Como falar de cinema em plena ditadura? Na base do “drible”. Esta é a conclusão do livro Crítica de cinema e repressão – Estética e política no jornal alternativo Opinião (Alameda, R$ 68), da pesquisadora e professora da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) Margarida Adamatti, que pesquisou como o jornal Opinião conseguia publicar textos de críticas cinematográficas em um ambiente de forte repressão dos censores do regime.
Adamatti, entrevistada por Opera Mundi, diz que analisou todo o material da seção de cinema do semanário para entender quais eram as “estratégias” para que os textos pudessem passar.
“Me interessava saber como o projeto editorial fazia denúncias contra o autoritarismo e comentava sobre os filmes censurados brasileiros. [..] O Sérgio Augusto, por exemplo, pegava o nome do Ferreira Gullar e colocava outro nome. Na gráfica, ele colocava de novo o nome do Gullar”, disse Adamatti.
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A pesquisadora ainda afirmou que, em algumas ocasiões, o jornal era censurado e os editores deixavam um quadro em branco (no local onde o texto deveria estar) com os dizeres “Leia-se em Opinião“.
O livro, que foi lançado em outubro deste ano, foi o resultado da pesquisa de doutorado de Adamatti. No entanto, a professora disse que se “espantou” ao publicar seu trabalho. “[Temos] avaliações da Ancine (Agência Nacional do Cinema) que relacionam se tem partido político e se tem religião, isso é retrocesso. E esse retrocesso também está dentro das redações de jornais”, diz
Reprodução
Margarida Adamatti analisou todo o material do semanário e de como era a relação do jornal com os censores do regime
Assista à entrevista: