Em 2 de fevereiro de 962, Oto I, o Grande, rei da Germânia, dos francos, dos lombardos e de Pávia, recebeu em Roma a coroa imperial das mãos do papa João XII. A coroação marca o nascimento de um poderoso império, conhecido como Sacro Império Romano-Germânico – na verdade, denominação adotada séculos mais tarde. Oto I confirma sua supremacia em relação ao pontífice, colocado desde então sob sua tutela. Dali em diante, nenhum outro papa poderia ser eleito sem prestar juramento ao imperador.
Em perigo diante das famílias da aristocracia romana, os Estados Pontifícios precisaram contar com ajuda externa. Oto I da Germânia foi ao socorro em troca de ser coroado “imperador dos romanos”. Desde então os Estados Pontifícios ficaram uma vez mais sob a proteção imperial.
Oto I passou a ser o primeiro soberano do império, cujo território abarcava a Germânia e a Itália – hoje, Alemanha, Itália, Suíça, Áustria, Liechtenstein, República Tcheca, Eslovênia, Holanda, Bélgica e Luxemburgo.
Oto I tentou intervir na Igreja para controlar os grão-duques. Fundou dioceses e abadias, e seus titulares recebiam dele tanto o poder religioso (anel e cruz) quanto o político (báculo, instrumento que simboliza o poder temporal do bispo sobre os fiéis). Nasceu assim um processo de controle da Igreja sobre o poder do Estado (“cesaropapismo”). Esses senhores religiosos eram o sustentáculo do império, pois forneciam a maior parte dos guerreiros e dos impostos.
As consequências da intervenção política na Igreja não demoraram. Abades e bispos alemães levavam vida mundana e influenciaram monges e padres. A devassidão levou o nome de “nicolaísmo”: desrespeito aos bons costumes, violação do celibato, vício da bebida e do jogo e o comércio ilícito de bens espirituais (simonia).
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Coroação marca o nascimento de um poderoso império, conhecido como Sacro Império Romano-Germânico
O poder político da Igreja Católica consolidou-se ao longo da Idade Média, paralelamente ao declínio da noção de Estado trazido pelo fim do Império Romano. No vácuo gerado pela pulverização do poder político, cada vez mais fragmentado pelas relações de vassalagem, a Igreja assumiu um papel centralizador na vida europeia. Um dos fatos que marcaram essa importância católica na vida política foi a coroação de Carlos Magno como imperador, no ano de 800.
Numa Europa quase integralmente cristã, o título de imperador pressupunha um poder sobre a cristandade. A ideia vigente na época era de que havia um único poder, o poder de Deus, manifestando-se em termos espirituais no papado que legava ao imperador os assuntos temporais.
O poder papal mantinha mais força na região germânica. O título de imperador, ali, não era dinástico – ou seja, não passava de pai para filho. Os duques da Saxônia, Francônia, Suábia e Baviera elegiam um deles para ocupar o trono. Essa formação monárquica eletiva, visava à aliança dos grandes senhores feudais alemães, principalmente em caso de guerra contra invasores.
O imperador representava todos, sendo que cada nobre mantinha o poder feudal sobre seus territórios. A configuração do eleitorado variou até o ano de 1356, quando a Bula Dourada fixou os sete eleitores, mantidos até o final do império, estabelecendo ainda funções para cada um dos chamados “príncipes eleitores”.
O Sacro Império Romano-Germânico só desapareceria quase um milênio depois, em 1806, sob a pressão de Napoleão Bonaparte.