Os Ministérios das Relações Exteriores de Itália, França, Alemanha e Reino Unido condenaram nesta segunda-feira (14/10) os recentes ataques do Exército de Israel contra as bases da Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Unifil), que feriram vários soldados da missão, em meio à violência que Tel Aviv tem promovido no país vizinho sob argumento de combater o Hezbollah.
Em uma nota conjunta, os governos expressaram “profunda preocupação” com as ações das Forças de Defesa de Israel (FDI, como é chamado o exército do país) em Beirute.
“Esses ataques devem parar imediatamente. Condenamos qualquer ameaça à segurança da Unifil”, exigiram as chancelarias, ao lembrar que qualquer “ataque deliberado” contra a missão das Nações Unidas no Líbano viola o direito humanitário internacional e a Resolução 1701 do Conselho de Segurança da ONU.
A medida colocou fim às hostilidades entre Tel Aviv e o grupo de resistência islâmica em 2006.
Roma, Paris, Berlim e Londres ainda destacaram que a proteção das forças de manutenção da paz em território libanês “é uma obrigação de todas as partes no conflito”, principalmente para que os “capacetes azuis”, como são chamados os soldados da ONU, sigam cumprindo seus objetivos.
“Reafirmamos o papel fundamental de estabilização da Unifil no sul do Líbano. Sublinhamos a importância das Nações Unidas na resolução de conflitos armados e na mitigação do impacto humanitário”, concluíram os quatro ministérios europeus.
As agressões contra a Unifil foram condenadas pela comunidade internacional, sobretudo pelos países que contribuíram com militares para a missão, como Itália e Espanha.
O Brasil também criticou o ataque, “condenando veemente”, além de reiterar “a necessidade urgente de cessação das hostilidades” no Oriente Médio.
Identificando o ato como “ataques deliberados contra integrantes de missões de manutenção da paz e instalações da ONU”, o ministério das Relações Exteriores classificou o ato como “absolutamente inaceitável”.
Até mesmo os Estados Unidos, principal aliado de Israel, expressou preocupação com os ataques aos soldados da Unifil.
O secretário de Defesa norte-americano Lloyd Austin conversou com o ministro da defesa israelense Yoav Gallant para “reiterar a importância de garantir a segurança das forças da UNIFIL e das Forças Armadas libanesas”.
“Reforcei a necessidade de mudar as operações militares no Líbano para um caminho diplomático o mais rápido possível”, declarou por meio das redes sociais.
I spoke with Israeli Minister of Defense Yoav Gallant on Oct. 13 to express my condolences for the IDF soldiers killed in a drone attack from Lebanese Hizballah today. I also reiterated the importance of ensuring the safety and security of UNIFIL forces and Lebanese Armed Forces…
— Secretary of Defense Lloyd J. Austin III (@SecDef) October 14, 2024
Netanyahu ignora pressão internacional
Nos últimos dias, a Força Interina da ONU denunciou diversos ataques de Israel contra suas bases no Líbano, país que é palco de uma ofensiva contra o Hezbollah, aliado do Hamas, em solidariedade à Gaza, há quase um mês. Mais de duas mil pessoas já morreram nos conflitos em solo libanês desde meados de setembro.
As hostilidades contra a Unifil atingiram seu auge no último domingo (13/10), quando dois tanques das FDI destruíram o portão principal e invadiram uma das bases da missão.
Dentro da sede da ONU, os tanques ficaram 45 minutos e dispararam tiros nas proximidades. A invasão configurou-se como o terceiro dia de ataques israelenses contra integrantes ou instalações da Unifil, sendo que no último sábado (12/10), o quinto soldado da ONU no Líbano foi ferido devido a violência de Tel Aviv.
Mesmo assim, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, negou nesta segunda-feira que o Exército de seu país tenha atacado deliberadamente as bases da Unifil.
Em vídeo, alegou ter pedido “repetidamente” que os membros da entidade deixassem a zona de conflito.
“A acusação de que Israel atacou deliberadamente o pessoal da Unifil é completamente falsa. É exatamente o oposto. Israel pediu repetidamente à Unifil que se afastasse do perigo. Pediu repetidamente que deixassem temporariamente a zona de combate, que fica bem ao lado da fronteira de Israel com o Líbano”, declarou o premiê.
No domingo, Netanyahu ordenou ao secretário-geral da ONU, António Guterres, para que retirasse os soldados da Unifil do lado libanês da fronteira, alegando que sua presença os tornava “reféns do Hezbollah”. Entretanto, o “pedido” direcionado à autoridade da organização internacional foi realizado depois que o quinto soldado da ONU foi ferido.
No mesmo dia, o primeiro-ministro do Líbano, Najib Mikati, condenou seu homólogo israelense pela exigência a Guterres, afirmando que seu aviso representa ”um novo capítulo na abordagem do inimigo de não cumprir as [normas] internacionais”.
“A melhor maneira de garantir a segurança do pessoal da Unifil é que a Unifil atenda ao pedido de Israel e saia temporariamente do caminho do perigo”, insistiu Netanyahu.
Momentos depois da declaração do premiê do regime sionista, o chefe da Unifil, Jean-Pierre Lacroix, garantiu que suas forças permanecerão em todas as posições no Líbano.
“Foi tomada a decisão de que a Unifil permaneceria atualmente em todas as suas posições, apesar dos apelos feitos pelas Forças de Defesa de Israel para desocupar as posições que estão nas proximidades da Linha Azul”, disse o representante da ONU.
(*) Com Ansa