O The New York Times começa a publicar em 13 de junho de 1971 excertos dos assim chamados “Papéis do Pentágono”, uma investigação ultrassecreta do Departamento de Defesa sobre o envolvimento dos Estados Unidos na Guerra do Vietnã.
Os papéis indicavam que a Casa Branca vinha mentindo ao povo norte-americano durante anos sobre conflito. Os papéis danificaram seriamente a credibilidade da política externa de Washington durante a Guerra Fria.
Em 1967, o Secretário de Defesa Robert McNamara ordenou aos seus auxiliares que preparassem uma cronologia com profundidade sobre o envolvimento dos EUA na Guerra do Vietnã. McNamara logo começou a alimentar sérias dúvidas sobre a política de Washington no país asiático.
O estudo – papéis do Pentágono – corroborou seus receios. Memorandos ultrassecretos, relatos e documentos indicavam que o governo mentia sistematicamente ao povo, enganando-o quanto aos objetivos e progresso na guerra em curso.
O volumoso e devastador levantamento permaneceu trancado por anos nos cofres do Pentágono. Em 1971, Daniel Ellsberg, um funcionário do Departamento de Defesa, que se voltara totalmente contra a guerra, começou a vazar, às escondidas, trechos. Depois de oferecer sem sucesso os documentos a proeminentes opositores da guerra no Senado, Ellsberg entregou-os ao NYT.
Em 13 de junho de 1971, o público pôde ler assombrado sobre como o envolvimento do país no sudeste da Ásia cresceu num período de três décadas. A publicação dos papéis adicionou mais combustível ao poderoso movimento antiguerra e levou o governo do presidente Richard Nixon à paranoia acerca da “filtração” da informação.
Nixon tentou impedir o prosseguimento da publicação, contudo, em 30 de junho a Suprema Corte decidiu que o jornal tinha direito de publicar a matéria.
A interminável Guerra do Vietnã já havia erodido a credibilidade governamental, mas a publicação dos “Papéis do Pentágono” mostrou à opinião pública a verdadeira extensão de como e quanto o governo havia manipulado e mentido.
Alguns dos exemplos mais dramáticos foram os documentos indicando que a administração Kennedy havia abertamente encorajado e participado na derrubada do presidente do Vietnã do Sul, Ngo Dinh Diem, em 1963; que a CIA acreditava que a “teoria do dominó” não se aplicava à Ásia e que o pesado bombardeio do Vietnã do Norte não tinha tido absolutamente nenhum impacto à disposição dos comunistas de continuar a luta, ao contrário do que dizia a Casa Branca.
Oficialmente denominado “A História do Processo de Decisão dos EUA sobre o Vietnã”, os papéis desvendaram comunicados, recomendações e decisões bem guardados a respeito do papel militar do país no Vietnã durante os governos Kennedy e Johnson, assim como a fase diplomática dos anos Eisenhower.
A publicação criou um furor nacional, com repercussão no Congresso e na diplomacia, quando todos os setores do governo debatiam quanto ao que se considerava “material classificado” e o quanto poderia ser tornado público.