Enquanto Israel se prepara para uma invasão terrestre no Líbano, o Hezbollah disse nesta segunda-feira (30/09) estar preparado para combater o invasor e prometeu prosseguir sua luta em “apoio a Gaza”, apesar da morte do seu líder Hassan Nasrallah.
“Se o inimigo vier por terra, nossos guerrilheiros estão prontos para resistir a eles”, disse o número dois do movimento islamista libanês, Naim Qasem. Ele afirmou que o grupo escolherá “o mais rápido possível” o sucessor de Nasrallah, que morreu na sexta-feira (27/09) em um bombardeio israelense nos subúrbios do sul de Beirute.
Fontes militares israelenses ouvidas pelo jornal Washington Post afirmaram que Israel está planejando uma operação terrestre limitada no Líbano que pode começar em breve. Já o ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, disse que a “próxima fase da guerra contra o Hezbollah começará em breve e permitirá que os moradores do norte retornem para casa”.
Para o cientista político e professor de relações internacionais Bruno Beakini, a invasão terrestre do Líbano pode ser a única possibilidade de ampliar o cenário do conflito, “considerando que as perdas do lado sionista serão muito grandes”.
“A intenção de fundo é atrair o Irã para uma guerra total e também aproveitar esse período antes das eleições presidenciais nos Estados Unidos. Sinceramente não creio que uma invasão por terra seja vitoriosa para o apartheid, mas de fato pode incendiar ainda mais todo o cenário da região. Além das forças da resistência libanesa, é possível contar com 40 mil voluntários que entrariam através de Golã e ajudariam a defesa do território”, disse ele ao Brasil de Fato.
Ele considera que uma eventual invasão do Líbano por terra demonstra confiança excessiva por parte do gabinete do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, após os ataques realizados contra o território libanês nas últimas semanas.
“Em geral o Estado sionista realiza bombardeios de saturação e destruição ampliada antes de entrar por terra. O que pode ocorrer é a extrema confiança de que teriam sabotado as comunicações do Hezbollah e isso aumenta a confiança de que, havendo uma invasão terrestre, sairiam vitoriosos”, comentou.
O Exército israelense iniciou na última semana uma campanha de bombardeios em larga escala contra o Hezbollah no Líbano, após um ano de confrontos na fronteira, com o objetivo de enfraquecer a milícia libanesa e restabelecer a segurança no norte do país. O ministro israelense Gallant, afirmou que a morte Nasrallah é um “passo importante, mas não é o final”.
“Para garantir o retorno das comunidades do norte de Israel, utilizaremos todas as nossas capacidades”, declarou Gallant durante uma visita a soldados na fronteira entre Israel e Líbano.
Ao exaurir recursos do Hezbollah, o analista Beakini aponta que “o genocídio em Gaza e a limpeza étnica na Cisjordânia – já ultrapassam os 11 mil presos desde outubro de 2023 – vão continuar”. Ele considera que Netanyahu pretende “celebrar” um ano de política genocida em Gaza, para “chocar o mundo ainda mais”.
Irã descarta enviar tropas
O Irã, um aliado essencial do Hezbollah, descartou a possibilidade de enviar combatentes ao Líbano e para Gaza. “Não é necessário enviar forças auxiliares ou voluntárias iranianos”, declarou o porta-voz da diplomacia do país, Naser Kanani, antes de acrescentar que o Líbano e os combatentes nos territórios palestinos “têm a capacidade e o poder necessários para enfrentar a agressão do regime sionista”.
A Arábia Saudita, ator importante na região, pediu respeito à “soberania e integridade territorial” do país e expressou “grande preocupação” com a intensificação do conflito entre Hezbollah e Israel, enquanto a ofensiva israelense prossegue na Faixa de Gaza.
O Hamas anunciou nesta segunda-feira que seu líder no Líbano morreu em um ataque aéreo no sul do país, onde a imprensa estatal relatou um bombardeio contra um campo de refugiados palestinos. “Fatah Sharif Abu al Amine, o líder do Hamas no Líbano e membro da direção do movimento no exterior, morreu em um bombardeio contra sua casa no campo de Al Bass, sul do Líbano”, afirma um comunicado do movimento islamista. A organização informou que ele morreu ao lado da esposa, do filho e da filha no que chama de “assassinato terrorista e criminoso”.
Bombardeio no centro de Beirute
Após vários bombardeios nos últimos dias contra os subúrbios do sul de Beirute, reduto do Hezbollah, o Exército israelense atingiu nesta segunda-feira um edifício no centro da capital libanesa, pela primeira vez num ano de escalada militar. A Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP), um grupo secular de esquerda, afirmou que três integrantes do movimento morreram no ataque.
Uma fonte das forças de segurança libanesas afirmou que ao menos quatro pessoas morreram no ataque israelense com drones contra um apartamento do Jamaa Islamiya, grupo islamista sunita libanês que apoia o Hezbollah em suas operações. Mohamed al Hos, morador da região, foi acordado por um “barulho enorme” e saiu correndo para a rua de pijama.
“As pessoas gritavam e dava para ver a poeira subindo do prédio. Estamos sendo atacados injustamente por algo com o qual não temos nada a ver. Nosso país não tem recursos para entrar em guerra”, declarou à AFP. O prédio em que ele mora também sofreu danos.
Mais de mil mortes e 100 mil deslocados
Mais de mil pessoas morreram no Líbano desde meados de setembro na ofensiva de Israel, segundo as autoridades. Além disso, o primeiro-ministro libanês Nayib Mikati afirmou que o país tem quase um milhão de deslocados, o que representaria o maior deslocamento populacional da história da nação.
A ONU afirmou que quase 100 mil pessoas – cidadãos libaneses e sírios – fugiram do Líbano para a Síria devido aos bombardeios. Na madrugada desta segunda-feira, o Exército israelense anunciou que atacou dezenas de alvos do Hezbollah na região do Bekaa, leste do Líbano e conseguiu “interceptar um projétil aéreo que entrou no território do país procedente do Líbano”.
O Ministério da Saúde libanês afirmou que seis socorristas do Comitê Islâmico da Saúde, vinculado ao Hezbollah, morreram em um ataque israelense no Vale do Bekaa.