Richard Wagner revolucionou a ópera ao estrear o Navio Fantasma em Dresden, em 22 de janeiro de 1843. Inspirado numa obra do poeta Heinrich Heine, esse drama rompe com a ópera convencional e anuncia a maturidade do autor, plenamente expressa anos mais tarde com Tannhäuser.
Nenhum músico suscitou contraditoriamente tal ódio e devoção quanto Wagner, tanto por sua obra, que transformou a história da música, quanto por suas idéias. Nacionalista, partidário da unidade alemã, Wagner era também anti-semita a ponto de ser, muito tempo depois de sua morte, o compositor preferido de Hitler.
Wagner era autor de seus próprios libretos de ópera, o que é bastante raro na história da música de cena. Entretanto, Wagner não desejava que sua poesia fosse apreciada em si mesma, mas que fosse sempre relacionada à música, ramo no qual ganhou mais prestígio após o Anel do Nibelungo, festival cênico em um prólogo e três jornadas musicais e cuja concepção atropelou deliberadamente os hábitos da época para avançar, segundo seus próprios termos, em direção a uma ‘arte total’.
Revolucionário pobretão, fugitivo perseguido pela polícia, mulherengo, confidente íntimo do rei Luis II da Bavária, crítico e analista musical, intelectual, Wagner exteriorizava seu comportamento em suas obras, o que mais tarde fez com que suas concepções artísticas de vanguarda tivessem uma influência determinante na evolução da música. A exemplo de Giuseppe Verdi, nascido no mesmo ano, mas de estilo radicalmente distinto, é considerado como um dos maiores compositores de ópera do século XIX.
Dotado do “espírito germânico”, Wagner teve uma forte influência sobre a cultura e história alemã. Seu nome aparece ligado a quase todas as grandes tendências da história alemã dos séculos XIX e XX. Foi classificado como anarquista e simultaneamente como um proto-fascista e nacionalista, como um vegetariano e anti-semita. Em 1850, Wagner publicou O judaísmo na música, em que atacava fortemente a influência judia na cultura e na arte alemã. Na publicação, retrata os judeus como “ex-canibais, treinados para ser agentes de negócios da sociedade”. O nazismo o elegeu como um exemplo da superioridade da música e do intelecto alemão.
As óperas de Wagner constituem seu principal testamento. Pode-se dividi-las em dois períodos. O de sua juventude: As Fadas, a Proibição de Amar e Rienzi, que são raramente executadas, e as óperas principais, que são aquelas incorporadas ao repertório do Festival de Bayreuth, cujo teatro e atividades foram criados pelo próprio compositor. O Navio Fantasma, depois Tannhäuser e Lohengrin, são suas primeiras óperas românticas.
O período da maturidade estreia com Tristão e Isolda, considerada como sua obra prima. Em seguida criou Os Mestres Cantores de Nuremberg e O Anel de Nibelungo. Este, também conhecido como Tetralogia, é um conjunto de quatro óperas inspiradas na mitologia germânica e escandinava: O Ouro do Reno, A Valquíria, Siegfried e O Crepúsculo dos Deuses. A última ópera de Wagner, Parsifal, é uma obra contemplativa extraída da lenda cristã do Santo Graal.
Em sua concepção de ópera, a orquestra ocuparia um lugar ao menos tão importante que a dos cantores. A expressividade da orquestra é incrementada pelo emprego dos ‘leitmotiv’ – pequenos temas musicais de grande poder dramático que evocam um personagem, um elemento de intriga, um sentimento, uma emoção – cuja evolução e complexidade iluminam a progressão do drama adornado por uma riqueza musical infinita.
Wikicommons
Wagner era autor de seus próprios libretos de ópera
(*) A série Hoje na História foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.