Na manhã de 10 de novembro de 1937, tropas cercaram e fecharam o Congresso Nacional brasileiro. Getúlio Vargas foi ao rádio justificar o golpe: “O homem de Estado, quando as circunstâncias impõem uma decisão excepcional, de amplas repercussões e profundos efeitos na vida do país, não pode fugir ao dever de tomá-la”. Estava nascendo o Estado Novo. A instauração desse Estado foi baseada em uma nova Constituição, que ficou conhecida como “a polaca”, pois se inspirava na constituição da Polônia.
Havia entre elementos das altas autoridades políticas e militares do Brasil uma forte simpatia pelo nazi-fascismo, em ascensão na Europa. Em decorrência disso, a Constituição outorgada acabava com o princípio de harmonia e independência entre os três poderes.
O Executivo é considerado “órgão supremo do Estado” e o presidente é a “autoridade suprema” do país: controla todos os poderes, os estados da Federação e nomeia interventores para governá-los. A “polaca” instituiu a pena de morte e o estado de emergência, que permitia ao presidente suspender as imunidades parlamentares, invadir domicílios, prender e exilar opositores.
Ganhava destaque também o estímulo à organização sindical em moldes corporativos, uma das influências mais evidentes dos regimes fascistas. O Parlamento e os partidos políticos, considerados produtos espúrios da democracia liberal, eram descartados. A Constituição previa a convocação de uma câmara corporativa com poderes legislativos, o que jamais aconteceu. A própria vigência da Constituição dependeria da realização de um plebiscito que a referendasse, o qual também jamais foi convocado.
Em 1937 três candidatos disputavam a presidência cujas eleições estavam marcadas para janeiro de 1938: o paulista Armando de Sales Oliveira, apoiado pelos partidos Constitucionalista e Republicano Mineiro e pelo governador gaúcho, Flores da Cunha, e por facções liberais de outros Estados; o paraibano José Américo de Almeida, apoiado pelo Partido Libertador do Rio Grande do Sul, pelo governo de Minas Gerais e pela maioria das oligarquias nordestinas; e o integralista Plínio Salgado. Vargas declarava seu apoio a José Américo, mas, ao mesmo tempo, encomendou secretamente ao jurista Francisco Campos, simpatizante do fascismo, uma nova Constituição.
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Foram suspensas as eleições e o exército passou a controlar as forças públicas estaduais, apoiadas pela polícia política de Filinto Müller
Em 30 de setembro de 1937 o general Góis Monteiro, chefe do Estado-Maior do Exército, divulgou à nação o “tenebroso” Plano Cohen: uma suposta manobra comunista para a tomada do poder através da luta armada, assassinatos e invasão de lares. O Plano, que depois se descobriu ter sido forjado por um adepto do integralismo ligado a generais de Getúlio, o capitão Olímpio Mourão Filho, o mesmo que daria início ao golpe de 31 de março de 1964, justificou a decretação do estado de guerra, aprovado pelo Congresso, em 1º de outubro de 1937, e que foi o sinal verde para o golpe. Neste clima, cresceram a repressão aos movimentos sociais e a conspiração para instaurar uma ditadura no país.
Com o golpe já em andamento, Getúlio reforçou suas alianças com o governador de Minas, Benedito Valadares, e de vários estados do Nordeste. Em 10 de novembro de 1937 as Forças Armadas cercam o Congresso Nacional e, à noite, Vargas anuncia a outorga da nova Constituição.
Foram suspensas as eleições. O exército passa a controlar as forças públicas estaduais, apoiadas pela polícia política de Filinto Müller. Prisões arbitrárias, tortura e assassinato de presos políticos e deportação de estrangeiros são constantes.
O Estado Novo foi apoiado pelas classes médias e por amplos setores das burguesias agrária e industrial. Paralelamente, Vargas amplia suas bases populares recorrendo à cooptação dos trabalhadores urbanos pela sistematização da legislação trabalhista.
A ditadura Vargas se estendeu até 29 de outubro de 1945, quando Getúlio é deposto pelos militares.