Na Itália, um alerta vermelho meteorológico foi emitido em várias regiões devido à onda de calor sem precedentes, que deve continuar nas próximas semanas. A Sicília, com sua população de cinco milhões de habitantes e suas empresas agrícolas, é a mais afetada por uma seca severa que já dura 18 meses, devido à baixa precipitação. Algumas regiões francesas se preparam para enfrentar esta semana uma das maiores ondas de calor de 2024.
As terras aráveis sicilianas estão se transformando em deserto. Todo o setor de cítricos está ameaçado de extinção. A colheita teve que começar em julho e os criadores de gado e cabras não conseguem mais alimentar seus animais adequadamente, devido à falta de ração e água.
Quanto à população, ela está sujeita a um racionamento drástico de água potável em cerca de cem municípios, incluindo Agrigento e Palermo. Tudo isso em um momento em que as temperaturas estão acima de 40°C e o calor é ainda mais sufocante, com níveis de umidade acima de 70%.
Uma crise do “ouro azul”
A Sicília é um triste exemplo do desperdício do uso de fundos públicos, inclusive quando se trata de água. Mais de 55% da água fornecida às redes é perdida devido ao seu gerenciamento desastroso e à falta de manutenção de todas as infraestruturas.
Nos últimos 17 anos, sucessivos governadores da região tiveram à sua disposição € 3,5 bilhões para resolver problemas crônicos, como barragens e tubulações. Mas o dinheiro se evaporou, muito antes de chegar à água. Considerando que 50% das redes têm mais de 50 anos e que a média nacional de perda de água para uso doméstico é de 42%.
O Ministério da Infraestrutura italiano alocou € 900 milhões para lidar com a emergência. Mas para evitar o colapso de todo o sistema de água, seriam necessários € 176 bilhões.
Ameaça na França
A onda de calor deve aumentar entre segunda e terça-feira em direção à metade norte da França e às instalações olímpicas na região parisiense. Quarenta e uma regiões francesas estão sob vigilância.
A onda de calor atinge o nível máximo na metade sul da França. De acordo com a agência Météo-France, essa primeira onda de calor do ano pode fazer com que as temperaturas subam acima de 40°C na região do Midi, em Toulouse (sudoeste), no interior de Gard e Hérault (sul), e na região de Nouvelle-Aquitaine (sudeste).
Em Marselha, a cidade-sede dos eventos de vela de Paris 2024, o domingo já foi marcado por um dia muito quente e úmido. Os espectadores foram convidados a trazer suas toalhas e trajes de banho, já que a área de recepção da marina olímpica incluía uma praia com boias, jogos para crianças e caiaques.
Por outro lado, os atletas tiveram que esperar sob o sol para que o vento aumentasse, como Erwan Fischer e Clément Péquin, campeões mundiais franceses na categoria 49er, que ficaram na água por quase seis horas.
“Precisamos nos reidratar e também temos toalhas com cubos de gelo. Podemos tentar controlar um pouco a sombra com as velas ou com um guarda-sol” trazido no barco dos técnicos, explicou Erwan Fischer.
Segundo Matthieu Sorel, climatologista da Météo-France, “As ondas de calor são uma manifestação emblemática de nossas mudanças climáticas, e estão se tornando cada vez mais intensas, frequentes, precoces e longas”, declarou durante uma coletiva de imprensa no sábado.
Na região de Paris, onde a maioria dos eventos olímpicos ocorre, “o pico do calor está previsto para terça-feira, quando as temperaturas máximas ficarão em torno de 34-35 graus”, explicou Tristan Amm, meteorologista da Météo-France. Nessa área, “as noites de terça para quarta e de quarta para quinta serão bastante quentes. O mercúrio terá dificuldade para cair abaixo de 20 graus”, acrescentou.