Em 18 de janeiro de 1919, algumas das mais poderosas personalidades políticas do mundo se reuniram perto de Paris para dar início às longas negociações que marcariam oficialmente o fim da Primeira Guerra Mundial.
Líderes das potências aliadas – França, Reino Unido, Estados Unidos e Itália –, vitoriosas, decidiram grande parte das questões ao longo de seis meses de debates. O presidente dos EUA, Woodrow Wilson, brigou em defesa de sua tese de uma “paz sem vitória”, para que essa ideia prevalecesse nas resoluções finais.
Ele queria assegurar que a Alemanha, líder das Potências Centrais e grande derrotada na guerra, não fosse tratada com excessivo rigor. Em sentido contrário operaram os primeiros-ministros George Clemenceau da França e David Lloyd George do Reino Unido, argumentando que punir adequadamente a Alemanha e limitar bastante seu poderio bélico seria o único meio de justificar o imenso custo em vidas e bens.
O Tratado de Versalhes resultante acabou desagradando vencidos, vencedores e observadores neutros. Para os especialistas independentes, o documento, punitivo demais, teria se distanciado da proposta de 14 pontos de Wilson, que fundamentou o armistício.
Para os franceses, porém, todo o castigo ainda foi pequeno. O Tratado de Versalhes não atendeu por completo a sede de vingança da França, que sofreu a invasão alemã em seu território, vitimando mais de 400.000 civis.
Clemenceau queria que a província da Renânia, de indústria historicamente pujante, fosse retirada da Alemanha para evitar um novo fortalecimento do país. Wilson e Lloyd George vetaram a proposta, determinando, em contrapartida, uma ocupação militar aliada na região durante 15 anos.
No final, Wilson teve de ceder a fim de garantir a aprovação de seu projeto preferido – a criação de uma entidade internacional para a manutenção da paz, que se chamaria a Liga das Nações.
Wikicommons
Armistício assinado ao fim da 1ª Guerra foi tido como excessivamente ‘pesado’ contra a Alemanha
Mesmo com o veto às exigências de Clemenceau, os negociadores temeram que o tratado fosse pesado em excesso – suas exigências poderiam, em vez de apaziguar a Alemanha, incitá-la ainda mais contra os aliados. E é esse o único ponto que parece ter-se tornado unanimidade em Versalhes. O indefinido futuro europeu ao fim da “guerra para acabar com todas as guerras” tomou ares sombrios.
Representantes da Alemanha foram excluídos das negociações até maio. Chegando a Paris, receberam um rascunho do tratado. Com fé nas promessas de Wilson, os alemães ficaram profundamente frustrados e decepcionados com o texto, que exigia a cessão de boa parte de seu território e o pagamento de reparações. Pior ainda, o artigo 231 obrigou a Alemanha a aceitar ser a única culpada pela guerra. Esta foi uma pílula amarga que muitos alemães não iriam engolir.
A Primeira Guerra expôs um novo paradigma de destruição bélica ao mundo.
O Tratado de Versalhes foi assinado em 28 de junho de 1919, exatamente cinco anos após o tiro de um nacionalista sérvio ter matado o arquiduque Francisco Fernando da Áustria e detonado a Primeira Guerra Mundial. Nas décadas que se seguiram, ódio e ressentimento em relação ao tratado e seus autores envenenaram o ambiente na Alemanha.
Partidos de extrema-direita como o Partido Nacional-Socialista (nazista) de Adolf Hitler capitalizaram essas emoções para ganhar força, um processo que levou quase diretamente ao ponto exato que Wilson e outros negociadores de Paris em 1919 queriam evitar – uma segunda e ainda mais devastadora guerra mundial.
Ironicamente, foi o supremo comandante aliado, marechal Ferdinand Foch, quem melhor externou o que viria a acontecer. Com seu pragmatismo característico, ele profetizou, após a notícia da assinatura do Tratado de Versalhes: “Isto não é a paz. É apenas um armistício válido pelos próximos 20 anos.”
(*) A série Hoje na História foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.