Jean Auguste Dominique Ingres, último representante dos grandes pintores do neoclassicismo francês, morre em 14 de janeiro de 1867 em Paris, após ter atravessado sem dificuldade duas monarquias, dois impérios, duas repúblicas e três revoluções.
Artisticamente, Ingres se apresentou com uma postura ambígua frente aos postulados classicistas, o que o situa nas origens do movimento romântico.
Contemporâneo de Géricault e de Delacroix, Ingres nasceu em Montauban em 1780, tendo prolongado em plena época romântica o gênero clássico e acadêmico. Estudou na Academia de Toulouse, antes de se mudar em 1797 para Paris, onde foi aluno de Jacques Louis David.
Desprezando os temas épicos, multiplica as tranquilas evocações da mitologia grega ou romana ou da Antiguidade, permitindo-se, porém, deformar os corpos de modo audacioso, longínquo precursor do cubismo.
Ao longo de uma carreira coberta de honrarias, Ingres se adaptou habilmente a todos os regimes políticos. Pintou Napoleão I em Uniforme de Gala e, depois, à época da Restauração, cultiva o gênero “trovador” com pequenos quadros que exaltam a monarquia: Henri IV Brincando com Seus Filhos; Francisco I e Leonardo da Vinci, sem falar de uma tela mostrando Luis XIII colocando a França sob a Proteção da Virgem.
Ingres se destaca entra pintores de todas as épocas como retratista. Em 1832, o célebre retrato do impressor Bertin exprime melhor que um longo discurso a dureza e a determinação da burguesia ao tempo de Luis-Felipe I, o “rei burguês”. Sob Napoleão III, prevalecem as crinolinas – tecido resistente, originalmente feito de crina, usado com o fim de dar volume às saias – e retratos de grandes damas.
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Considerado um dos maiores da história, Ingres pintou quadros de políticos franceses de diversas épocas e regimes
Burguês sóbrio e marido amante, Ingres, no entanto, envolvia sua pintura de um erotismo desconcertante refletido em A Grande Odalisca e na A Banhista de Valpinçon, pintada aos 30 anos e retomado meio século depois com Banho Turco.
Nessas obras, assim como em A Fonte, uniu o domínio da expressividade a uma sensualidade contagiosa que conferiu às telas em boa parte de sua atração. Era considerado o melhor pintor de seu tempo, tendo passado à história da arte como um gênio da pintura acadêmica.
Em 1801 ganhou o Prêmio de Roma com Aquiles e os Enviados de Agamenon, mas não pode ir à Itália para recebê-lo. Começou a trabalhar em Paris, atendendo encomendas privadas, em especial retratos, como Mademoiselle Riviere. Não lhe faltaram pedidos, em particular da colônia francesa e de Napoleão para quem decorou seu palácio na Cidade Eterna.
Depois de uma estada de 4 anos em Florença a partir de 1820, regressou a Paris. Em 1824, o Voto de Luis XIII foi exposto no Salão de Paris ao lado de O Massacre de Quios de Delacroix. O contraste entre ambas as obras conferiu um grande prestígio a Ingres, que abriu um ateliê na capital francesa, trabalhando incansavelmente até sua morte.
Além de obras alegóricas de grande envergadura – A Apoteose de Homero, para o Louvre ; O Sonho de Ossian – e de quadros mitológicos, pintou nus femininos, que foram sua grande especialidade e que perpetuaram seu nome.
Também nesta data:
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1963 – De Gaulle veta entrada do Reino Unido à CEE
(*) A série Hoje na História foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.