Em 7 de fevereiro de 1752, o Conselho de Nobres do rei Luís XV promulga um decreto que proíbe a impressão e a difusão dos dois primeiros volumes da Enciclopédia, dicionário aprofundado das ciências, das artes e ofícios, obra monumental dirigida pelo filósofo Denis Diderot e pelo matemático Jean Le Rond d’Alembert.
Diderot e d’Alembert foram duas figuras-chaves do Iluminismo do século XVIII, caracterizado pela centralidade da ciência e da racionalidade crítica no questionamento filosófico, o que implicava recusar todas as formas de dogmatismo, em especial o das doutrinas políticas e religiosas tradicionais.
Qualificada de “materialista e ateia” pelos jesuítas, a Enciclopédia foi fortemente censurada. As passagens políticas e filosóficas foram julgadas demasiadamente subversivas e “contaminadas pelo espírito voltairiano”. Em seguida a esta decisão, o abade de Prades, um dos vários autores da Enciclopédia, teve que fugir da França e se refugiar na Prússia.
A Encyclopédie foi originalmente concebida pelo editor André Le Breton como uma tradução para o francês da Cyclopaedia (1728), de Ephraim Chamber, publicada em dois volumes em Londres. O projeto cresceu e o número de volumes também, atingindo 35 volumes, 71.818 artigos e 2.885 ilustrações quando da finalização da edição, em 1772
Para a realização da empreitada, Breton precisou contar com a parceria de outras firmas para financiá-la, depois de ela ter sido ampliada pela energia e entusiasmo de Diderot.
O curioso é que a publicação teve de contar com a proteção provisória do funcionário encarregado da censura, Guillaume de Malesherbes, orador notável e partidário do livre pensamento e humanista.
O impacto ideológico da Enciclopédia em seus aspectos sociais, econômicos, políticos, jurídicos e teológicos é mais significativo que o seu lado técnico. Tendo assimilado a ideologia do progresso, da tolerância e do governo consensual, despertou alarma nos setores privilegiados – nobreza e clero – e nos tradicionalistas. O propósito dos enciclopedistas era perturbar as autoridades e fornecer reflexões irônicas sobre as superstições em voga e as injustiças amplamente presentes.
Diderot afirmava que “precisamos de homens que saiam das academias, desçam até as oficinas e reúnam material sobre as artes e ofícios em livros, para persuadir os artesãos a ler, os filósofos a pensar em termos práticos e os grandes a usar de maneira mais louvável sua autoridade e fortuna”.
*Com dados de GILLISPIE, Charles. Universidade de Princeton, in: Dicionário de Biografias Científicas. vol. I. Rio de Janeiro: Contraponto (trad. Max Altman).