O movimento de expansão colonizadora nos Estados Unidos para o Oeste e o Sul implicava uma justificativa moral: a ideologia do Destino Manifesto.
Durante a expansão territorial, um dos fatos mais importantes foi a questão texana, iniciada em 1836, quando o general Santa Anna resolveu instituir uma constituição centralizada que suprimia os particularismos de cada região.
Em 3 de dezembro de 1845, o presidente James Polk diz ao Congresso que os Estados Unidos deveriam expandir-se agressivamente para o Norte também. Polk foi o máximo expoente, à ocasião, do emprego da força a fim de anexar a maior quantidade de territórios possível mesmo ao custo de desencadear guerras com outras nações.
O que foi o Destino Manifesto
A doutrina do “Destino Manifesto” (Manifest Destiny), que se iniciou naquela época mas recebeu esse nome anos depois, é uma ideia que expressa a crença que os Estados Unidos são uma nação destinada a expandir-se desde a costa do Atlântico até o Pacífico. É também usada para justificar outras aquisições territoriais. Para seus defensores, esta ideologia não é somente boa mas também óbvia (manifesta) e certeira (destino).
A origem do conceito Destino Manifesto remonta à época dos primeiros colonos chegados da Inglaterra e Escócia. Em sua maioria professavam o culto puritano e protestante.
Uma ministra puritana, Sofi G., escrevia em 1630: “Nenhuma nação tem o direito de expulsar outra, se não for por um desígnio especial do céu, como o que tiveram os israelitas, a menos que os nativos ajam injustamente contra ela. Nesse caso teriam o direito de travar, legalmente, uma guerra contra eles bem como subjugá-los”.
A expressão “Destino Manifesto” aparece pela primeira vez num artigo do jornalista John O’Sullivan publicado na revista Democratic Review de Nova York em 1845: “O cumprimento de nosso destino manifesto é estender-nos por todo o continente que nos foi confiado pela Providência, para o desenvolvimento da grande experiência de liberdade e autogoverno. É um direito como a que uma árvore tem de obter o ar e a terra…”
O Destino Manifesto não foi um conceito abraçado por toda a sociedade. As diferenças acerca do objetivo e consequências da política de expansão determinaram sua aceitação ou resistência.
Os estados do nordeste industrializado acreditavam que se deveria levar seu conceito de civilização mediante expansão territorial. Para os interesses comerciais da região, a expansão oferecia grandes e lucrativos acessos aos mercados estrangeiros e permitia competir em melhores condições com o Império Britânico. Ter portos no Pacífico facilitaria o comércio com a Ásia.
Os estados do sul pretendiam estender a escravidão, incluindo novos estados escravagistas de modo a consolidar seu poder em Washington.
O historiador William Weeks expôs a existência de três temas utilizados pelos defensores do Destino Manifesto: a virtude das instituições e dos cidadãos dos Estados Unidos; a missão de estender essas instituições, refazendo o mundo à sua imagem; a decisão de Deus de consagrar aos Estados Unidos a consecução dessa missão.
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Presidente James Polk defendeu doutrina expansionista nos EUA
A descrição do puritano Abraham Lincoln de seu país como “a última e melhor esperança sobre a face da Terra” é uma célebre expressão dessa doutrina.
Com base nele, os Estados Unidos anexam o território do Texas (1845), Califórnia (1848) e invadem o México (1845). Como consequência, se apropriam do Colorado, Arizona, Novo México, Nevada, Utah e partes do Wyoming, Kansas e Oklahoma, num total de 2,1 milhões de quilômetros quadrados, ou 55% do território mexicano de então.
O Destino Manifesto se reavivou nos anos 1890, usada pelos republicanos como justificativa teórica para a expansão estadunidense fora da América do Norte. Foi também utilizado por Washington, no começo do século XX, pois grande parte de seus dirigentes crê na “missão” dos Estados Unidos de promover e defender a democracia em todo o planeta e que esse destino continua tendo forte influência em sua ideologia política.
Um dos exemplos mais claros da influência do Destino Manifesto foi dada pelo presidente Theodore Roosevelt em sua “Mensagem à Nação” de 1904: “Se uma nação demonstra que sabe agir com eficácia razoável e sentido das conveniências em matéria social e política, se mantém a ordem e respeita suas obrigações, não tem por quê temer uma intervenção dos Estados Unidos. (…) O relaxamento geral das regras de uma sociedade civilizada pode obrigar os Estados Unidos, ainda que contra sua vontade, em casos flagrantes de injustiça ou de impotência, a exercer um poder de polícia internacional”.
O presidente Woodrow Wilson deu prosseguimento à política intervencionista no hemisfério americano e redefiniu o Destino Manifesto numa perspectiva mundial. Em 1920, em mensagem ao Congresso, depois da I Guerra Mundial, declarou: “Penso que nós todos compreendemos que chegou o dia em que a Democracia está sofrendo sua última prova. O Velho Mundo está sofrendo agora de um repúdio obsceno do principio da democracia. (…) E é um tempo em que a democracia deve demonstrar sua pureza e seu poder espiritual para prevalecer. É certamente o Destino Manifesto dos Estados Unidos realizar o esforço para que esse espírito prevaleça”.
No entanto, na Guerra do Vietnã, a ideia de serem os norte-americanos um povo especial a perseguir ideais mais elevados do que a simples cobiça ou expansão territorial se viu seriamente danificada pelo fato de apoiar governos ditatoriais e sanguinários e de eles mesmos lançarem diretamente bombardeios maciços contra a população civil indefesa. O mesmo ocorreu na América Latina, ao longo de décadas, com apoio às ditaduras que mataram, torturaram e desapareceram com seus opositores.
(*) A série Hoje na História foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.
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