Vazamento de petróleo contamina rio: entenda emergência ambiental no Equador
Derramamento atinge Esmeraldas e compromete abastecimento de água na região, povoada por comunidades afrodescendentes que sofrem negligência governamental
Um vazamento de petróleo no Equador contaminou o rio Esmeraldas, na província de mesmo nome, no noroeste do país. O desastre ambiental levou o governo a decretar emergência ambiental na sexta-feira (14/03), diante do que autoridades locais classificaram como “danos sem precedentes”.
O derramamento ocorreu devido a um deslizamento de terra que comprometeu a estrutura de um oleoduto do Sistema de Oleoduto Transequatoriano (SOTE), operado pela estatal Petroecuador.
O petróleo bruto se espalhou rapidamente pelo Rio Esmeraldas, contaminando a principal fonte de água para milhares de pessoas e expondo as profundas desigualdades que afetam principalmente as comunidades afrodescendentes.
O prefeito da cidade de Esmeraldas, Vilko Villacís, alertou para os impactos da contaminação, especialmente na captação de água. O bombeamento do rio foi suspenso e a população enfrenta uma grave escassez de água potável, enquanto autoridades locais orientaram à economia e buscam alternativas para garantir o fornecimento à cidade de mais de 200 mil habitantes.
“Estamos enfrentando danos sem precedentes. A poluição é imparável”, alertou o prefeito, enquanto moradores de El Vergel e comunidades vizinhas relatam como o petróleo manchou plantações, poços e até mesmo recipientes usados para coletar água da chuva.
Nas margens poluídas do Rio Esmeraldas, famílias afrodescendentes historicamente marginalizadas agora enfrentam o medo de doenças, perda de meios de subsistência e um futuro incerto sem água limpa.
O impacto ecológico é devastador para um ecossistema que conecta a Amazônia ao Oceano Pacífico. Biólogos alertam que os hidrocarbonetos do petróleo sufocarão a vida aquática, envenenarão microrganismos essenciais e contaminarão os solos por décadas. Para os pescadores locais, a crise é imediata.
Resposta da empresa
A Petroecuador afirmou ter ativado um plano de contingência para conter o vazamento, mas ainda não divulgou a quantidade de petróleo derramado.
No último domingo (16/03), a empresa informou que 25 tanques de San Mateo fornecerão água potável para Esmeraldas. A companhia também distribuiu mais de 3.600 litros de águas em garrafas e 30 mil litros através de tanques para a população.
Também revelou que foram colhidas amostras de água, em diferentes profundidades da região, “para análises laboratoriais que permitirão avaliar a qualidade do líquido”.
Enquanto isso, afirma que está “trabalhando ininterruptamente na contenção e limpeza de petróleo, bem como na dotação segura de água em Esmeraldas”.

Incidente em Esmeraldas reacende debate nacional sobre modelo extrativista
“Desde a ativação do Plano de Emergência e Contingência, as autoridades implementaram ações técnicas, ambientais e sociais para controlar o impacto do evento e proteger as comunidades e os ecossistemas afetados”, revelou o mais recente boletim.
O presidente da Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie), Leônidas Iza, exigiu uma “resposta responsável e urgente” perante a crise.
Desastre Ambiental!! Esmeraldas enfrenta una tragedia ambiental por un derrame de petróleo, dejando a miles de familias sin acceso a agua. El crudo destruye la vegetación, afecta la vida marina y golpea la producción de campesinos y pescadores.
Esta crisis exige una respuesta… pic.twitter.com/mABJ8cWSJN
— Leonidas Iza Salazar (@LeonidasIzaEc) March 16, 2025
“Não basta distribuir kits de alimentos. É essencial implementar medidas imediatas para mitigar a poluição. Minha solidariedade ao povo de Esmeraldas”, declarou o líder indígena que disputou o primeiro turno das eleições presidenciais no país, em fevereiro.
Dependência do petróleo e riscos ambientais
A emergência revela fraturas históricas mais profundas. O cantão de Esmeraldas, onde 70% da população é afrodescendente, sofre décadas de negligência governamental, carece de sistemas de prevenção de deslizamentos de terra, infraestrutura de tratamento de água e tem hospitais superlotados.
“O petróleo flui desses territórios, mas não há escolas ou estradas decentes aqui”, reclamam os líderes comunitários. Os ativistas ressaltam que essa vulnerabilidade não é acidental, mas sim o resultado de um modelo que concentra a exploração de recursos em áreas empobrecidas, ignorando suas necessidades básicas.
O incidente reacende o debate nacional sobre o modelo extrativista. O Equador, o quarto maior produtor de petróleo da América Latina, depende de hidrocarbonetos do petróleo para financiar serviços públicos e pagar sua dívida externa.
O Equador produz cerca de 475 mil barris de petróleo por dia, sendo 72% destinados à exportação. O SOTE, maior oleoduto do país, tem capacidade para transportar 360 mil barris diários ao longo de 497 quilômetros, atravessando as regiões da Amazônia, Serra e Costa do Pacífico.
Embora o governo tenha acionado protocolos de emergência, desastres como esse evidenciam os riscos da dependência econômica do país em relação à extração de petróleo. Nos últimos anos, comunidades indígenas e ambientalistas têm denunciado o impacto da exploração petrolífera sobre os ecossistemas amazônicos e o risco de contaminação de rios e aquíferos.
Antes deste, outros três vazamentos no SOTE em 2020 já contaminaram a área e as promessas de reparos não foram cumpridas.
(*) Com Brasil de Fato e TeleSUR
