Apenas 83 horas após deixar a cidade de Nova York, na costa leste dos Estados Unidos, uma composição ferroviária da Transcontinental Express chega em San Francisco, na costa oeste do país, em 4 de junho de 1876.
Até aquele momento, era inconcebível para as gerações anteriores de norte-americanos que algum ser humano pudesse viajar, atravessando todo o país de leste a oeste, em diagonal, em menos de 4 dias.
Durante o começo do século XIX, quando Thomas Jefferson sonhava com “uma nação que se estendesse de um resplandecente oceano a outro”, verso da canção “America the Beautiful”, eram necessários dez dias para levar o presidente de carruagem, percorrendo os 360 km de Monticello a Filadélfia.
Mesmo com constante troca de cavalos, os 170 km de Nova York a Filadélfia exigiam dois dias de intensa viagem numa diligência leve. Com essas velocidades, as costas do largo território do país estavam meses de distância uma da outra. Como poderia tão vasto país ter a esperança de permanecer unido?
No início de 1802, Jefferson teve um vislumbre de resposta. “A introdução de um agente tão poderoso como o vapor nas rodas da carruagem”, previu, “proporcionará uma grande mudança na condição do homem.” Embora Jefferson jamais tenha visto um trem, entrevira o futuro com sua visão.
Nos 50 anos seguintes, os EUA construíram mais ferrovias do que qualquer outra nação no mundo. Por volta de 1869, a primeira linha transcontinental ligando costa a costa foi concluída. De repente, uma jornada que anteriormente levava meses usando cavalos, poderia ser feito em menos de uma semana.
Cinco dias após a estrada de ferro transcontinental ter sido concluída, começaram a operar os serviços diários sobre trilhos para passageiros. A velocidade e o conforto oferecido pela viagem de trem eram tão surpreendentes que muitas pessoas mal podiam acreditar. As revistas populares passaram a fazer entusiasmados relatos de “tão incrível jornada”.
Para os ricos, uma viagem na ferrovia transcontinental era um experiência luxuosa. Os passageiros da primeira classe rodavam em cabines belamente decoradas com assentos de veludo felpudo que se convertiam à noite em acolhedores leitos. Finas instalações incluíam calefação a vapor, roupas de cama trocadas diariamente, e elegantes botões que apertados atendiam alguns de seus caprichos.
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Antes das ferrovias, uma viagem para cruzar os EUA demorava meses
Com um extra de 4 dólares por dia, o rico viajante poderia optar por subir no semanal Pacific Hotel Express, que oferecia um finíssimo jantar a bordo. Como escreveu um feliz passageiro: “O mais extraordinário e delicioso passeio em minha jornada pela vida afora foram aqueles 5 mil quilômetros por estrada de ferro”.
A viagem era um bom negócio, embora menos confortável, para passageiros pouco dispostos ou sem condições de pagar preços maiores. Enquanto a maior parte dos passageiros de primeira classe viajava a negócio ou por mero prazer, os ocupantes da terceira classe eram habitualmente emigrantes esperando por um novo começo no Oeste.
Um bilhete de terceira classe poderia custar apenas 40 dólares, menos que a metade do da primeira classe. Por esse baixo custo, o viajante não recebia qualquer serviço extra. De resto, seus vagões, dotados de apertadas fileiras de bancos de madeira, ficavam congestionados, barulhentos e desconfortáveis.
A companhia ferroviária amiúde engatava os vagões de passageiros a vagões de carga e a composição era frequentemente manobrada para mudar de trilhos de modo a abrir caminho para os trens expressos.
Consequentemente, os viajantes de terceira classe, em sua jornada em direção ao Oeste, levariam dez dias ou mais. Mesmo sob essas precárias condições, poucos viajantes se queixavam. Os dez dias sentados num duro banco de madeira era preferível aos seis meses de viagem com as morosas diligências.
A promoção da estrada de ferro estava naturalmente focada na velocidade dos trens expressos. A chegada da composição da Transcontinental Express em San Francisco em 4 de junho de 1876 foi amplamente celebrada pelos jornais e revistas do dia.
Com este novo serviço ferroviário expresso, um homem de negócios poderia deixar Nova York numa segunda feira de manhã, despender 83 horas em meio a um relaxante conforto e chegar disposto, pronto para o trabalho, em San Francisco na quinta feira à tarde.
O poderoso agente vapor tinha efetivamente encolhido uma vasta nação a um tamanho razoável.
Também nessa data:
1798 – Morre o italiano Giacomo Casanova
1920 – Tratado de Trianon põe fim ao Império Austro-Húngaro
1972 – É absolvida a militante negra Angela Davis