Uma tentativa de assassinato do papa João Paulo II ocorreu numa quarta-feira, 13 de maio de 1981, na praça de São Pedro, Vaticano. Mehmet Ali Agca, jovem turco de 23 anos, disparou contra o papa quatro vezes logo que este entrou na praça. Devido aos graves ferimentos, o papa perdeu muito sangue, sendo posteriormente levado ao hospital. Agca foi preso em flagrante e, mais tarde, sentenciado à prisão perpétua. Posteriormente o papa, numa visita à prisão, perdoou-o. O presidente italiano Carlo Ciampi concedeu o indulto a Agca a pedido do papa, após o que foi deportado para a Turquia em junho de 2000.
Em meio a uma multidão que abarrotava a praça e ante a estupefação de milhares de fiéis que aguardavam a celebração da festividade de Nossa Senhora de Fátima, o papa sofreu uma tentativa de magnicídio (assassinato de pessoa ilustre). Eram 17h17 quando João Paulo II se trasladava em seu veículo, o papamóvel, pela praça de São Pedro. Dava a segunda volta, estendia seus braços às crianças e saudava a multidão, quando de repente se escutaram disparos dirigidos ao papamóvel.
O pontífice, com o rosto pálido e as vestes brancas salpicadas de sangue, permaneceu imóvel por um átimo e em seguida caiu dentro do veículo. O condutor acelerou através das colunas laterais entrando no palácio do Vaticano em meio ao alarme que se criou.
Minutos depois, a polícia deteve o autor dos disparos. Além da arma, encontrou-se em seu bolso uma nota escrita em turco que dizia: “Eu, Agca, matei o papa para que o mundo possa saber que há milhares de vítimas do imperialismo”.
Agca, de religião muçulmana, declarou às autoridades ser “o instrumento inconsciente de um plano misterioso”, cuja natureza não pôde ser desvendada pelas investigações. No mês de julho foi condenado à prisão perpétua e à pena especial de isolamento.
A tentativa
Em agosto de 1980, sob o pseudônimo de Vilperi, Agca começou a percorrer a região, mudando várias vezes de passaporte e de identidade. Entrou em Roma em 10 de maio de 1981 num trem que vinha de Milão. Em Roma se encontrou com três cúmplices: um compatriota turco e dois búlgaros. A operação era liderada por Zilo Vassilev, um militar búlgaro que residia na Itália. Segundo Vassilev, a missão lhe havia sido encarregada pelo mafioso turco Bekir Çelenk, ainda na Bulgária.
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Apesar de a bala não ter atingido nem a aorta abdominal nem a artéria mesentérica, o papa sofreu choque hemorrágico
O plano era que Agca e o pistoleiro Oral Çelik abrissem fogo contra o pontífice na praça de São Pedro e em seguida fugissem para a embaixada búlgara, aproveitando-se do pânico que se geraria.
No dia marcado, sentaram-se na praça, enquanto esperavam a chegada do papa. Quando o papa passou, Agca disparou quatro vezes com uma pistola semiautomática Browning. Uma monja e várias testemunhas o impediram tanto de disparar mais vezes como de fugir. Foi imobilizado por Camillo Cibin, chefe da segurança do Vaticano. João Paulo II foi atingido pelos quatro projéteis disparados por Agca: dois se alojaram no intestino, outro no braço direito e o último na mão esquerda. Dois outros assistentes ficaram feridos. Çelik, presa de pânico, conseguiu escapar.
O papa foi levado ao Palácio Apostólico para um primeiro diagnóstico, já que a ferida não parecia séria. Uma vez medido o pulso e a pressão ficou evidente que estava em perigo. Apesar de a bala não ter atingido nem a aorta abdominal nem a artéria mesentérica, o papa perdera quase três quartos de sangue, passando a sofrer um choque hemorrágico.
Levado às pressas ao hospital, foi operado pelo Dr. Francesco Crucitti na Policlínica Universitária da Escola de Medicina da Universidade do Sagrado Coração. João Paulo II passou por quase 6 horas de uma cirurgia que exigiu transfusões e uma colostomia temporária. Vários meses depois, teve uma infecção de citomegalovirus, decorrente de uma transfusão cujo sangue, em virtude da urgência, não havia sido devidamente tratado.
Quando esteve com o papa na prisão de Rebibbia de Roma, Agca, um assassino profissional, lhe perguntou como conseguira sobreviver. O pontífice, que havia estado consciente até ser anestesiado, afirmou ter pressentido que sobreviveria, acreditando de coração na intercessão da Virgem Maria, Nossa Senhora de Fátima.
João Paulo II ficou enormemente agradecido ao Dr. Crucitti e ao restante de sua equipe médica, inclusive ao seu velho amigo e médico pessoal, o imunólogo polonês Dr. Gabriel Turowski, que foi à Itália para contribuir com sua experiência, sendo ele quem diagnosticou a infecção de CMV, e ao Dr. Renato Buzzoneti, médico oficial do Vaticano, que buscaria de novo os conselhos do Dr. Crucitti quando o papa desenvolveu um tumor benigno de cólon.
O papa chegou a interromper suas férias em Castel Gandolfo, em agosto de 1998, quando o Dr. Crucitti faleceu. Celebrou pessoalmente seus funerais e pronunciou a homilia, lembrando que o doutor havia tutelado vários cirurgiões proeminentes na Policlínica, um dos melhores hospitais da Itália.
Também nessa data:
1888 – Lei Áurea declara extinta a escravidão no Brasil
1940 – Winston Churchill vira primeiro-ministro do Reino Unido
1958 – Crise na Argélia inicia volta de De Gaulle ao poder na França
1976 – Edward Jenner inicia estudos da vacina contra varíola
(*) A série Hoje na História foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.