Em 20 de janeiro de 1942, a convite de Reinhard Heydrich, chefe da Polícia de Segurança (Sicherheitspolizei) e do Serviço de Segurança (Sicherheitsdienst – SD) da Alemanha nazista, uma reunião entre representantes da SS, do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP) e de vários Ministérios do Reich tratou da “solução final da questão judaica” (“Endlösung der Judenfrage”). A discussão centrou-se no objetivo de expulsão dos judeus de todas as esferas da vida do povo alemão.
O encontro aconteceu ao meio-dia na sala de jantar do palacete de Wannsee (à beira do lago Wann), nos arredores de Berlim, e durou cerca de 90 minutos.
Foram discutidas medidas a tomar e o conceito de “deportação” dos judeus para o Leste Europeu foi alterado para “trabalho apropriado no curso do qual sem dúvida uma grande porção será eliminada por causas naturais” e o “resto final será tratado de forma apropriada, porque, se libertado, iria agir como semente de uma nova restauração judaica”.
Heydrich tinha como objetivo o reconhecimento do seu próprio papel de liderança nas deportações, bem como o envolvimento de Ministérios e membros do Partido importantes nas preparações para o assassinato dos judeus. Ao mesmo tempo, deveriam ser resolvidos os conflitos das administrações de ocupação alemãs civis na Polônia e nos territórios do Báltico e Leste Europeu (“Ostland”) com os líderes da SS.
Os participantes fizeram propostas e levantaram objeções em nome dos organismos a que pertenciam, mas, em geral, mostraram-se dispostos a colaborar.
Antes, em julho de 1941, Herman Goering, agindo sob instruções de Hitler, já ordenara que Heydrich e Heinrich Himmler – o número dois do regime – apresentassem “tão logo quanto possível, um plano geral elencando as medidas administrativas, materiais e financeiras necessárias que levassem à desejada solução final da questão judaica”.
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Reinhard Heydrich liderou as deportações de judeus para o extermínio
Heydrich convocou então Adolf Eichmann, chefe do Escritório Central da Emigração Judaica, e 15 outros altos funcionários de diversos Ministérios e organizações nazistas para a reunião em Wannsee. A agenda tratou de um único tema e se concentrou em elaborar um plano a fim de encontrar a “solução final”, como Hitler havia exigido.
Diversas propostas repulsivas e espantosas foram abertamente discutidas, inclusive esterilização em massa e deportação para a ilha de Madagascar.
Heydrich propôs simplesmente o transporte de judeus de todos os cantos da Europa para campos de concentração na Polônia, onde encontrariam a morte. Houve objeções a esta proposta, alegando-se que ela consumiria muito tempo. O que fazer com os que levassem mais tempo para morrer? O que fazer com os milhões de judeus que ainda estavam na Polônia? Embora a expressão “extermínio” não constasse das atas da reunião, a implicação estava implícita: quem quer que resistisse às condições de um campo de trabalho forçado deveria ser “tratado adequadamente”.
Meses mais tarde, as “caminhonetes de gás” com o componente Zyklon-B, em Chelmno, na Polônia, mostraram-se ser a “solução” que estavam procurando – o meio mais eficaz de matar grandes grupos de pessoas ao mesmo tempo. Os fornos crematórios, que transformariam cadáveres em cinzas, acabariam por completar a tarefa.
Todos os cuidados para manter sob sigilo o encontro de Wannsee foram adotados. Não obstante, descoberta as atas da reunião forneceram provas decisivas durante os Processos de Nuremberg.
Surgiu aí a expressão “Holocausto” que diz respeito à aniquilação de cerca de seis milhões de judeus – dois terços da população judaica europeia anterior à Segunda Guerra Mundial – que incluíam 4,5 milhões da Polônia, Ucrânia, Rússia e países bálticos; 750 mil da Hungria e Romênia; 290 mil da Alemanha e Áustria; 105 mil dos Países Baixos; 90 mil da França; 54 mil da Grécia.
O Holocausto foi único na história na prática do genocídio – a sistemática destruição de um povo devido apenas à religião, raça, etnia, nacionalidade ou preferência sexual – em escala jamais igualada.
Além dos judeus, entre nove e 10 milhões de pessoas – ciganos, eslavos, homossexuais e deficientes físicos – foram exterminados.
(*) A série Hoje na História foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.