O economista liberal David Ricardo morre em Gatcomb Park, Gloucestershire, no dia 11 de setembro de 1823. Apóstolo do livre mercado ele está na origem de uma célebre teoria sobre o valor do trabalho, tendo fornecido a Karl Marx a base de sua teoria sobre a mais-valia.
Quem foi David Ricardo?
Nascido em Londres em 1772, é originário de uma família judaica da Holanda. Nesse país, recebeu sua primeira educação ortodoxa. Formou-se ajudando seu pai, que era corretor na Bolsa de Valores. Rompe com sua família por se casar com uma mulher cristã quaker.
Com sua teoria da vantagem comparativa, argumentou de maneira convincente em favor do livre-cambismo. Votou pela revogação da Lei de Grãos, mecanismo protecionista que contribuía para enriquecer os latifundiários que dominavam o Parlamento em detrimento dos verdadeiros criadores de riqueza. Estabeleceu-se como corretor e especulador na Bolsa. Em pouco tempo acumulou uma grande fortuna que o permitiu se aposentar aos 40 anos.
Sua formação econômica foi autodidata e tardia e se deveu à leitura da obra fundamental de Adam Smith, A Riqueza das Nações. A partir dela desenvolveu seu próprio pensamento, centrado inicialmente em questões monetárias. Neste terreno não foi muito original, defendendo a teoria quantitativista que vinculava a inflação monetária com a abundância de dinheiro. Postulava, dessa forma, a volta do Banco da Inglaterra ao padrão ouro.
Foi seu amigo, James Mill, que, consciente de seu valor intelectual, o estimulou a publicar sua concepção teórica do sistema econômico. Surgiu então Princípios de Economia Política e Tributação, uma obra breve que contém a formulação mais sistemática e coerente do pensamento econômico clássico.
Mill quis que ele fosse mais além e o convenceu a entrar na vida política ativa para “educar” o Parlamento em matéria de economia. Efetivamente, conseguiu eleger-se por um distrito da Irlanda em 1819 e atuou na Câmara dos Comuns como um liberal independente até sua morte. Durante anos manteve um acalorado debate intelectual, compatível com relações de amizade e respeito com Malthus.
Obra e teoria em David Ricardo
A obra de Ricardo se destaca por seu raciocínio abstrato, simplificando a realidade até definir um modelo teórico que dê conta do funcionamento essencial do sistema econômico. É geralmente por isso considerado o pai da teoria econômica e o primeiro economista profissional.
Foi um ardente liberal, partidário de políticas econômicas que impulsionassem o crescimento econômico de maneira a garantir aos capitalistas altas margens de lucro. Chegou a teorizar o processo da revolução industrial britânica.
Argumentou que os salários não podiam nem deviam elevar-se para além do nível de subsistência. Criticou a saciedade os latifundiários, descrevendo a renda da terra como um ingresso parasitário que não contribuía com a produção e freava o crescimento.
Acreditava que um processo de elevação das rendas da terra, acrescido do incremento dos salários dos trabalhadores, iria paulatinamente reduzir as margens de lucro até provocar o fim do crescimento capitalista – o Estado estacionário.
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David Ricardo foi um economista e pensador da teoria do liberalismo, tendo sido base dos estudos críticos de Marx
Com sua teoria da vantagem comparativa, argumentou de maneira convincente em favor do livre-cambismo. Votou pela revogação da Lei de Grãos, mecanismo protecionista que contribuía para enriquecer os latifundiários que dominavam o Parlamento em detrimento dos verdadeiros criadores de riqueza.
Ricardo foi um porta-voz qualificado dos interesses empresariais nascidos do calor da Revolução Industrial. Assim se explica sua influência sobre o restante da escola clássica e sobre o pensamento econômico ortodoxo do mundo capitalista.
Não obstante, também havia em seus textos elementos que permitiram interpretações de tipo socialista. De fato, o pensamento econômico de Marx consistiu em desenvolver as ideias de Ricardo até suas últimas consequências.
Por exemplo, Ricardo havia defendido definitivamente a teoria do valor-trabalho, segundo a qual somente o trabalho produz valor. Foi daí que Marx extraiu a conclusão de que os capitalistas exploram seus trabalhadores porque se apropriam de uma parte do produto de seu trabalho – a mais-valia. Marx aproveitou também a ideia ricardiana do Estado estacionário para profetizar como inevitável a derrocada do sistema capitalista, mergulhado em suas próprias contradições.
À parte essa vinculação com o socialismo marxista, Ricardo deu vazão também a outras interpretações heterodoxas como a de Henry George, baseada na ilegitimidade da renda da terra, a dos socialistas ricardianos e, já no século XX, a da escola neo-ricardiana, fundada pelo economista italiano Piero Sraffa.
(*) A série Hoje na História foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.
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