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Meio Ambiente

No Pantanal, animais que sobrevivem ao fogo enfrentam fome

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Após incêndios que já destruíram 22% do bioma em 2020, animais perambulam desorientados em busca de água e comida, e voluntários tentam amenizar sofrimento

Nádia Pontes

Deutsche Welle Deutsche Welle

2020-09-23T14:32:00.000Z

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Com a cauda queimada e as patas muito feridas, o jupará que acaba de chegar ao Centro de Medicina e Pesquisa de Animais Silvestre (Cema), na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), é mais uma vítima das queimadas no Pantanal.

Sandra Ramiro, coordenadora do centro, diz que o caso é bastante grave. "É uma fêmea, chegou muito desidratada e ainda está se estabilizando", comenta a médica veterinária sobre o animal, também chamado de macaco-da-meia-noite em algumas regiões. Foi Ramiro quem recebeu na madrugada desta terça-feira (22/09) o jupará resgatado e levado da zona do fogo a Cuiabá pela Polícia Ambiental.

Três antas gravemente feridas e encaminhadas ao hospital da universidade, infelizmente, não sobreviveram. Um filhote de veado-catingueiro que teve as quatro patas queimadas ainda resiste sob os cuidados dos veterinários e com amamentação artificial.

"A grande dificuldade é a gravidade de cada lesão. São queimaduras de segundo e terceiro graus que comprometem ligamento e causam exposição óssea, já que a pele é consumida pela queimadura", comenta Ramiro.

O estresse que o atendimento gera nesses animais silvestres também complica o tratamento. São necessárias bandagens por longo tempo nas regiões afetadas e uso de pomadas específicas.

"Quando existe possibilidade de tratamento alternativo, a gente trabalha em parceria com instituições", afirma a veterinária. Foi o que aconteceu com duas onças pintadas que a UFMT acolheu e logo encaminhou à NEX, ONG que trabalha com felinos ameaçados de extinção. Chamados de Amanaci e Ousado, os animais recebem aplicações de células-tronco, e o quadro de saúde tem evoluído, segundo a equipe.

Mas as cenas de terror geradas pelo sofrimento dos animais no Pantanal mato-grossense permanecem. Dados atualizados pelo Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) estimam que pelo menos 22% do bioma foram perdidos para o fogo em 2020.

Terra arrasada e fome

"O mais difícil é a todo momento encontrar cadáveres carbonizados. E pensar no sofrimento que o animal teve. Eram jacarés e outros que estavam ali, vivendo em equilíbrio", lamenta Carla Sassi, veterinária que atua no Grupo de Resgate de Animais em Desastres (GRAD).

De Poconé a Porto Jofre, no Mato Grosso, as equipes voluntárias, que contam atualmente com nove pessoas, ajudam a matar a fome e a sede da fauna que sobrevive às chamas.

Depois da devastação provocada pelos incêndios, a ameaça crescente é a da chamada fome cinzenta.

"Os animais perambulam desorientados em busca de água e comida. O fogo acabou com quase toda a reserva [de comida], eles não têm o que comer", explica Sassi.

Para trazer um pouco de alívio, os voluntários montaram 72 pontos de abastecimento. Eles têm servido de refúgio para animais como lontra, jabuti, iguana, serpentes, entre outros.

Lula Marques/Fotos Públicas
"Nunca vimos nada igual", diz veterinária que atua na região do Pantanal

Mesmo os que são encontrados vivos e aparentemente saudáveis já começam a emagrecer devido à escassez de alimento, segundo os voluntários. "Não dá para imaginar, para mensurar, quantos morreram e quantos ainda vão morrer neste período. Estamos arrasados, mas a equipe tenta se manter firme e forte", diz Sassi.

À base de doações, o GRAD foi formado em 2011 e já atuou em diversas situações, como a tragédia naquele ano provocada por deslizamentos de terra em Nova Friburgo; após o colapso das barragens de mineração em Mariana, em 2015, e em Brumadinho, em 2019; durante as queimadas no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros; e após enchentes.

"Mas nunca vimos nada como o que está acontecendo no Pantanal. É muito surreal", afirma Sassi, que também destaca os desafios logísticos, como a falta de diversas pontes na estrada que foram consumidas pelo fogo.

Além do GRAD, outras organizações estão de plantão no Pantanal e atuam sob coordenação da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, que ativou no fim de agosto um posto de atendimento emergencial para os animais silvestres resgatados.

Desde então, foram atendidos espécies como tuiuiú (a ave símbolo do bioma), garça, iguana, jabuti, jaguatirica, queixada, anta, maritaca, cachorro-do-mato, veado, paca, gavião, ariranha, coruja, quati, lontra, tamanduá.

Até a chuva chegar

Em Poconé, Fernando Tortato, biólogo e pesquisador da ONG Panthera, que trabalha com pesquisa científica e monitoramento de onças-pintadas no Brasil, fez de tudo para proteger o maior trecho possível do habitat desse felino ameaçado.

Na fazenda usada para pesquisa, que tem 10 mil hectares, as equipes tentaram impedir a propagação do fogo na área de natureza preservada onde as onças vivem. "Tentamos defender de 5 mil a 6 mil hectares, mas supomos que conseguimos garantir 3 mil", diz Tortato.

Um dos momentos mais difíceis, relata o biólogo, foi quando as chamas "pularam" de uma margem à outra do rio Cuiabá, vencendo 150 metros de água, e queimaram um terreno considerado importante.

