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Memória

Em Tempo: um jornal para enfrentar a ditadura de modo contundente

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Publicação que surgiu como uma dissidência do jornal Movimento passou a ser um veículo de tendência interna do Partido dos Trablhadores

Lucas Estanislau

2018-05-04T11:40:00.000Z

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Insatisfeitos com os rumos editoriais que o jornal Movimento tomava e desgastados por rachas políticos, alguns jornalistas da publicação decidiram deixar o jornal para fundar outro periódico com o qual se identificariam. Em janeiro de 1978, o jornal Em Tempo foi lançado com a proposta de combater a ditadura expondo suas contradições internas - e que prenunciavam o fim do regime.


Leia aqui todas as reportagens da série Memórias da Imprensa Alternativa no Brasil

O jornalista Bernardo Kucinski, que teve um papel de mediador entre Fernando Gasparian e Raimundo Pereira na fundação do Opinião, e fora um dos principais colaboradores do Movimento, liderou a elaboração do Em Tempo e se tornou editor-chefe do jornal.

Para ele, os posicionamentos políticos e partidários causavam desentendimentos entre grupos de jornalistas da redação do Movimento, o que levou, inclusive, a sua saída do jornal. “O Em Tempo foi um dos últimos da imprensa alternativa, oriundo da insatisfação de uma parte dos trabalhadores do Movimento. Então ele já assumiu, ao contrário dos anteriores, um formato standard e não 'nanico'. Isso já refletia um espaço maior nas bancas”, afirma Kucinski. Na maior parte dos casos, os jornais da imprensa alternativa eram impressos em formato tabloide, com tamanhos menores de páginas e diferentes do tamanho padrão (standard).

Outro jornalista envolvido na criação do Em Tempo foi o fotógrafo Ennio Brauns. Trabalhando na redação do jornal O Globo no Rio de Janeiro, Brauns foi convidado pelo jornalista Marcelo Beraba, que já colaborava com o jornal, para integrar a equipe logo no início do periódico.

“Eu vim do Rio para cá para fotografar para o jornal, que se propunha a enfrentar a ditadura de uma forma contundente”, explica o fotográfo.

Do 'listão' para a história

Segundo Kucinski, o jornal Em Tempo se destacou por certas coberturas inéditas, até mesmo para os padrões da imprensa alternativa da época. O jornalista lembra que alguns dos principais assuntos tratados foram os rachas internos do regime militar e a reestruturação e criação dos partidos políticos de oposição à ditadura.

“Em meados de 1978, o regime militar já dava sinais de enfraquecimento, principalmente pelas disputas internas entre os militares. Nós demos muito destaque aos rachas, coisa que ninguém podia acompanhar pela imprensa burguesa”, explica Kucinski.

No âmbito da luta democrática de esquerda, o jornalista lembra os vários caminhos que se vislumbravam na época. "Tinha o Almino Afonso fundando um partido socialista em Portugal para ser implementado no Brasil, o [Leonel] Brizola organizando a volta, o PT e o Lula surgindo no horizonte e isso tudo ganhou destaque em nossa cobertura."

Reprodução
Publicação que surgiu como uma dissidência do jornal Movimento passou a ser um veículo de tendência interna do Partido dos Trablhadores

Para Brauns, a cobertura do movimento sindical, principalmente das greves do ABC de 1979 e 1980, foi marcante na história do Em Tempo. Ele destaca que uma das principais apurações que já realizou foi a da greve dos metalúgicos da Villares, fábrica localizada em Santo Amaro, zona sul de São Paulo. "Encontrei um buraco na grade da fábrica, entrei, e comecei a fotografar os trabalhadores parados na frente das máquinas, que era o que eu queria desde o início", conta. Brauns foi abordado por dois seguranças da fábrica, questionando por onde o fotógrafo tinha entrado. "Eles me pediram para acompanhá-los até uma salinha e eu me recusei. Dei as costas e comecei a correr entre os operários procurando uma saída e não conseguia encontrar. Não tive dúvidas, joguei minha bolsa por cima da grade e pulei", lembra Brauns.

Em julho de 1978, o jornal Em Tempo publicou uma lista feita por presos políticos da ditadura com os nomes de 233 torturadores que trabalhavam para o regime militar. Para Kucinski, este foi o "verdadeiro début do jornal". “A publicação do 'listão' dos torturadores colocou-o na história da imprensa alternativa brasileira”, disse.

Reprodução

 Para Brauns, a cobertura do movimento sindical, principalmente das greves do ABC de 1979 e 1980, foi marcante na história do Em Tempo.

Em Tempo e a Democracia Socialista

Porém, ainda que a cobertura do periódico fosse ampla e essencial para o período político, o Em Tempo começava a dar sinais de enfraquecimento. Distribuído muitas vezes pelos próprios jornalistas que trabalhavam na redação, o jornal nasceu com a contribuição de acionistas interessados em apoiar a imprensa de oposição à ditadura. Com o decorrer do tempo, no entanto, a falta de recursos e os rachas internos devido a posições políticas - assim como no Movimento - acabaram tirando o fôlego da publicação.

Para Kucinski, “em certos momentos, havia um excesso de democratismo, do tipo que atrapalha o andamento de uma redação. Tudo tinha que ser discutido e votado, então o editor perdeu a razão de ser”. Em meados dos anos 1980, o jornalista deixou o cargo que ocupava no Em Tempo para se tornar um colaborador eventual.

