferido em abril de 1790 para o asilo de Charenton como insano. No ano seguinte, aos 51 anos, publicou Justine (1791). Na sequência, Juliette (1797), heroína irmã de Justine, que desfrutava das delícias da maldade: “Quão encantadores são esses instrumentos de tortura, deste crime que amamos.” Sade corajosamente endereçou uma cópia do romance a Napoleão em 1803. Napoleão recusou-se a libertá-lo. A obra Juliette que consistia de 6 volumes, era a segunda parte da monumental A Nova Justine (1797), cerca de 4 mil páginas do Evangelho do Mal, que afirmava que o vício, ou os prazeres da imaginação, não podem ser punidos com a prisão.
Justine, o mais famoso trabalho de Sade, descreve graficamente os encontros sexuais de uma jovem mulher. Na filosofia de Sade Deus é o mal e os infortúnios de Justine são o resultado da negação dessa verdade. O próprio Sade declarou que Justine era uma obra “capaz de corromper o demônio”.
De algum modo, Sade sobreviveu à Revolução Francesa, embora muitos outros aristocratas tenham sido executados e seu nome constasse em 1794 de uma lista de prisioneiros que deveriam ser levados a julgamento e possivelmente à guilhotina. A fim de garantir a liberdade e proteger seus bens escreveu um elogio de Marat, sendo até eleito secretário de seu distrito em Paris. Em 1801 foi novamente preso e enviado a Charenton, onde começou a escrever um romance de 10 volumes, Crimes de Paixão. Durante esse período, escreveu e encenou peças no asilo, apesar do Ministro do Interior ter emitido ordem “para que se tomasse o maior cuidado a fim de que ele (Sade) não tivesse acesso a lápis, plumas, tinta ou papel.”
Passou os últimos dias sob assistência de um abade. Após sua morte em 2 de dezembro de 1814, o filho mais velho queimou todos os manuscritos. O túmulo de Sade foi mais tarde profanado quando sua caveira foi roubada para medições pseudocientíficas.