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Memória

Versus: arte, literatura e cinema contra a ditadura militar

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Jornal existiu entre 1975 e 1979, deu voz ao movimento feminista, à luta dos negros e buscava integração latino-americana por meio das artes e da literatura; jornal trazia o Afro Latino América como suplemento

Lucas Estanislau

2018-05-31T13:20:00.000Z

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Um jornal que politizava a cultura e tratava a política por um viés cultural, elaborado em uma redação que abrigou militantes perseguidos pela ditadura civil-militar brasileira, que serviu de berço para o nascimento do Movimento Negro Unificado (MNU), para a estreia do jornal feminista Nós, Mulheres e como ponto de encontro para inúmeras reuniões em busca da democracia. Esse era o Versus: criado e dirigido pelo jornalista gaúcho Marcos Faerman, o jornal abria os olhos e as páginas para a América Latina e criticava a ditadura de maneira fina e inteligente.

Leia aqui todas as reportagens da série Memórias da Imprensa Alternativa no Brasil

Edição nº01 de Versus - ReproduçãoFundado em 1975, o Versus se propunha a debater a conjuntura política do Brasil e de outros países latino-americanos utilizando as artes, a literatura, música e cinema. Reunindo grandes autores contemporâneos como Pablo Neruda, Gabriel Garcia Marquez, Eduardo Galeano e Julio Cortázar, o jornal trazia histórias de heróis como Simon Bolívar e José Martí, estampadas em capas coloridas, com desenhos de alto nível e ensaios fotográficos.

Natural de Porto Alegre, Faerman já era um jornalista experiente e premiado quando iniciou a aventura de montar o Versus. Começou a carreira no gaúcho Última Hora e, por mais de 20 anos, trabalhou como repórter no extinto Jornal da Tarde, onde recebeu, em 1974, o Prêmio Esso de jornalismo. Militante do movimento estudantil, membro do PCB (Partido Comunista Brasileiro) e um dos fundadores do POC (Partido Operário Comunista), Faerman gostava do confronto político e queria fazer do Versus um ponto de partida para a pluralização da ideias e da resistência contra os militares.

Assim, em 1977, quando a jornalista Neusa Maria Pereira leva para o Versus um manifesto que ela havia escrito sobre a discriminação sofrida pela mulher negra no Brasil, o editor do jornal vê ali uma oportunidade de disseminar ainda mais o debate sobre a resistência e dar voz a todos os grupos que estivessem participando da luta democrática.

Afro Latino América

“Quando eu levei o manifesto lá, eles me convidaram para montar uma seção dentro do jornal que discutisse e cobrisse a causa negra no Brasil e na América Latina”, conta Neusa. A jornalista então convidou seus amigos de militância para darem início ao Afro Latino América, espécie de suplemento dentro do Versus que dava destaque à causa negra e combatia a noção falaciosa, criada pelo governo militar, de democracia racial.

Para a jornalista, uma das fundadoras do MNU (que começou com reuniões no porão da redação do jornal), a atitude de Faerman e dos editores do Versus, de cederem as páginas do jornal para o Afro Latino América, “foi altamente revolucionária, inclusive dentro da esquerda que, naquela época, não enxergava a luta dos negros como parte da revolução”.

Dos panteras negras aos quilombos brasileiros, da discussão do 13 de maio aos debates teóricos, o Afro Latino América não poupava esforços em se debruçar sobre as questões caras ao movimentos negro e enfrentar a ditadura militar. “Nós estávamos fazendo isso há 40 anos. Fomos abraçados pelo Versus, que nos forneceu uma base teórica muito grande e nos colocou em contato com uma literatura muito importante”, lembra Neusa.

Por dentro do Versus

Além de fundar e dirigir o periódico, Faerman colaborou com o carioca O Pasquim, e ajudou a criar o jornal Ex, publicação irreverente inspirada em jornais internacionais. Para Rachel Moreno, colaboradora do Versus durante dois anos e fundadora do jornal feminista Nós, Mulheres, a importância do Versus e de Faerman para a imprensa alternativa brasileira foi “gigantesca”. “Marcão era uma figura muito inteligente, um visionário. Um grande jornalista, com um texto impecável”, lembra a jornalista.

Vizinha da redação do jornal, Rachel descobriu que o Versus funcionava na rua de cima onde morava e começou a frequentar o local, assim como muitos estudantes, artistas e intelectuais da época. “Eu me lembro de encontrar passeando por lá o Gilberto Gil, Geraldo Vandré, Chico Buarque e muitas outras personalidades da época, o que mostrava que o Versus não era só um jornal, era um foco de resistência democrática”.

Reprodução

“Marcão era uma figura muito inteligente, um visionário. Um grande jornalista, com um texto impecável”, lembra Rachel Moreno

A publicação bimestral ganhou as bancas também por sua proposta estética inovadora, que trazia desenhos nas capas coloridas impressas em papel couchê, ensaios fotográficos de cunho político e outros recursos gráficos que ganhavam muito destaque no Versus com cartunistas como Chico e Paulo Caruso, Angeli e Luiz Gê. Em sua melhor fase, em 1977, o jornal chegou a vender 35 mil exemplares, contando com assinaturas, vendas de mão em mão e distribuição em bancas.  

