No dia 9 de outubro de 1975, Andrei Dmitrievich Sakharov recebe o Prêmio Nobel da Paz. Eminente físico nuclear soviético e socialista, foi um ativista em favor dos direitos humanos e das liberdades.
Sakharov nasceu em Moscou em 21 de maio de 1921. O humanismo e a consciência social de sua família tiveram uma influência decisiva em sua personalidade. O ateísmo de seu pai impediu o avanço de ideias religiosas em sua formação. Não obstante, acreditava que o universo e a vida humana eram governadas por uma força não abarcável cientificamente.
Sakharov ingressou na Universidade Estatal de Moscou em 1938, mas devido à evacuação de 1941, durante a Segunda Guerra Mundial, gradua-se em Akhsbad, Turcomenistão. Dedicou-se, então, a pesquisas no laboratório de Ulianovsk, regressando a Moscou, em 1945, para estudar no Departamento de Física Teórica do Instituto de Física Lebedev, doutorou-se em 1947. No fim da guerra, passa a investigar sobre raios cósmicos.
Em meados de 1948, participa do projeto soviético para construir a bomba atômica, sob a direção de Igor Kurchatov. O primeiro dispositivo soviético atômico foi testado em 29 de agosto de 1949 e Sakharov teve um papel decisivo no desenvolvimento da bomba de Hidrogênio. O primeiro dispositivo de fusão entra em provas em 12 de agosto de 1953.
Nesse mesmo ano, ele é eleito membro-pleno da Academia de Ciências e lhe é outorgada a primeira de suas três medalhas de Herói do Trabalho Socialista. Sua atividade essencial continuou sendo o desenvolvimento da primeira Bomba de Hidrogênio soviética em escala megaton, empregando um desenho que ficou conhecido como a “Terceira Ideia de Sakharov”.
Sakharov participou, então, de diversos projetos de uso da fusão termonuclear para geração de energia e também para fins bélicos.
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Cientista participou da produção da bomba de hidrogênio, mas posteriormente, lutou contra esses armamentos e outras políticas de Moscou
A partir de 1965, voltou à investigação básica, trabalhando nos campos da física de partículas e da cosmologia. Discutiu questões sobre a assimetria de do universo e também sobre a existência de dois universos unidos entre si pelo Big Bang. Propôs ainda a ideia da gravidade induzida como uma teoria alternativa à gravidade quântica.
O perigo nuclear e a luta pela regulamentação
Sakharov estava convencido da importância político-estratégica do desenvolvimento das armas nucleares, porém aos poucos foi tomando consciência das implicações reais dessas descobertas, vislumbrando o grande risco de uma guerra nuclear ou a contaminação por radioatividade. Ao mudar de postura, jogou, durante os anos 1960, um papel ativo contra a proliferação das armas nucleares e das provas nucleares na atmosfera, tendo como resultado o Tratado de Proibição de Provas Atmosféricas, Espaciais e Submarinas, firmado em Moscou em 1963.
Sua postura contrária à corrida armamentista, baseada em mísseis balísticos em que competiam no auge da Guerra Fria União Soviética e Estados Unidos, desagradou o governo de Moscou. Em carta secreta, datada de 21 de julho de 1967 endereçada ao governo, expunha a necessidade de aceitar uma proposta de rechaço bilateral de tais armas sob pena de uma guerra nuclear mundial. Solicitava a publicação da missiva na imprensa, o que foi recusado pelo governo soviético. Em maio de 1968, finalizou um ensaio intitulado Progresso, Coexistência Pacífica e Liberdade Intelectual em que expôs suas ideias.
Em 1970, colaborou na Fundação do Comitê pelos Direitos Humanos de Moscou. Em reconhecimento aos seus esforços chegou-lhe, em 1973, a indicação para o Prêmio Nobel da Paz que só, em 1975, lhe seria outorgado.
O Nobel da Paz e a repressão de Moscou
A União Soviética não permitiu que Sakharov deixasse o país para receber o Prêmio Nobel da Paz, coube a sua mulher, Yelena Bonner, ler o texto de aceitação do prêmio. A este documento, Sakharov deu o título de Paz, Progresso e Direitos Humanos, considerando estas três metas mutuamente dependentes em sua consecução. O texto não foi uma simples apologia contra as armas nucleares, mas também uma denúncia das causas das grandes ameaças contra a humanidade – aniquilação nuclear, fome, contaminação, desperdício de recursos vitais, superpopulação, desumanização – e uma defesa dos avanços científicos, das liberdades e da dissidência.
Em 22 de janeiro de 1980 , Sakharov foi preso por protestar publicamente contra a presença militar soviética no Afeganistão e forçado ao exílio em sua própria pátria, na cidade de Gorki. O controle da KGB durou até dezembro de 1986, quando Mikhail Gorbachev deu início à ‘perestroika’ e à ‘glasnost’. Foi-lhe permitido regressar a Moscou. Tinha início a formação das primeiras organizações políticas independentes e legais na União Soviética, culminando em março de 1989 com a sua eleição para o Congresso dos Deputados do Povo, o Parlamento soviético.
Em 1985, foram criados os Prêmios Sakharov, assim designados em sua homenagem, outorgados anualmente pelo Parlamento Europeu a pessoas e organizações dedicadas aos direitos humanos.
Em 1989, recebeu o Prêmio Humanista Internacional da International Humanist and Ethical Union. Pouco depois, faleceu de ataque cardíaco, aos 68 anos. Seus restos mortais repousam no cemitério Vostryakovskoye de Moscou.