O Salão do Livro de Turim, principal feira literária da Itália, rompeu o contrato com a editora Altaforte, cujo fundador pertence ao partido neofascista CasaPound e que publica livros com apologia ao líder fascista Benito Mussolini.
O evento acontece entre 9 e 13 de maio, e a Altaforte havia alugado um estande para lançar um livro-entrevista com o ministro do Interior e vice-premier italiano, Matteo Salvini, do partido ultranacionalista Liga.
A participação da editora, no entanto, recebera uma série de críticas por causa de sua proximidade com o ideário fascista. Entre outras obras, a Altaforte já publicou volumes que exaltam o “testamento espiritual” de Mussolini e a “revolução fascista” e até uma versão em história em quadrinhos dos diários do ditador na Primeira Guerra Mundial.
A decisão de tirar a editora do evento foi tomada após pressões da Prefeitura de Turim e da Região do Piemonte, fundadoras e acionistas do Salão do Livro e governadas, respectivamente, pelo antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S) e pelo centro-esquerdista Partido Democrático (PD).
“É necessário tutelar o Salão do Livro, sua imagem, sua marca democrática e o sereno desenvolvimento de um evento acompanhado por milhares de pessoas”, diz uma nota dos governos municipal e regional.
A própria Prefeitura de Turim já havia denunciado o fundador da Altaforte, Francesco Polacchi, por apologia ao fascismo – ele é autor de frases como “eu sou fascista”, “o antifascismo é o verdadeiro mal deste país” e “Mussolini é o maior estadista italiano”.
A presença da editora na feira literária motivara um boicote de personalidades e instituições culturais, incluindo o museu do campo de extermínio nazista de Auschwitz-Birkenau, na Polônia.
“Nós pagamos pelo estande e entraremos com uma ação. E, obviamente, venceremos”, disse Polacchi, que negou ser “racista” e “antissemita”, mas não “fascista”. O fundador da Altaforte ainda prometeu lançar o livro-entrevista com Salvini no próximo sábado (11/05), em Turim, mas o local não foi definido.
Reações
A escritora polonesa Halina Birenbaum, sobrevivente do Holocausto, participou da abertura do Salão do Livro nesta quinta-feira (09/05) e elogiou a exclusão da Altaforte. “Agradeço pela decisão corajosa que me permitiu estar aqui”, declarou Birenbaum, que anunciara um boicote ao evento no início da semana.
Já Salvini criticou a medida. “A minoria de esquerda se dá o direito de decidir quem pode fazer música, quem pode fazer teatro, quem pode publicar livros”, disse o ministro durante um comício em Pesaro, acrescentando que a “censura e a queima de livros” não deram certo no passado.
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Salão do Livro de Turim excluiu editora de partido neofascista italiano