Em 1978, com os efeitos da abertura política patrocinada pelo governo de Ernesto Geisel (1974-1979), a organização trotskista Convergência Socialista, que já orbitava em torno do jornal, assume o comando da publicação e o Versus muda sua linha editorial, tomando rumos políticos mais definidos. No mesmo ano, após dirigir a publicação por 24 números, Faerman deixa o jornal, que encerrou suas atividades no ano seguinte, em 1979. Hoje, todas as edições que foram dirigidas por Marcos Faerman estão digitalizadas em um site dedicado a preservar a memória do jornalista.

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Constituinte no Chile

'Base de um Chile mais justo', diz presidente da Constituinte na entrega de texto final

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Ao cumprir um ano de debate, Convenção Constitucional encerra trabalhos com entrega de nova Carta Magna a voto popular

Michele de Mello

Brasil de Fato Brasil de Fato

São Paulo (Brasil)
2022-07-04T21:39:54.000Z

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Aconteceu a última sessão da Constituinte chilena nesta segunda-feira (04/07) com a entrega de uma nova proposta de Constituição para o país. 

"Esta proposta que entregamos hoje tem o propósito de ser a base de um país mais justo com o qual todos e todas sonhamos", declarou a presidente da Convenção Constitucional, María Elisa Quinteros. 

Após um ano de debates, os 155 constituintes divulgaram o novo texto constitucional com 178 páginas, 388 artigos e 57 normas transitórias.

O presidente Gabriel Boric participou do ato final da Constituinte e assinou o decreto que convoca o plebiscito constitucional do dia 4 de setembro, quando os chilenos deverão aprovar ou rechaçar a nova Carta Magna.

"Hoje é um dia que ficará marcado na história da nossa Pátria. O texto que hoje é entregue ao povo marca o tamanho da nossa República. É meu dever como mandatário convocar um plebiscito constitucional, e por isso estou aqui. Será novamente o povo que terá a palavra final sobre o seu destino", disse.

No último mês, os constituintes realizaram sessões abertas em distintas regiões do país para apresentar as versões finais do novo texto constitucional. A partir do dia 4 de agosto inicia-se a campanha televisiva prévia ao plebiscito, que ocorre em 4 de setembro. 

Embora todo o processo tenha contado com ampla participação popular, as últimas pesquisas de opinião apontam que a nova proposta de constituição poderia ser rejeitada. Segundo a pesquisa de junho da empresa Cadem, 45% disse que votaria "não", enquanto 42% dos entrevistados votaria "sim" para a nova Carta Magna. No entanto, 50% disse que acredita que vencerá o "aprovo" no plebiscito de setembro. Cerca de 13% dos entrevistados disse que não sabia opinar.

Reprodução/ @gabrielboric
Presidente da Convenção Constitucional, María Elisa Quinteros, e seu vice, Gaspar Domínguez, ao lado de Gabriel Boric

"Além das legítimas divergências que possam existir sobre o conteúdo do novo texto que será debatido nos próximos meses, há algo que devemos estar orgulhosos: no momento de crise institucional e social mais profunda que atravessou o nosso país em décadas, chilenos e chilenas, optamos por mais democracia", declarou o chefe do Executivo. 

Em 2019, Boric foi um dos representantes da esquerda que assinou um acordo com o então governo de Sebastián Piñera para por fim às manifestações iniciadas em outubro daquele ano e, com isso, dar início ao processo constituinte chileno.

Em outubro de 2020 foi realizado o plebiscito que decidiu pela escrita de uma nova constituição a partir de uma Convenção Constitucional que seria eleita com representação dos povos indígenas e paridade de gênero.

"Que momento histórico e emocionante estamos vivendo. Meu agradecimento à Convenção que cumpriu com seu mandato e a partir de hoje podemos ler o texto final da Nova Constituição. Agora o povo tem a palavra e decidirá o futuro do país", declarou a porta-voz do Executivo e representante do Partido Comunista, Camila Vallejo.

A composição da Constituinte também foi majoritariamente de deputados independentes ou do campo progressista. Todo o conteúdo presente na versão entregue hoje ao voto público teve de ser aprovado por 2/3 do pleno da Convenção para ser incluído na redação final.

Com minoria numérica, a direita iniciou uma campanha midiática de desprestígio do organismo, afirmando que os deputados não estariam aptos a redigir o novo texto constitucional. Diante dos ataques, o presidente Boric convocou os cidadãos a conhecer a fundo a nova proposta, discutir de maneira respeitosa as diferenças e votar pela coesão do país, afirmando não tratar-se de uma avaliação do atual governo, mas uma proposta para as próximas décadas. 

"Não devemos pensar somente nas vantagens que cada um pode ter, mas na concordância, na paz entre chilenos e chilenas e pela dignidade que merecem todos os habitantes da nossa pátria", concluiu o chefe de Estado.

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