No dia 18 de setembro de 1980, há exatos 40 anos, a noite escura da cidade de Baikonur, no Cazaquistão, foi iluminada pelas chamas da decolagem do foguete que levou o primeiro astronauta cubano e latino-americano ao espaço.
Tripulada pelo piloto da Força Aérea de Cuba Arnaldo Tamayo e seu parceiro soviético Yuri Romanenko, a missão Soyuz 38 deixou o cosmódromo de Baikonur às exatas 19 horas e 11 minutos (horário local), partindo para uma estada de sete dias na base orbital Salyut 6.
O feito só foi possível graças ao programa espacial Intercosmos, iniciativa liderada pela então União Soviética (URSS) que visava a cooperação entre os países socialistas e aliados na exploração espacial. O projeto, que começou em 1978 e foi encerrado em 1988, chegou a contar com 14 cosmonautas (o nome soviético para astronautas) de países como Vietnã, Mongólia, Afeganistão e Síria.
Com Tamayo, era a vez da ilha de Cuba ter um dos dos seus no espaço. O jovem “guantanamero” (natural da província de Guantánamo), que ficara órfão aos oito meses de vida e fora criado pela avó, ingressou na Força Aérea cubana logo após o triunfo da Revolução, em 1959, e terminou sua formação como piloto em Moscou.
Durante o episódio que ficou conhecido como a Crise dos Mísseis, quando a URRS instalou armas balísticas defensivas em território cubano em 1962, Tamayo participou de várias operações de reconhecimento para interceptar aeronaves norte-americanas.
Chegou ao posto de tenente coronel em 1976 e dois anos depois, em 1978, após uma criteriosa seleção que envolveu 40 experientes pilotos cubanos, Tamayo foi escolhido para integrar a missão que seria a 12ª expedição à estação espacial internacional Salyut 6.
Após a decolagem naquele 18 de setembro de 1980, os cosmonautas teriam 8 horas de descanso para completar a jornada até a Salyut 6. O cubano, entretanto, conta que apenas aproveitou metade do tempo para dormir, utilizando as outras 4 horas para tirar fotos e observar as belezas do universo.
Reprodução/Presidencia Cuba
Tamayo fez parte da Souyz 38 ao lado do soviético Yuri Romanenko
“Se essa é a única oportunidade de estar no cosmos, não vim aqui para dormir”, relembrou Tamayo em entrevista recente ao Cubadebate.
Uma vez em órbita a bordo da estação espacial, o objetivo de Tamayo e seu companheiro soviético Romanenko era realizar experimentos para investigar a chamada “doença do espaço”, complicações comum entre astronautas durante a adaptação à microgravidade.
Entretanto, o momento mais marcante da jornada do cubano aconteceu ainda no trajeto até a Salyut 6, quando a espaçonave sobrevoou sua terra natal.
“Atravessamos a ilha de Cuba no dia 19 de setembro, por volta das sete da manhã. Tive pouco tempo para observá-la, apenas alguns segundos, mas havia poucas nuvens, o que nos permitiu enxergá-la muito bem. Foi um momento muito emocionante, de grande alegria”, diz Tamayo.
De volta à Terra, após uma aterrisagem bem sucedida no dia 26 de setembro, os povos cubano e soviético receberam os exploradores com festa. Os cosmonautas visitaram Havana no dia 10 de outubro, quando foram recepcionados pelo então presidente Fidel Castro, que os acompanhou em cortejo até a Praça da Revolução saudados pelo povo nas ruas.
Tamayo ainda foi condecorado com as medalhas de Herói da União Soviética e de Herói Nacional de Cuba, honraria criada naquele ano em sua homenagem.
“Depois de 40 anos, continuamos a celebrar os resultados do voo, da ciência cubana na preparação das experiências e o triunfo de um programa criado pelo socialismo”, conta o cosmonauta cubano.