Durante o processo de abertura da ditadura civil-militar, a militância de esquerda então se voltou para o movimento sindical, devido ao fôlego que as greves dos metalúrgicos do ABC traziam para a luta democrática. Nesse contexto, os grupos políticos que compunham a redação do jornal Em Tempo também se aproximaram dos sindicalistas e se envolveram na criação do Partido dos Trabalhadores. Brauns conta que trabalhou no jornal até meados de 1983, “quando o Em Tempo amplia sua aproximação ao PT e inicia o processo para se tornar uma publicação de tendência interna do partido”.

No ano de 1986, o jornal Em Tempo passa a ser oficialmente o periódico da Democracia Socialista, tendência interna do PT que foi criada em 1979 pelos grupos que militavam em torno da publicação. Ele circulou com esse nome até o ano de 2004, quando passou a se chamar Democracia Socialista, mesmo nome da corrente. Sua versão impressa existiu até 2014 e, depois disso, deu lugar à revista teórica de mesmo nome que circula até hoje.

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Constituinte no Chile

'Base de um Chile mais justo', diz presidente da Constituinte na entrega de texto final

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Ao cumprir um ano de debate, Convenção Constitucional encerra trabalhos com entrega de nova Carta Magna a voto popular

Michele de Mello

Brasil de Fato Brasil de Fato

São Paulo (Brasil)
2022-07-04T21:39:54.000Z

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Aconteceu a última sessão da Constituinte chilena nesta segunda-feira (04/07) com a entrega de uma nova proposta de Constituição para o país. 

"Esta proposta que entregamos hoje tem o propósito de ser a base de um país mais justo com o qual todos e todas sonhamos", declarou a presidente da Convenção Constitucional, María Elisa Quinteros. 

Após um ano de debates, os 155 constituintes divulgaram o novo texto constitucional com 178 páginas, 388 artigos e 57 normas transitórias.

O presidente Gabriel Boric participou do ato final da Constituinte e assinou o decreto que convoca o plebiscito constitucional do dia 4 de setembro, quando os chilenos deverão aprovar ou rechaçar a nova Carta Magna.

"Hoje é um dia que ficará marcado na história da nossa Pátria. O texto que hoje é entregue ao povo marca o tamanho da nossa República. É meu dever como mandatário convocar um plebiscito constitucional, e por isso estou aqui. Será novamente o povo que terá a palavra final sobre o seu destino", disse.

No último mês, os constituintes realizaram sessões abertas em distintas regiões do país para apresentar as versões finais do novo texto constitucional. A partir do dia 4 de agosto inicia-se a campanha televisiva prévia ao plebiscito, que ocorre em 4 de setembro. 

Embora todo o processo tenha contado com ampla participação popular, as últimas pesquisas de opinião apontam que a nova proposta de constituição poderia ser rejeitada. Segundo a pesquisa de junho da empresa Cadem, 45% disse que votaria "não", enquanto 42% dos entrevistados votaria "sim" para a nova Carta Magna. No entanto, 50% disse que acredita que vencerá o "aprovo" no plebiscito de setembro. Cerca de 13% dos entrevistados disse que não sabia opinar.

Reprodução/ @gabrielboric
Presidente da Convenção Constitucional, María Elisa Quinteros, e seu vice, Gaspar Domínguez, ao lado de Gabriel Boric

"Além das legítimas divergências que possam existir sobre o conteúdo do novo texto que será debatido nos próximos meses, há algo que devemos estar orgulhosos: no momento de crise institucional e social mais profunda que atravessou o nosso país em décadas, chilenos e chilenas, optamos por mais democracia", declarou o chefe do Executivo. 

Em 2019, Boric foi um dos representantes da esquerda que assinou um acordo com o então governo de Sebastián Piñera para por fim às manifestações iniciadas em outubro daquele ano e, com isso, dar início ao processo constituinte chileno.

Em outubro de 2020 foi realizado o plebiscito que decidiu pela escrita de uma nova constituição a partir de uma Convenção Constitucional que seria eleita com representação dos povos indígenas e paridade de gênero.

"Que momento histórico e emocionante estamos vivendo. Meu agradecimento à Convenção que cumpriu com seu mandato e a partir de hoje podemos ler o texto final da Nova Constituição. Agora o povo tem a palavra e decidirá o futuro do país", declarou a porta-voz do Executivo e representante do Partido Comunista, Camila Vallejo.

A composição da Constituinte também foi majoritariamente de deputados independentes ou do campo progressista. Todo o conteúdo presente na versão entregue hoje ao voto público teve de ser aprovado por 2/3 do pleno da Convenção para ser incluído na redação final.

Com minoria numérica, a direita iniciou uma campanha midiática de desprestígio do organismo, afirmando que os deputados não estariam aptos a redigir o novo texto constitucional. Diante dos ataques, o presidente Boric convocou os cidadãos a conhecer a fundo a nova proposta, discutir de maneira respeitosa as diferenças e votar pela coesão do país, afirmando não tratar-se de uma avaliação do atual governo, mas uma proposta para as próximas décadas. 

"Não devemos pensar somente nas vantagens que cada um pode ter, mas na concordância, na paz entre chilenos e chilenas e pela dignidade que merecem todos os habitantes da nossa pátria", concluiu o chefe de Estado.

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