Em 19 de março de 1815, o rei Luis XVIII deixa Paris, a contragosto, para o exílio. Dessa forma, abrindo espaço para o ex-imperador Napoleão I, de volta da ilha de Elba.
Quase um ano antes, após a abdicação de Napoleão I em 6 de abril de 1814, a monarquia constitucional foi restaurada pelo governo provisório e o filho mais novo do rei Luís CV, o Delfim sobe ao trono sob o nome de Luis XVIII.
Em 5 de março de 1815, entretanto, Luis XVIII foi informado pelo barão de Vitrolles do retorno de seu adversário, Napoleão Bonaparte, que conseguira escapar de seu exílio na ilha de Elba.
Napoleão tratava de regressar à França porque sabia que persistia no país uma considerável massa de opinião bonapartista. Essa massa se subdividia entre militares, veteranos da “Grande Armée” (Grande Exército), insatisfeitos com o novo regime e aqueles que haviam adquirido bens nacionais em decorrência da Revolução, inquietos com a sorte que lhes seria reservada, apesar do apelo real pela reconciliação de todos os franceses.
Quanto ao povo em geral, estava persuadido de que Luís, certamente em razão de sua tendência para a simulação, iria renegar a Carta Magna que outorgara em 1814, tendo por objetivo instaurar o absolutismo, a exemplo do que fazia seu primo Ferdinando VII na Espanha.
Em 26 de fevereiro de 1815, Napoleão deixa, em segredo, a ilha de Elba, situada entre a Córsega e a Itália, e desembarca em 1º de maio no golfo Juan, perto de Cannes. Recebe uma acolhida pouco calorosa em Provence, majoritariamente monarquista, mas é aclamado em Dauphine.
A princípio, o rei e o governo não estavam convencidos do êxito da empreitada do “Usurpador”, como era chamado Napoleão. Entretanto, face ao alinhamento progressivo do exército ao antigo imperador, as autoridades decidiram reagir rapidamente. O rei mobiliza os seus partidários, acompanhados de soldados, por todo o reino. Por exemplo, o irmão do rei – futuro Charles X – é enviado a defender Lyon, seguido pelo duque de Orleans, que seria, quinze anos mais tarde, rei da França sob o nome de Luis Felipe I, mas que se mostrou muito pouco empenhado em sua tarefa.
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Após a abdicação de Napoleão I, a monarquia constitucional foi restaurada pelo governo provisório e Luis XVIII sobre ao trono
Em 10 de março, constatando a impossibilidade de montar sequer uma peça de artilharia contra as tropas de Napoleão, Orleans abandona precipitadamente seu posto, seguido três horas mais tarde pelo irmão do rei, quando as forças de Napoleão já se avizinhavam.
Em 14 de março, o marechal Michel Ney, última esperança de salvaguarda da monarquia, que em 6 de março havia prometido ao rei que encerraria “Buonaparte” (sobrenome original do imperador) em uma gaiola de ferro, se junta a Napoleão.
Em 16 de março de 1815, Luis XVIII, determinado a lutar, dirige-se à Câmara de Deputados a fim de se pronunciar sobre os acontecimentos: Que melhor morte poderia ter, aos 60 anos, do que lutar em defesa da coroa? E, sob o delírio dos parlamentares, a sessão termina com a promessa do soberano: “Aconteça o que acontecer, não abandonarei meu trono”.
Contudo, a verdade era outra. Desde 14 de março, Luis XVIII, sem nada revelar a ninguém, planejava fugir em vez de se colocar em perigo. Sabendo que sua causa estava perdida, envia seu sobrinho Charles-Ferdinand de Berry à frente de um exército de 20 mil homens escalonados entre Montereau e Villejuif.
Eis porque em 19 de março declara: “Vejo que tudo está terminado. Não nos engajemos numa resistência inútil. Estou decidido a partir”. Aparentando fastio e cansaço, teve, porém, o cuidado de levar consigo ao estrangeiro as joias da coroa.
Por volta das 23h30, debaixo de chuva, seis viaturas se posicionam no leito das Tuileries. O rei sai e, num gesto comum, os súditos presentes se ajoelham chorando. Então, Luis XVIII: “Meus filhos, me poupem, preciso de força, os verei em breve, voltem para suas famílias”.
Ninguém se mexeu. Eis então que o velho rei perde seu sangue frio: “Vocês deveriam ter me poupado dessa emoção. Eu não os queria ver!”. Sobe na viatura e, após um derradeiro gesto de adeus, o veiculo se põe em marcha.
No dia seguinte, enquanto Napoleão entrava, aclamado, no palácio real, Luís entrava em Abbeville. Seu objetivo era chegar de novo a Hartwell, seu exílio inglês de 1809 a 1814. A rapidez com que deixou Paris demonstrava o temor que sentia quanto a sua sorte, pela primeira vez em sua existência.
Também nesta data:
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