O que foi preservado pode garantir a sobrevivência de algumas espécies. "Até a chuva chegar, até a vegetação começar a se recompor, será um período muito triste, porque muitos animais vão morrer de fome ou terão muita dificuldade. Cada hectare que conseguimos proteger fará uma diferença muito grande", justifica o biólogo.

Em média, uma onça fêmea precisa de 10 km² para viver, o macho percorre até 30 km². Alguns, por outro lado, ocupam até 100 km². Essa área pode ser compartilhada com fêmeas e alguns outros machos num sistema hierárquico.

O fenômeno da destruição da temporada de queimadas mais severa já registrada no Pantanal ainda se desenrola. "Ainda é cedo para dizer quantos animais morreram. Tudo ainda está acontecendo. Respostas mais claras só virão no ano que vem", finaliza Torato.

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Política e Economia

Guaidó é acusado de pedir desbloqueio de US$ 53 milhões aos EUA para governo paralelo

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Valor seria 'orçamento anual' do gabinete do líder opositor, denuncia Jorge Rodríguez, presidente do Poder Legislativo

Michele de Mello

Brasil de Fato Brasil de Fato

Caracas (Venezuela)
2021-04-13T22:50:00.000Z

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O presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Jorge Rodríguez, denunciou nesta terça-feira (13/04) que o ex-deputado Juan Guaidó pode desbloquear US$ 53, 2 milhões (cerca de R$265 milhões) nos Estados Unidos para manter a estrutura do governo paralelo. 

Segundo Rodríguez, Guaidó e seus aliados enviaram um orçamento anual ao Escritório de Controle de Bens Estrangeiros (OFAC - sigla em inglês), unidade do Departamento do Tesouro, que libera os dólares diretamente das contas venezuelanas em bancos nos EUA.

O montante seria dividido entre o gabinete da presidência de Guaidó, os seus escritórios de Assuntos Exteriores, deputados da antiga Assembleia Nacional, que seriam parte do seu “Conselho Administrativo”, e o canal TV Capitólio, responsável por cobrir atividades da oposição.

Somente para gastos pessoais do ex-deputado Juan Guaidó teriam sido indicados US$ 2 milhões. Os repasses atingem membros dos quatro maiores partidos da oposição, chamado G4: Vontade Popular, Primeiro Justiça, Ação Democrática e Um Novo Tempo.

Com base em gravações telefônicas do ex-deputado Sergio Vergara, assessor de Guaidó, a AN pode ter acesso aos detalhes do esquema de desvio de dinheiro público venezuelano.

Vergara foi um dos assessores de Guaidó que assinou o contrato com a empresa militar Silverscorp para colocar em prática a Operação Gedeón – tentativa de invasão paramilitar de maio de 2020.

Desde 2019, a Casa Branca reconhece o opositor Juan Guaidó como presidente encarregado da Venezuela, deixando sob sua responsabilidade o gerenciamento dos ativos públicos venezuelanos nos Estados Unidos, incluindo a maior empresa pública da Venezuela no exterior: Citgo Petroleum, filial da Pdvsa. 

A Citgo é avaliada em US$ 7 bilhões e tem uma capacidade de refino de 759 mil barris de petróleo anualmente.  Entre 2015 e 2017, teve um lucro de cerca de US$ 2,5 bilhões (R$ 10 bilhões). No esquema revelado por Jorge Rodríguez, a diretoria da Citgo teria acesso a US$ 1,15 milhão do orçamento.

Presidente da AN apresentou detalhes do esquema de desvio do dinheiro público venezuelano por parte da oposição aliada a Guaidó

O valor depositado nas contas dos opositores deveria servir para pagar gastos com transporte, alimentação, segurança e seus salários, como assessores políticos nomeados pelo autoproclamado Guaidó. 

"Esse dinheiro tem servido para comprar suas mansões em Miami. Roubar é a única atividade na qual Guaidó teve êxito", declarou o presidente do Legislativo.  

Neste ano, a OFAC solicitou ao setor guaidosista recortar o "orçamento" e este seria o motivo da reunião liderada por Vergara, que detalhou o passo a passo do repasse do dinheiro no exterior à oposição.   

Em resposta ao pedido do Departamento do Tesouro, Guaidó teria encerrado o programa "Heróis da Saúde", criado em 2020, para oferecer um bônus de US$ 100 como recompensa aos profissionais que trabalham no combate à pandemia na Venezuela. 

"Eles se roubam entre eles mesmos", acusa Rodríguez e aponta que, neste momento, há uma disputa dentro da oposição venezuelana entre Juan Guaidó e Leopoldo López, do partido Vontade Popular, contra Júlio Borges (Primeiro Justiça) e Henry Ramos Allup (Ação Democrática), para liderar o bloco opositor de extrema-direita e ter prioridade no acesso aos recursos financeiros. 

A Venezuela denuncia que possui US$ 7 bilhões bloqueados em entidades bancárias nos Estados Unidos e na União Europeia.

O governo venezuelano denuncia que Guaidó não cumpre com acordos assinados no ano passado para o desbloqueio de parte do dinheiro público que seria destinado para um fundo de combate à pandemia, gerenciado pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).

Na última semana, Guaidó conseguiu sacar cerca de US$ 30 milhões (aproximadamente R$ 150 milhões) dos fundos depositados em Londres para cobrir gastos pessoais, mas se negou a liberar as reservas de ouro venezuelano retidas no Banco da Inglaterra.

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