Quarenta anos depois de a antiga colônia açucareira de São Domingos se tornar independente sob o nome de Haiti, mais precisamente no dia 27 de fevereiro de 1844, a população da parte oriental, de língua espanhola, vale-se de uma grave crise política para se emancipar e proclamar sua independência.
A ebulição na luta pelo poder haitiano atingiu seu ápice quando o então presidente, Jean-Pierre Boyer, foi derrubado e fugiu para a Jamaica e depois para a França.
Após ter assegurado durante 25 anos uma relativa estabilidade ao Haiti, primeira república negra dos tempos modernos, esse presidente foi vencido por uma rebelião de camponeses negros do sul, os “Piquets”.
Nasce desse modo a República Dominicana, com capital em Santo Domingo. Com uma superfície de 49.000 km², ocupa dois terços da ilha denominada Hispaniola.
Ao contrário de seu vizinho Haiti, a nova república abre-se amplamente à imigração europeia – à época do nazismo, seria o único país do Novo Mundo a abrir suas portas aos judeus europeus.
Seus primeiros anos de existência foram marcados por golpes de Estado e uma grande instabilidade política. Em março de 1861, a República Dominicana é ameaçada de invasão pelo Haiti e o presidente Santana transfere seus poderes à antiga metrópole, à coroa espanhola em Madri. Caso único de um Estado que retorna livremente ao seu antigo status de colônia. A independência é restaurada em 1865 ao término de uma breve Guerra de Restauração.
Na sequência de uma grave crise financeira que resultou numa verdadeira bancarrota, em 1905, os Estados Unidos assumem as finanças públicas daquele país. Tropas militares ocupam o país de 1916 a 1924, acontecendo o mesmo e à mesma época com o Haiti.
Com o suporte dos Estados Unidos, Rafael Leonidas Trujillo assume o controle do país em 1930, dirigindo-o até seu assassinato em 1961. Trujillo acumulou grande fortuna às custas de seu povo enquanto reprimia duramente a oposição.
Trujillo governou a República Dominicana como se fosse sua fazenda particular. Em dado momento, calculou-se que sua família detivesse 70% das terras cultivadas. Alegava deter tantas terras e fábricas pelo fato de nelas empregar a maioria do povo dominicano. A capital do país, Santo Domingo, a mais antiga cidade das Américas, fundada pelo irmão de Cristóvão Colombo, Bartolomeu, foi rebatizada de Ciudad Trujillo.
O ditador mandava matar seus opositores onde quer que estivessem, ainda que fosse em plena luz do dia, nos Estados Unidos ou qualquer país estrangeiro. Era extremamente vaidoso. Os “intelectuais” que permaneciam no país eram encarregados de elogiar o “Benfeitor da Pátria”, restaurador da independência financeira da República e Comandante-Chefe do Exército Nacional.
Um artigo no jornal El Caribe, de 24 de outubro de 1950, comemorando 20 anos de sua subida ao poder, descreve-o como dotado de “um dinamismo iluminado, uma força incoercível de ação presidida pelas claras luzes de uma inteligência serena, poderosa, ousada. Ele é um 'cruzado', um 'abnegado'. Como o sol para verter luz e calor, Trujillo nasceu para governar. E apesar disso, cultiva como ninguém o difícil procedimento do diálogo”.
A brutalidade de Trujillo foi bem documentada. Em 1937 ele ordenou a perseguição e morte de 20 mil haitianos que entraram no território dominicano. Tinha como modelo o regime fascista do ditador espanhol Francisco Franco. Nas cidades havia placas que diziam “Deus e Trujillo”.
Embora muitos dirigentes norte-americanos não gostassem de Trujillo, durante a Guerra Fria deram suporte a ele como um dos líderes anticomunistas da América Latina. O então Secretário de Estado dos EUA Cordell Hull teria dito a frase: “ele pode ser um filho da puta, mas é nosso filho da puta”.
Durante o século XX, os dominicanos estabeleceram um governo democrático estável apesar de várias intervenções de Washington.
Os dominicanos, cerca de 10 milhões nos dias de hoje, gozam de um padrão de vida muito superior ao dos haitianos. Fato marcante: a fronteira entre os dois países é bem discernível vista do alto, de avião. De um lado montanhas áridas e peladas vítimas de desflorestamento; de outro terrenos cultivados e maciços cobertos de vegetação florestal.